Uma mulher que era mantida em cárcere privado há dois anos em Ceilândia, Brasília, foi finalmente libertada pela polícia. Um casal de moradores do Setor P Norte foi preso, acusado de seqüestrar e manter em condições subumanas uma mulher com problemas mentais.

Segundo a polícia, Liomar Santos Rangel, 39 anos e Valdemar Francisco Ribeiro, 45, usavam a documentação de Darlete dos Santos Coimbra, 30 anos, para movimentações financeiras e sacavam o benefício dela no Instituto Nacional do Seguro Social (INSS). Darlete foi encontrada em uma casa na QNQ 04, condomínio Pôr do Sol, em estado de desnutrição, com inchaço e escoriações nas pernas, feridas na cabeça, sinais de queimaduras e febre alta. Ela dormia no chão e não se alimentava.

Um filho da vítima, G.S.C, 9 anos, também morava com Liomar e Valdemar. Segundo a polícia, os dois fizeram uma nova certidão de nascimento para o garoto. No documento, ele aparecia com um nome diferente e como filho dos acusados, que são pastores evangélicos da Igreja Pentecostal Missão da Fé, em Ceilândia. O menino não tem sinal de ferimentos, mas estaria psicologicamente abalado. Outras moradoras do local eram três meninas de 15, 10 e 8 anos. As mais velhas têm duas certidões de nascimento cada uma, com nomes distintos e registro de paternidade diferente em cada documento. A polícia acredita que casal fazia saques em nome das meninas e usava o maior número possível de benefícios públicos na fraude.

“Em uma versão dos documentos, elas são filhas da Liomar com o Valdemar. Na outra, são filhas dela com um tal Jorge Rangel”, explica o delegado Raimundo Vanderly Alves de Melo, da 19ª DP (P Norte). Melo decidiu encaminhar as garotas ainda hoje para serem submetidas a um exame de DNA. O objetivo é ver se são de fato filhas de Liomar. “Em meio a tantas mentiras, essas meninas podem não ser filhas dela”, afirmou. Por enquanto, as menores estão em um abrigo em Taguatinga. Se forem mesmo filhas de Liomar Rangel, irão morar provisoriamente com uma irmã dela, em Samambaia. O filho de Darlete foi entregue à avó, Dalva Pereira dos Santos, 49 anos.

Denúncias

A polícia flagrou o cativeiro de Darlete dos Santos Coimbra graças a duas denúncias. Na sexta-feira passada, uma ligação anônima foi feita para o disque-denúncia da Polícia Civil, 197. Nesta segunda, foi a vez de a Secretaria Especial de Direitos Humanos (SEDH), da Presidência da República, registrar o crime.

“As duas denúncias tinham características semelhantes. Informavam o endereço da Liomar e do Valdemar e diziam que uma pessoa chamada Joana sofria maus-tratos de uma pessoa chamada Selma”, explica Lúcia Helena Teixeira, agente da 19ª DP, que conduziu as investigações.

“Fui à casa na própria sexta-feira, após a primeira denúncia. A menina de 15 anos atendeu a porta. Disse que sua mãe se chamava Liomar, mas era conhecida como Selma na vizinhança”, acrescenta a policial.

Os moradores, então, foram intimados a depor. “Na segunda-feira eles vieram. Caíram em contradição o tempo todo. Pedimos que nos acompanhassem até a casa e encontramos a Darlete, que eles diziam para os vizinhos se chamar Joana. Ela era mantida em uma garagem”, relata. De acordo com Lúcia Teixeira, tanto a vítima quanto seu filho mostravam sinais de coação e medo. O menino, mais tarde, longe de Liomar e Valdemar, afirmou que era levado por este último para ajudar em “bicos” de pedreiro. O garoto não estudava.

Darlete Coimbra conheceu Liomar Rangel e Valdemar Ribeiro quando começou a freqüentar a Assembléia de Deus na cidade de Samambaia, onde vivia com a mãe. Segundo investigações da polícia, os dois teriam convencido a jovem a viver com eles. Darlete desapareceu de casa levando o filho mais novo – ela tem outro de 12 anos – em julho de 2005.

Dias depois, telefonou para a mãe e, em tom agressivo, disse que se mudaria para a Bahia.

“Eles fizeram a cabeça dela, fizeram ela telefonar”, acredita Dalva dos Santos, mãe de Darlete, que, no ano passado, registrou queixa de desaparecimento da filha. Darlete Coimbra está internada no Hospital Regional de Ceilândia (HRC), e voltará ao acompanhamento psiquiátrico no Hospital São Vicente de Paulo.

Fonte: Correio Web

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