A pressão para que o papa Bento use sua viagem à Turquia neste mês para reconstruir as relações entre o Vaticano e o mundo muçulmano vem crescendo. Dois novos acontecimentos nesta semana, tiros contra o consulado italiano em Istambul e a notícia de que o primeiro-ministro Tayyip Erdogan não vai encontrá-lo durante a visita, adicionaram tensão à viagem, de 28 de novembro a 1° de dezembro.
O mundo muçulmano se revoltou em setembro, quando Bento 16 citou o texto de um imperador bizantino que denuncia o islã como violento. O pontífice lamentou o fato diversas vezes, mas isso não diminuiu a raiva no Oriente Médio, nem na Turquia, de maioria muçulmana.
“A maioria da sociedade turca ficou muito brava com seu discurso (na Universidade) de Regensburg, mas muita gente considera sua visita como uma chance para o papa explicar suas próprias idéias sobre o islã”, disse Cemal Usak, ativista muçulmano na Turquia, envolvido há muito tempo no debate entre religiões.
“Acho que ele pode compensar suas falhas em relação ao islã durante a visita.”
Na quinta-feira, um jovem turco muçulmano disparou tiros em frente ao consulado italiano em Istambul para protestar contra a visita do papa, dizendo para ele ficar longe do país.
O Vaticano procurou minimizar o protesto e o fato de Erdogan não pode se encontrar com o papa, por estar muito ocupado.
Diálogo
“Achamos que (a visita do papa) é uma boa chance para desenvolver boas relações”, disse Muhammad Dormuhammad, secretário-geral do Conselho de Imãs do Quênia, que esteve em uma conferência religiosa em Istambul.
O padre Francois Yakan, de Istambul, ex-capital bizantina cristã conquistada pelos turcos otomanos, que são muçulmanos, em 1453, disse que a visita vai abrir um diálogo muito necessário.
“A visita do papa vai acalmar um pouco as coisas e melhorar as relações entre a Europa e o islã”, disse o patriarca da Igreja Católica Caldéia. “Não espere milagres aqui.”
Será a primeira visita do papa Bento 16 a um país muçulmano desde que foi nomeado, em abril de 2005.
Há duas semanas, 38 líderes muçulmanos mandaram uma carta aberta a Bento 16 dizendo o que consideraram errado ou tendencioso nas declarações feitas sobre o Islã em Regensburg.
Nacionalistas turcos e ativistas islâmicos suspeitam que o objetivo da visita seja incentivar a fé entre os não-muçulmanos e pediram o cancelamento da viagem.
Mesmo antes das declarações do papa, os turcos já sentiam desconfiança em relação a Bento 16, porque antes de se tornar sumo pontífice ele disse que a Turquia, por não ser um país cristão, não poderia entrar na União Européia.
O principal objetivo da visita é encontrar-se com o patriarca ecumênico Bartolomeu, chefe espiritual dos 300 milhões de cristãos ortodoxos.
Fonte: Último Segundo