Um papa na televisão conversando com diretores de canais… Eis um exercício do qual Bento 16 parece gostar bastante. Assim como ele fizera antes da sua visita na Polônia, em maio, ele concedeu uma entrevista, na noite de domingo (13/08) – um mês antes da sua viagem para a Bavária (de 9 a 14 de setembro) -, a três televisões alemãs (Bayerischer Rundfunk, ZDF e Deutsche Welle).

Tratou-se tanto de um “manifesto” quanto de uma entrevista, escreveu Mario Politi no diário “La Repubblica” de 14 de agosto. Na ocasião, o papa manifestou sua ansiedade diante do recuo da fé cristã na Europa, e frente à “polifonia” das culturas e das religiões. Mas ele descarta todo discurso crispado, tal como aquele que valia críticas a João Paulo 2º: “O cristianismo não é uma soma de proibições, e sim uma opção positiva”, afirmou. Essa reorientação já pôde ser percebida durante as Jornadas mundiais da juventude em Colônia, um ano atrás, e, mais tarde, por ocasião da sua visita a Valência (Espanha) em julho. Essa entrevista veio confirmar a nova abordagem do Vaticano.

Bento 16 reconhece que é “difícil acreditar em Deus”, por causa da “onda drástica de secularização e de laicismo”. Esta avaliação é particularmente acurada para o Ocidente, o qual se encontra ameaçado na sua identidade: “O Ocidente vem sendo fortemente questionado por outras culturas, nas quais o elemento religioso é muito marcado, e que se mostram horrorizadas com a frieza que elas constatam no Ocidente em relação a Deus”. O papa não aponta nominalmente para o Islã, nem para as espiritualidades orientais, mas é fácil entender a deixa.

Ele procura tranqüilizar a si mesmo e aos fiéis, constatando um “retorno” do religioso entre os jovens, muitos dos quais manifestam “a necessidade de algo maior” do que a sociedade material. Portanto, existe uma chance que deve ser agarrada, observa o papa: a Igreja precisa mudar a forma do seu discurso, enfatizando a “formação” e nem tanto a norma moral.

Por exemplo, a respeito da Aids, da contracepção ou da explosão demográfica – assuntos em relação aos quais a opinião só se lembra da condenação do preservativo por João Paulo 2º -, o sucessor do papa polonês explica: “Se for ensinada apenas a maneira de construir e de utilizar técnicas – por exemplo as formas de utilizar contraceptivos -, então não há por que ficar espantado ao deparar-se com mais guerras ou mais epidemias de Aids. É preciso, paralelamente, formar os corações, ou seja, permitir que o homem adquira referências, e ensinar-lhe a empregar corretamente as técnicas”.

Segundo ele, surgiu uma outra chance que não deve ser desperdiçada: a evolução da configuração demográfica do cristianismo (2 bilhões de fiéis), e que passou a contar um maior número de seguidores no hemisfério Sul. “Nós não devemos capitular nem nos queixar, reclamando que nós não passamos hoje de uma minoria”, conclui Bento 16. “Vamos tentar proteger o nosso número reduzido e estabelecer novas relações, de modo a receber dos outros, forças novas. Um número cada vez maior de padres indianos e africanos passou a atuar na Europa ou no Canadá!”

Não ceder à tentação do encolhimento que estaria ameaçando os católicos: esta mensagem do papa constitui uma reviravolta.

Fonte: Le Monde

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