O culto de inauguração do templo, que é maior do que o do Recife, mas ainda fica longe do, do Rio de Janeiro, a Catedral Mundial da Fé, que comporta 12 mil pessoas, está sendo cercado de curiosidade por parte de quem passa pela maior avenida da cidade de João Pessoa e vê o prédio ficando pronto.
Às 8h30 de uma manhã de quinta-feira, um movimento frenético dá o tom do ritmo de trabalho no escritório montado ao lado do Templo da Fé, que está sendo construído pela Igreja Universal do Reino de Deus na Avenida Epitácio Pessoa, em João Pessoa. A correria tem uma explicação: a menos de dez dias da inauguração da primeira fase do projeto, que acontece no próximo domingo, dia 4, ainda havia muito a ser feito. A casa precisa estar pronta para receber 5,1 mil pessoas que poderão se acomodar confortavelmente no templo – isso só dentro da nave, sem contar os outros espaços.
A pergunta mais freqüente por parte de quem passa pelo local, principalmente os que não são fiéis, é simples: como se consegue erguer um prédio tão grande e tão imponente em tão pouco tempo? “Dedicação ao serviço ao Senhor”, é a resposta do pastor responsável pela obra, Ismael de Mendonça.
O complemento a esta resposta é: fidelidade no pagamento do dízimo e nas doações. “Tudo que está erguido aqui é fruto da fidelidade do povo de Deus, não contamos com nenhuma ajuda do governo e até nas burocracias temos que, às vezes, percorrer caminhos mais longos, que nós cumprimos para não ter nenhum problema depois”, garante o pastor. Ismael é do Rio de Janeiro, mas veio morar na Paraíba há 3 anos e meio, depois de concluir a obra da Catedral de Manaus, no Amazonas. Seu trabalho é percorrer o Brasil erguendo novos templos, todos com o mesmo padrão observado em João Pessoa, uma forma de reduzir custos na obra.
Não há como não se impressionar com as proporções do edifício. Estudiosos da Bíblia dão conta de que elas correspondem ao templo de Salomão, que foi o primeiro de Jerusalém, construído no século 11 antes de Cristo e funcionava como um local de culto religioso judaico para a adoração a Jeová, Deus de Israel, e também onde se ofereciam os sacrifícios. Mas o pastor Ismael se fecha como uma concha na hora de dar detalhes sobre as medidas da construção. “Já chamam a gente de ladrão de graça, imagina se eu disser os números dessa obra? Vou municiar quem não entende nada para falar ainda mais da igreja de Deus, porque estes dados não importam para quem vem em busca de auxílio espiritual”, justifica.
Capacidade supera a das católicas
Para se ter uma idéia, o novo Templo da Fé tem capacidade para reunir cinco vezes a quantidade de pessoas que cabem em uma das maiores igrejas católicas de João Pessoa, a matriz da paróquia de Santa Júlia, na Torre, que fica a menos de um quilômetro do templo da Universal. E enquanto a paróquia está completando 15 anos de obras para reconstruir a igreja, que não comportava mais seus fiéis, com um orçamento estimado em R$ 700 mil, o templo evangélico foi erguido em menos de um ano. Como os recursos para Santa Júlia também são provenientes da doação da comunidade, é possível fazer um comparativo entre o comportamento dos dois públicos na hora de contribuir com a igreja.
É aí que começa uma das polêmicas que mais atingem os seguidores da Universal. “Falam de um jeito da gente que parece que fomos nós que inventamos o dízimo, mas ele é um preceito bíblico e todas as igrejas praticam, talvez apenas com menor intensidade”, reclama o pastor Ismael. De acordo com informações da Arquidiocese da Paraíba, existe uma política de incentivo à doação do dízimo na igreja Católica, que seria equivalente a 10% dos rendimentos mensais do fiel, mas que ninguém é obrigado a fazer a doação.
Ismael acredita que a diferença seja, porque o fiel da Universal já entendeu que tudo que ganha vem de Deus. “É o que vem de Deus para o povo e do povo para a obra de Deus”, explica. Além disso, ele não compreende como se constroem shoppings luxuosos para que as pessoas possam gastar mais dinheiro e ninguém questiona nada, enquanto se o dinheiro for revertido para a casa de Deus, a obra gera tanta desconfiança. “É como diz no livro de Malaquias: ‘trazei todos os dízimos à casa do tesouro, para que haja mantimento da minha casa’. Se para a maioria das pessoas a casa do tesouro é o shopping, é uma pena. Para nós, é a igreja e o tesouro é o próprio Deus”, justifica.
Inauguração
Não são só os seguidores da Igreja Universal do Reino de Deus que investem em grandes templos. A Basílica Nacional de Aparecida, em São Paulo, é a segunda maior edificação católica do mundo, perdendo apenas para a Basílica de São Pedro, em Roma. A Catedral da Fé é fichinha perto da basílica: ela comporta 45 mil pessoas dentro de suas naves, quase quatro vezes mais do que o templo da Universal. Ela ocupa uma área de 23 mil metros quadrados, sendo 18 mil deles cobertos. Estima-se que foram utilizados 25 milhões de tijolos e 40 mil metros quadrados de concreto na obra, que atrai romeiros de todo o Brasil.
Garagem cabe 510 veículos
A desconfiança do pastor Ismael não permitiu que ele desse detalhes do projeto do Templo da Fé de João Pessoa, confirmando apenas que há vagas para 510 veículos estacionados e distribuídos em dois níveis, salas para uma escola bíblica infantil, berçário e trabalhos de grupos. Além disso, os estúdios de rádio e TV da igreja, que hoje funcionam em Jaguaribe, serão transferidos para lá também assim que o prédio ficar pronto. Apesar do silêncio, ele garante que as portas estarão abertas para qualquer pessoa, de qualquer credo, desde que esteja em busca de Deus.
“Eu mesmo cheguei à igreja cheio de vícios e problemas, mas fui acolhido, conheci a verdade e descobri que só posso viver na fé, tentando salvar novas almas. Não posso fazer diferença entre as pessoas”, conta, garantindo que qualquer pessoa será bem-vinda ao Templo.
Para quem está interessado em ir aos cultos de inauguração, que acontecem às 10 horas e às 18 horas do próximo domingo, dia 4, movido apenas pela curiosidade de conhecer o fundador da igreja, o bispo Edir Macedo, é melhor repensar os planos: ele não virá a João Pessoa. No lugar dele está programada a presença ainda não confirmada do bispo Romualdo Panceiro.
Este ano a Igreja Universal do Reino de Deus completa 30 anos de sua fundação. Suas atividades começaram em um coreto do Jardim do Méier, em São Paulo, porque não havia um lugar próprio para os cultos. Depois veio a locação de um galpão, o que foi considerado uma loucura, já que o valor do aluguel era muito alto. De lá para cá, a igreja do bispo Edir Macedo só cresceu: alcançou todo o Brasil, chegando na Paraíba há cerca de 20 anos, e se expandiu para outros países, sempre construindo prédios cada vez maiores e reunindo cada vez mais fiéis.
Não é à toa que a igreja teve que montar uma estrutura de empresa para dar conta do crescimento, criando a Engiurd, que há dez anos é responsável por todo o setor de engenharia da Universal. O responsável pela iniciativa é o bispo José Rocha, que aparece em um vídeo produzido especialmente para apresentar as principais obras da Igreja, falando de como a dedicação aos projetos faz a diferença. “Deus nos capacita e nos dá condição de realizar Seus planos. Não temos medo de arriscar, porque a fé é assim mesmo, acreditar no que não vemos nem entendemos”, declara.
Fonte: Jornal da Paraíba