O regime ditatorial da Eritréia tem planos de prestar formalmente acusação contra vários pastores protestantes presos nos últimos quatro anos. Na pequena nação africana dominada por aquilo que é considerado, por muitos, um dos mais brutais e paranóicos governos do mundo em relação à liberdade religiosa e de expressão, a pena por traição é a morte.

Os parentes e os membros das igrejas dos pastores presos estão “muito ansiosos” por causa dessas notícias não confirmadas, disse uma fonte à agência de notícias Compass.

Três dos mais importantes pastores protestantes – os líderes da Igreja do Evangelho Pleno, Haile Naizghi e o Dr. Kifle Gebremeskel; e Tesfatsion Hagos, da Igreja Evangélica Rema, estão presos há quatro anos, e incomunicáveis.

De acordo com uma reportagem investigativa publicada pela ONG Repórteres Sem Fronteiras, os três pastores “desapareceram no sistema carcerário de Eritréia desde sua prisão em maio de 2004”.

A reportagem , publicada em maio, apontou o conselheiro especial da Presidência e ministro governamental Naizghi Kiflu como “o homem, dentro do governo, encarregado de aniquilar com as igrejas”.

Em maio de 2002, Kiflu negou reconhecimento a 36 igrejas e grupos religiosos sob o pretexto de que “eles supostamente encorajam a insurreição e sustentam reder de desertores”, dizia o relatório.

As leis erítreas proíbem que um cidadão permaneça mais do que 30 dias preso sem que uma queixa seja oferecida. Apesar disso, o governo se recusa a oferecer queixa contra os pastores ou mesmo dar um motivo por prendê-los e a outra centena de membros de igrejas.

Sabe-se que, pelo menos outros 15 pastores, padres e diáconos estão entre os mais de 2.000 cristãos presos em penitenciárias, delegacias de policia e quartéis em toda Eritréia devido a suas crenças e práticas religiosas. Eles têm sido repetidamente espancados e torturados, e por vezes trancados em contêineres de metal ou em celas subterrâneas para que neguem a fé.

Prisões no Dia da Independência

Em maio, a policia invadiu uma casa e prendeu 25 cristãos que estavam reunidos no Dia da Independência para orarem pela nação.

Fontes confirmaram que 20 homens e cinco mulheres foram presos enquanto se reuniam em uma casa em Adi-Kuala, no sábado, dia 24 de maio. As 25 pessoas fazem parte do grupo Medhane, movimento de renovação espiritual da Igreja Ortodoxa Eritréia.

Os prisioneiros estão na delegacia de policia de Adi-Kuala, cidade próxima a fronteira com a Etiópia. Mas as fontes locais continuam temerosas de que as autoridades estejam planejando transferi-los ao o Wi, um centro de treinamento militar conhecido pelo tratamento brutal que dispensa aos seus prisioneiros religiosos.

Prisioneiros livres

Ao mesmo tempo, a agência Compass confirmou a libertação de dois grupos de cristãos que estavam presos há três meses. Dez membros da Igreja do Deus Vivo, denominação dissidente da Igreja Ortodoxa Eritréia, foram libertados depois de ficarem três meses presos na delegacia de policia de Mendefera.

Segundo relatos, outras 15 pessoas, membros da Igreja Kale Hiwot, que estavam presas na delegacia de policia de Keren, também foram libertadas.

Todos os cristãos libertados foram obrigados a pagar uma fiança de aproximadamente de R$ 8 mil por pessoa. Ao libertá-los as autoridades os preveniu de que não se envolvessem mais em nenhuma atividade de cunho cristão no futuro. Alguns deles foram forçados a deixar propriedades como garantia pela fiança.

Em maio de 2002, o governo do presidente Isaias Afwerki, de inclinação marxista, tornou ilegal qualquer igreja protestante independente, ordenou que os templos fossem fechados e criminalizou os cultos domésticos.

Em maio de 2005, o embaixador da Eritréia nos Estados Unidos argumentou no programa de rádio Voz da América argumentou que os protestantes independentes eram cristãos “equivalentes à al-Qaeda” e ofereciam uma ameaça terrorista para a nação.

Em princípio, a ação do governo visava apenas as congregações pentecostais e carismáticas, que crescem rapidamente no país. Entretanto, o governo também tem interferido nos assuntos internos da Igreja Ortodoxa e levado líderes eclesiásticos e leigos para a prisão, forçando a igreja a substituir seu corpo de patriarcas anciãos por um apontado pelo governo.

Desde maio de 2002, apenas as igrejas Ortodoxa, Católica e Luterana são classificadas pelo governo da Eritréia como denominações cristãs “históricas” e têm permissão para funcionar legalmente. Aproximadamente metade da população do país é muçulmana.

Fonte: Portas Abertas

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