Diminui drasticamente o número de suíços ligados às duas principais igrejas no país: a Católica Romana e a Evangélica Reformada. Mudanças demográficas e aumento do pluralismo religioso são apontados como principais causas. Escassez de padres é ainda maior do que a evasão de fiéis.
O cenário religioso da Suíça encontra-se em plena transformação. As igrejas perdem seus fiéis e o pluralismo religioso se consolida como conseqüência dos movimentos migratórios. A Igreja Católica tem um grave problema de vocação.
Essas são as principais conclusões do relatório “Igreja Católica na Suíça: dados – fatos – evoluções, de 1996 a 2005”, publicado recentemente pelo Instituto Suíço de Sociologia Pastoral (ISP), sediado em St- Gallen (norte do país).
Na análise também foram feitas comparações com alguns dados de 1970, quando quase a totalidade dos suíços pertencia à Igreja Católica ou à Evangélica Reformada, que nos últimos 30 anos perderam quase 25% dos adeptos.
Os pesquisadores apontaram duas causas para essa situação, que classificaram de “dramática”. Por um lado, a evasão de fiéis é mais forte no campo do que nas cidades. No cantão da Basiléia, que bate todos os recordes, a duas igrejas perderam a metade de seus fiéis nas últimas três décadas. Esse cantão (estado) cobra o maior imposto religioso da Suíça: 8% da renda.
Pluralismo religioso
Por outro lado, enquanto a maioria dos estrangeiros que chegaram ao país até os anos de 1980 vinham de países católicos, principalmente do sul da Europa, hoje a maioria é proveniente de regiões muçulmanas ou cristãs ortodoxas. Com isso, as duas grandes igrejas suíças perderam o monopólio religioso.
Segundo o relatório, em todas as grandes cidades da “reforma”, à exceção da capital Berna, há mais católicos do que protestantes – em Genebra, cidade natal do líder protestante João Calvino, estes são apenas 14%.
A Igreja Evangélica Reformada registra uma perda maior de fiéis do que a Católica Romana, onde a evasão ainda é freada pela imigração de pessoas oriundas de países católicos. Além disso, um quinto da população dos grandes centros declara não ter confissão (11% na Suíça – a tendência é aumentar).
O esvaziamento igrejas tradicionais da Suíça não significa, porém, que o país seja majoriamente ateu. Um estudo recente da fundação alemã Bertellsmann apontou que 80% dos suíços se consideram religiosos
Menos casamentos
A erosão das duas igrejas, que segue uma tendência européia, é acompanhada por uma queda do número de batismos e casamentos religiosos. O número de batizados caiu 30% na Igreja Evangélica Reformada nos últimos dez anos, um recuo duas vezes superior ao da Igreja Católica.
Também o casamento religioso perdeu atratividade. Em 2005, nos casos de uniões matrimoniais em que um dos cônjuges era católico ou protestante, apenas 40% dos casamentos civis foram sucedidos por uma celebração na igreja.
Falta de padres
Maior do que a evasão de fiéis é a escassez de padres, que os pequisadores de St-Gallen classificam como “grave problema de vocação”. O número de padres diocesanos na Suíça caiu aproximadamente 25% nos últimos 15 anos, para um total de 1.587 em 2005.
Mesmo assim, os pesquisadores do ISP dizem que a situação não é “penúria geral” ns área de pessoal. Em muitos lugares, diáconos e assistentes pastorais estariam fazendo o trabalho antes realizado por padres ordenados. Uma tendência que deve aumentar.
Porque não só o número de padres, como também o de seminaristas está diminuindo. Em 1991, havia 158 candidatos ao sacerdócio no país; em 2005, eram apenas 64.
Segundo os pesquisadores, no futuro, será difícil garantir os sacramentos normalmente ministrados por padres (eucaristia, unção dos enfermos e confissão. As dioceses também terão fundir paróquias, o que já vem sendo nos países vizinhos de língua alemã (Alemanha e Áustria), afirmam.
Religiosos sem vínculo
Uma pesquisa representativa feita recentemente pela Fundação Bertellsmann (Alemanha) em 20 países ocidentais e respondida por 21 mil pessoas apontou a Suíça como um dos países mais religiosos da Europa.
O maior número de pessoas que se declararam religiosas foi registrado nos Estados Unidos. Na Europa, os mais religiosos são os Italianos (89%) e depois os suíços (80%).
Dos mil suíços entrevistados, 22% disseram que são “muito religiosos”; 20% responderam que não têm qualquer dimensão religiosa
Fonte: swissinfo