O ex-seminarista Gilberto Carvalho e o deputado Manoel Ferreira, evangélico, farão trabalho de aproximar Dilma de fiéis
Dilma Rousseff (PT) vai se aproximar mais dos cristãos no segundo turno da disputa ao Palácio do Planalto, visitando igrejas e templos evangélicos, e partirá para o confronto político com o adversário do PSDB, José Serra, auxiliada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A nova estratégia, aprovada por Lula, foi acertada ontem em reunião da candidata do PT à Presidência com coordenadores de sua campanha.
Mais tarde, Dilma se reuniu com governadores e senadores eleitos da base aliada em um elegante hotel de Brasília. Foi um ato para mostrar unidade em torno de sua campanha. A portas fechadas, a candidata do PT pediu a todos que a ajudem a combater a “tática de guerrilha” que circula na internet contra ela. Na avaliação do comando da campanha, Dilma perdeu votos para Marina Silva (PV), evangélica, por conta da polêmica em torno da legalização do aborto.
“Vamos disputar palmo a palmo, a partir de agora, todos os fatos e versões”, avisou a candidata, na reunião com os eleitos. Sem citar o nome de Serra, ela disse que a oposição vai querer transformar o segundo turno em uma batalha entre éticos e não-éticos.
“Eu não vou aceitar isso”, afirmou Dilma, aplaudida pelos aliados. “Tenho 25 anos de vida pública e nunca tive nenhum processo. Esse vale-tudo não é para nós e não vamos entrar nessa baixaria.”
Nove governadores e 20 senadores eleitos gravaram mensagens para a propaganda de TV da petista. O horário eleitoral gratuito – agora apenas com Serra e Dilma – recomeça amanhã.
Agenda casada. Lula dedicou boa parte de seu dia, ontem, a conversas com ministros e governadores eleitos sobre sua participação no segundo turno da campanha de Dilma. Ficou definido que ele fará, novamente, algumas “agendas casadas” com a candidata do PT, mas os compromissos ainda não foram fechados.
O trabalho para aproximar Dilma dos fiéis ficará a cargo de Gilberto Carvalho, chefe de gabinete de Lula, e do pastor Manoel Ferreira, que é deputado federal e presidente da Assembleia de Deus – Ministério Madureira. Ex-seminarista, Carvalho desempenhou esse papel no segundo turno, mas avaliou que a operação precisa ser reforçada.
“O PT tem posições muito radicais, que estão contra a média do pensamento brasileiro, um país cristão. Posso dizer que católicos e evangélicos ficaram muito preocupados com essa questão do aborto”, afirmou o senador reeleito Marcelo Crivella (PRB-RJ), pouco antes de se reunir com a candidata. “Dilma tem de deixar claro que não será presidente do PT, mas, sim, do Brasil.”
Bispo licenciado da Igreja Universal e integrante da base aliada, Crivella disse saber que a petista não defende a legalização do aborto. Observou, porém, que a campanha não conseguiu segurar a polêmica sobre o assunto na internet, nos templos e nas igrejas.
“Padre e pastor podem ter dificuldade para pedir votos, mas tiram fácil, fácil. Um pastor falou, por exemplo, que Michel Temer (PMDB-SP), vice de Dilma, era satanista e isso se espalhou como rastilho de pólvora”, insistiu Crivella.
Uso enviesado. Para Marco Aurélio Garcia, coordenador do programa de governo da petista, a religião foi usada de forma “enviesada” no primeiro turno. “Se o fator religioso pesou da forma como está aparecendo, houve um desrespeito à religião, porque o uso dela para fins político-partidários não me parece que faça bem a nenhuma pessoa de fé”, argumentou.
Evangélico e amigo de Marina, o senador eleito Walter Pinheiro (PT-BA) acha que Dilma precisa dar uma “resposta política” à polêmica em torno da legalização do aborto. “Não adianta se reunir com pastor nem com líder religioso”, afirmou.
Com o mesmo argumento, o governador reeleito de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), disse que a prorrogação da disputa é uma oportunidade para mostrar as diferenças entre Dilma e Serra. “Mas é preciso desfazer os mal-entendidos”, ressalvou.
O caráter plebiscitário do embate será acentuado na propaganda eleitoral. “Temos grande chance de confrontar duas propostas e dois governos”, comentou o ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha.
[b]Fonte: Estadão[/b]