Diversos membros da Igreja Católica e de igrejas evangélicas têm ajudado nas buscas, mas há um pastor desaparecido: Evandro Barci, de 43 anos. Também desapareceram a mulher e os dois filhos do casal.

Um rapaz contou que, na noite de quarta-feira, no morro do Bumba, ouviu um vizinho avisando que as casas iriam ser destruídas. Ele salvou-se, bem como os pais e os irmãos, mas perdeu tios e primos.

A dona de casa Auciléia de Freitas, moradora do morro do Bumba, perdeu a casa e todos os eletrodomésticos, mas ficou viva, bem como os filhos e os netos. “Agora, vou tentar refazer a vida, embora já tenha 65 anos”, disse esta empregada doméstica, com um salário que mal dá para os gastos correntes.

Muita gente tem sido encontrada rezando, com rosários nas mãos. “Pelo amor de Deus, se Deus existe ele vai dar uma força para todos aqui, porque isso é um desespero só”, declarou Maria Auxiliadora, moradora do morro do Bumba. A Igreja Universal do Reino de Deus, em geral criticada na imprensa, mostrou-se muito solidária com as vítimas: cerca de cem membros desta congregação religiosa têm passado as noites a ajudar as autoridades nas buscas e as confortar pessoas desesperadas.

A apresentadora do jornal vespertino da TV Globo, Sandra Annenberg, apareceu ontem perante os telespectadores com os olhos vermelhos. Ela confessou que, apesar da obrigação profissional, não suportou ver cenas algumas cenas muito duras, com famílias destruídas. Há casos em que um casal perdeu um bebé e outros em que os pais morreram e sobreviveu um ou outro fillho.

Outra repórter da TV Globo, Flávia Jannuzzi, relatou: “No morro do Estado, no início da cobertura, em Niterói também, a gente viu uma história de esperança: uma mulher que foi resgatada depois de ficar onze horas debaixo dos escombros, os bombeiros festejando, a imprensa festejando. Fiquei muito emocionada… Era uma senhora que estava com um filho portador de deficiência. Esse filho morreu e ela foi resgatada com vida. Todo mundo vibrou muito porque é uma história de esperança no meio de tanta tragédia.” A comoção anda à solta no Rio.

Solidariedade

Uma rede de solidariedade formou-se no Morro do Bumba, em Niterói, palco da maior tragédia em consequência das fortes chuvas que caíram no Estado do Rio de Janeiro nos últimos dias. Muitos dos voluntários são da própria comunidade, pessoas que perderam amigos e familiares, como Valdeir da Silva Fonseca, de 38 anos, cujo tio morreu no desabamento. “Estamos vivos, temos de continuar. Vim para ajudar quem ainda vive”, disse Fonseca, na porta da Igreja Apostólica Cristã, uma das muitas que se mobilizaram para recolher doações para os desabrigados.

Na mesma igreja, que entre meio-dia e 13h de sexta-feira serviu 250 refeições, Dayvison Maldonado tentava recolher roupas para vestir os quatro filhos, a mulher e a sogra. “Nem sei que dia é hoje, não sei se vou ter o que comer à noite. Só estamos sobrevivendo graças a este tipo de ajuda”, contou o contínuo.

Ele e a família estão morando desde a última terça-feira – quando a casa em que moravam foi soterrada – na casa de uma médica, que cedeu a residência para abrigá-los. “Minha mãe trabalhou na casa dela há muito tempo. Quando soube da nossa situação, nos procurou para oferecer um teto”, disse Ana Paula Francisco da Silva, de 33 anos.

Empresários

Mas não são só os vizinhos que estão solidários. Além de escolas e igrejas da região, o drama das famílias desabrigadas chamou a atenção de moradores da zona sul do Rio. É o caso do empresário Juliano Moreira, dono da Seven, uma empresa de computação gráfica com sede em Copacabana que levou todos os 70 funcionários para o bairro de Viçoso Jardim, onde fica o Morro do Bumba, para atender as vítimas da chuva. “Eu vi várias pessoas querendo ajudar, mas não sabiam como. Decidi, então, mobilizar todos aqui. Conseguimos doações, organizamos a operação e, hoje (sexta), vamos servir 500 refeições para os moradores”, vibrou Juliano, que é morador de Niterói. Além da alimentação e das roupas, o empresário levou para o bairro uma médica e duas psicólogas para o atendimento à população.

Ontem, somente um colégio particular, tradicional La Salle Instituto Abel, de Icaraí, em Niterói, doou 10 toneladas de donativos, entre roupas, alimentos e acessórios como escovas de dentes e travesseiros. As doações foram entregues em sete locais que estão funcionando como abrigo na cidade.

Fonte: Site Creio

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