O principal traficante de drogas sintéticas do cartel La Familia, do Estado mexicano de Michoacán, foi preso no sábado (1°) em um evento familiar com 250 convidados em uma igreja no oeste do México, em uma operação energicamente condenada nesta segunda-feira pela Conferência Episcopal Mexicana (CEM).
A cerimônia religiosa foi organizada por Miguel Angel Beraza Villa, apelidado de La Troca, na Igreja do Perpétuo Socorro, na cidade de Apatzingan no Estado de Michoacán, para comemorar os quinze anos de sua filha. O local foi cercado por 200 agentes da Polícia Federal, com o apoio de dois helicópteros bélicos Black Hawk, um avião e dois blindados para operações especiais, depois que o serviço de inteligência das forças de segurança descobriram a localização do traficante.
As autoridades acusam Beraza Villa de ser o principal distribuidor do cartel La Família da droga sintética conhecida como “ice” ou “cristal” do México para os Estados Unidos. Por esse motivo ele também era procurado pela DEA (agência antidrogas dos EUA).
Segundo as investigações, “La Troca” nome usado no norte do México para as caminhonetes, transportava por ano, em média, 1.200 kg de “cristal” em caminhões carregados com caixas de frutas para os EUA. A droga, que era levada por um grupo de cerca de 40 pessoas lideradas por Beraza, vale cerca de US$ 32 milhões.
“Durante a operação, não se realizou nenhum disparo e se conduziu com a máxima precisão para garantir a segurança das mais de 250 pessoas que participaram do evento, entre as quais mulheres e crianças”, afirmou nesta segunda-feira em uma entrevista coletiva o chefe antidrogas da Polícia Federal, Ramón Eduardo Pequeño.
Segundo a imprensa local, os agentes entraram na igreja, jogaram todos os presentes no chão, incluindo o padre, e os revistaram durante ao menos quatro horas, mas deixaram sair as mulheres e as crianças com menos de 12 anos. Algumas das pessoas presentes à missa pelo aniversário de 15 anos da filha do traficante disseram que farão uma queixa à Comissão de Direitos Humanos de Michoacán por supostos abusos durante a operação policial.
A Conferência Episcopal Mexicana expressou nesta segunda-feira um “forte protesto” ante à suposta “falta de respeito e violência” exercida pelos agentes da Polícia Federal durante a operação na igreja.
“Nada explica esse tipo de ação dentro de um local religioso, ainda mais neste momento em que o México é citado internacionalmente como um país inseguro e violento”, afirmou o organismo, em nota assinada pelo secretário-geral da CEM, José Leopoldo González.
“A missa é o mais importante texto sagrado para os fiéis católicos”, dizem os bispos na nota, afirmando que “os fins não justificam os meios”.
Além de Beraza, 33 pessoas foram presas dentro da igreja, e nos arredores do templo foram apreendidos 11 carros de luxo, dois fuzis, duas granadas de fragmentação, US$ 13 mil, um computador, 30 telefones celulares e 4.500 comprimidos psicotrópicos utilizados na fabricação de drogas sintéticas.
As autoridades estão investigando os outros 33 detidos para determinar se eles pertencem ao cartel, embora o chefe antidrogas da polícia tenha dito que eles devem ser liberados assim que forem interrogados.
As autoridades mexicanas intensificaram as ações contra o cartel La Família depois que membros dessa organização mataram quinze agentes federais e fizeram uma série de ataques contra as instalações das forças de segurança em retaliação à detenção de um dos seus maiores líderes.
Michele Leonhart, diretora interina da agência antidrogas americana, disse que a detenção de Beraza “é o resultado da forte aliança entre a DEA e as autoridades policiais mexicanas.
“Juntamente com os nossos parceiros mexicanos, vamos continuar atacando o cartel La Familia, que não só controla o fornecimento de metanfetaminas em várias cidades dos EUA, mas tem sido a fonte de uma violência sem precedentes em Michoacán”, disse Leonhart.
O cartel La Familia cresceu a ponto de controlar elementos da polícia local e até mesmo alguns políticos de Michoacán, o que tornou a guerra contra as drogas mais violenta. Desde que o presidente Felipe Calderón, originário de Michoacán, assumiu o cargo, em dezembro de 2006, ele já enviou mais de 45 mil soldados para os locais mais afetados pelo controle dos cartéis. Mais de 11 mil pessoas morreram devido à violência relacionada às drogas desde então, mais de 7.700 desde 2008.
Fonte: Folha Online