Em um “lugar deserto e sem habitações, situado a três léguas de Natal”, um homem identificado como Mateus Moreira exclamou, prestes a ter o coração arrancado pelas costas: “Louvado seja o Santíssimo Sacramento”.
[img align=left width=300]http://www.folhagospel.com/imagem/papa_francisco_2013.jpg[/img]Horas antes, na mesma região, uma menina de sete anos suplicava pela vida do pai, Estêvão Machado de Miranda. Mas não conseguiu demover os assassinos.
Não só o pai, como duas irmãs, acabaram mortos.
Eles estão entre as 30 vítimas identificadas no episódio conhecido como massacre de Cunhau e Uruaçu, no Rio Grande do Norte, em 1645, época da dominação holandesa, e poderão ser oficialmente declarados santos neste ano.
O passo mais importante em direção a isso, a confirmação do papa Francisco, saiu na semana passada, 17 anos após terem sido beatificados pelo papa João Paulo 2º.
Em audiência concedida ao prefeito da Congregação das Causas dos Santos, cardeal Angelo Amato, Francisco aprovou os votos favoráveis à canonização, que é a inscrição no rol dos santos.
A expectativa agora é que a data da cerimônia seja divulgada em abril, diz o arcebispo de Natal, dom Jaime Vieira.
Para ele, a canonização “é um momento de renovação espiritual, de revalorização dos valores cristãos”.
As vítimas são os primeiros mártires do Brasil.
[b]MASSACRES
[/b]
Os crimes foram registrados em 1645, durante a dominação holandesa no Nordeste do país, e tiveram como alvos as duas únicas comunidades paroquiais que existiam na região.
O episódio é descrito pelo monsenhor Francisco de Assis Pereira no livro “Beato Mateus Moreira e seus Companheiros Mártires”.
Segundo a narrativa, os crimes foram praticados em um contexto de perseguição religiosa em que os invasores holandeses, que eram calvinistas, não admitiam a prática da religião católica.
Os algozes teriam sido soldados holandeses e índios comandados por um alemão, a serviço da Holanda e identificado como Jacó Rabe.
As chacinas deixaram cerca de 150 vítimas, mas só 30 foram identificadas.
Para serem declarados beatos e posteriormente santos, três elementos são considerados, segundo a igreja: as virtudes em grau heroico, a fama de santidade e a realização de possíveis milagres.
“Mas o papa autorizou um processo mais simples, dispensando milagres, tendo em vista a antiguidade do martírio”, diz o arcebispo de Natal.
A Igreja não exige comprovação de milagres para a canonização, mas ao menos 5.000 cartas foram enviadas à arquidiocese atribuindo a eles “graças alcançadas”.
[b]Fonte: Folha de São Paulo[/b]