Em uma campanha despolitizada, na qual a maior parte dos eleitores votou com o bolso, um tema relacionado a valores morais e religiosos levou a eleição para o segundo turno.

A internet foi vital para acelerar e multiplicar esse processo.

O migração de votos de Dilma Rousseff (PT) para Marina Silva (PV) na reta final da corrida presidencial se explica, principalmente, pela guinada de parte do eleitorado evangélico da petista para uma candidata que compartilha sua fé. Motivo: a descriminalização do aborto.

No momento seguinte, eleitores católicos, influenciados pela pregação de padres e bispos contra a legalização do aborto, também deixaram de votar em Dilma.

Enquanto Marina cresceu em praticamente todo o País, a reação do tucano foi concentrada em Estados como São Paulo. Serra conseguiu virar a eleição no Estado onde foi governador.

A polêmica em torno do aborto foi potencializada por uma campanha “viral” na internet. Vídeos de pastores evangélicos pregando contra o voto no PT por causa da posição do partido em favor da descriminalização viraram hits. Um deles foi visto mais de 3 milhões de vezes nas últimas semanas.

Outro vídeo muito propagado na internet mostra a contradição de Dilma sobre a legalização do aborto. Contém trecho dela defendendo a mudança da legislação em entrevista feita no fim de 2007, e depois exibia imagem recente da candidata dizendo ser contra a descriminalização.

As buscas pelo binômio “Dilma + aborto” no Google cresceram 1.500% em setembro – o que dá uma indicação de como o tema passou a ser uma preocupação dos eleitores.

A campanha de Dilma reagiu organizando uma reunião de última hora com líderes religiosos evangélicos e católicos. O movimento não foi suficiente para estancar a perda de votos, ao menos não na quantidade suficiente para garantir a vitória no primeiro turno.

Marina acabou sendo a maior depositária desses votos, chegando a quase 20% dos válidos. Essa votação da candidata do PV abriga dois tipos de eleitores, muito diferentes.

De um lado, votam nela jovens de alta escolaridade desencantados com PT e PSDB e que se identificam com a proposta ambientalista de Marina. De outro, mulheres de classe média baixa e pobres que votam na candidata verde porque ela é evangélica e contra a legalização do aborto.

O destino do voto desses dois contingentes em maior ou menor peso para Dilma ou para Serra determinará o resultado do segundo turno.

[b]Fonte: Estadão
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