De acordo com estatuto da igreja, tal relação é proibida. Um pastor e advogado da instituição teria recebido mais de R$ 2,8 milhões.

Pastores e membros da Igreja Cristã Maranata (ICM), por meio de suas próprias empresas, estabeleceram relação de negócios com a instituição, conforme revela um requerimento de ação penal pública encaminhado pelo Ministério Público do Espírito Santo (MPES) à Justiça, feito neste mês.

De acordo com o estatuto da igreja, tal relação é proibida, permitindo apenas a seus membros exercerem atividades de caráter voluntário. Um dos advogados e pastor teria recebido da igreja, segundo a denúncia, um total de R$ 2.895.319,18 em um período de cinco anos. Após a denúncia, o interventor da instituição explicou que 26 empresas que prestavam serviços para a Igreja Maranata tiveram os contratos suspensos. O interventor da Igreja Maranata explicou que vai apurar se houve pagamentos indevidos.

Pastores da Igreja Cristã Maranata são investigados pelo Ministério Público do Espírito Santo desde março de 2012, por crimes como estelionato, lavagem de dinheiro, tráfico de influência, falsidade ideológica e desvio de dinheiro público. Quatro pastores foram presos em março deste ano, apontados como agentes intelectuais que estariam interferindo no curso de investigações, ameaçando e intimidando testemunhas, e até membros do MPES e do Judiciário, mas foram soltos no fim do mesmo mês.

Dezenove membros da igreja, incluindo pastores, foram denunciados pelo MPES pelos crimes de estelionato, formação de quadrilha e duplicata simulada. Eles teriam praticado desvio de dízimo da igreja, envolvendo uma movimentação financeira de R$ 24,8 milhões, em benefício próprio, segundo o Ministério. Nove promotores integrantes do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) assinaram o pedido de abertura de ação penal pública contra os denunciados, que terão dez dias de prazo, a partir da citação judicial, para responder às acusações.

[b]Desvios[/b]

Conforme a denúncia, o estatuto da ICM – Presbitério Espírito Santense, com alteração em dezembro de 2011, “proíbe expressamente que a cúpula da Igreja mantenha serviços ou negócios comerciais com a entidade, exercendo as suas atividades em caráter de voluntariado”.

De acordo com as investigações, os valores obtidos com as doações à igreja, que deveriam ser investidos em assistência social e na manutenção de cultos (atividades beneficentes), foram desviados de sua finalidade para atender aos interesses particulares dos denunciados. Uma das pessoas acusadas explicou ao MPES que eram três escritórios de advocacia contratados pela ICM, todos pertencentes a pastores. Conforme a denúncia, cada escritório recebia valores mensais, sendo que um deles chegava a receber R$ 100 mil.

Com o objetivo de acobertar as irregularidades e justificar os gastos da instituição, o esquema usava notas fiscais superfaturadas. Apenas em uma papelaria em Vila Velha, a igreja gastou quase R$ 1 milhão. Segundo o MPES, a igreja encomendava o serviço e pedia uma nota com valor bem acima do correto. Como por exemplo, para um serviço que custasse R$ 5 mil era registrada uma nota de R$ 8 mil. No acerto de contas, a empresa ficava com os R$ 5 mil e os integrantes da igreja envolvidos no esquema levavam os R$ 3 mil de sobra.

[b]Outro lado
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No total 26 empresas que prestavam serviços para a Igreja Maranata tiveram os contratos suspensos. Eram serviços de transporte, saúde, engenharia, seguros, trabalhos de advogados entre outros. A ordem de suspender os contratos e os pagamentos foi do coronel Júlio Cezar Costa, interventor da instituição. As empresas foram citadas na denúncia do Ministério Público.

O interventor explicou que vai apurar se houve pagamentos indevidos. “Se o membro é pastor e aceitou o Ministério leigo e não remunerado, ele não receberá pela pregação. Mas se é advogado, prestou serviço e não é membro do Conselho Presbiteral e nem foi membro da diretoria executiva, ele pode receber. Vamos analisar tudo passo a passo e ao final de três semana teremos uma resposta para isso”, disse.

[b]Fonte: G1[/b]

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