Quando o papa Bento XVI afirmou na exortação apostólica Sacramentum Caritatis (Sacramento da Caridade), publicado na semana passada, que a segunda união de pessoas divorciadas é “uma verdadeira praga do ambiente social”, sua intenção foi dizer exatamente isso: que o segundo casamento é “uma praga social”. Qual deve ser a posição da Igreja Evangélica? [url=http://www.folhagospel.com/site/html/modules/xoopspoll/]Clique aqui[/url] e dê sua opinião

“É praga mesmo, é isso que o santo padre quis dizer, pois ele é muito cuidadoso na escolha das palavras”, esclareceu ao Estado, na edição desta terça-feira, 20, o bispo d. Karl Josef Romer, secretário do Pontifício Conselho para a Família, órgão da Cúria Romana presidido pelo cardeal colombiano Alfonso López Trujillo, um dos nomes mais influentes do Vaticano.

D. Romer, um suíço que foi auxiliar do cardeal d. Eugenio Sales na Arquidiocese do Rio antes de ser transferido para Roma, observou que “o importante é saber que a palavra praga, usada pelo papa, não se refere à pessoa, mas à fragilidade do casamento, que hoje parece menos sólido, como se pudesse ser desfeito depois de algum tempo”.

A praga social à qual se referiu Bento XVI, acrescentou o secretário do Pontifício Conselho para a Família, deve ser entendida como uma doença contagiosa ou um tecido social doente que afeta não apenas o homem e a mulher que se separam e partem para um segundo casamento, mas toda a família e, principalmente, os filhos.

“Ninguém pode garantir que, se o primeiro casamento não deu certo, a segunda união vá ser melhor, o que, no entanto, pode acontecer”, disse d. Romer, lamentando que muitos católicos pensam que isso seja normal. “Tanto que fazem isso com facilidade, o que significa um desafio pastoral para a Igreja”, acrescentou o bispo.

Termo traduzido pelo Vaticano

Escrito em latim, como indica o título tirado das primeiras palavras do texto, a exortação apostólica Sacramentum Caritatis usa no original a palavra plaga, traduzida pelo Vaticano por praga em português, piaga em italiano, plaga em espanhol, plage em alemão, plaie em francês, plag em polonês e scourge em inglês.

Em todas essas línguas, a palavra significa não apenas praga ou flagelo, mas também ferida ou chaga (que, aliás, vem de plaga em latim).

Endereçada a toda a Igreja – aos bispos, padres, religiosos e religiosas, diáconos e leigos, conforme consta da introdução -, a exortação apostólica é um documento assinado pelo papa que reafirma a doutrina católica e traz orientações para todos os fiéis.

Para d. Joaquim Justino Carreira, coordenador da Pastoral Familiar na Arquidiocese de São Paulo, a polêmica criada pelo texto de Bento XVI foi exagerada e amplificada pela mídia. “O povo entendeu como se o papa tivesse rogado uma praga e não foi nada disso”, diz. O bispo explica que a palavra praga pode ser “chocante”, mas “Bento XVI condenou o pecado e não o pecador”.

Polêmica não preocupa padres

A polêmica afirmação de Bento XVI sobre a segunda união de pessoas divorciadas não parece causar preocupação no meio religioso. “Pelo que li do documento, não tem nada de polêmico”, diz o padre Renato Cangianeli, da Catedral da Sé, em São Paulo. Por enquanto, nenhum fiel lhe questionou sobre o teor do documento – se o termo usado é “praga” ou “chaga” – ou sobre a controversa afirmação.

Para o padre Luiz Spolti, da Igreja Nossa Senhora Aparecida, em Moema, a afirmação soou mal, mas a culpa é do exagero da mídia. “Os meios de comunicação, às vezes, se apegam a afirmações fora do contexto.” A maioria das 13 igrejas procuradas pelo Estado nem tocou no assunto em missas do fim de semana

Fonte: Estadão

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