Aygül Özkan, nova secretária de Assuntos Sociais do estado da Baixa Saxônia, indignou seus correligionários democrata-cristãos, ao defender a abolição de todos os símbolos religiosos nas escolas, inclusive o crucifixo.
Jovem, conservadora e muçulmana: essas são as primeiras características associadas a Aygül Özkan, política da União Democrata Cristã (CDU). A jurista alemã de origem turca assume, em breve, o cargo de secretária de Assuntos Sociais e de Integração do estado da Baixa Saxônia.
Özkan poderia, finalmente, popularizar a CDU entre os eleitores de origem turca ou de crença muçulmana – grupo que tem simpatia por ela, uma política que defende algumas causas dos imigrantes e descendentes de imigrantes.
“Somos da mesma opinião que a secretária; a escola não é lugar de símbolos religiosos”, manifestou Kenan Kolat, líder da comunidade turca na Alemanha. Kolat diz ainda que isso não se aplica apenas ao crucifixo, mas também ao véu muçulmano. “Neste ponto, também estamos de acordo com a secretária.”
Debate antigo
Na Alemanha, o debate sobre a presença de símbolos religiosos em instituições públicas já leva décadas. Em 1995, o Tribunal Constitucional Federal decidiu que o Estado não deve assumir posição quanto a questões de crença e de visão de mundo e que, portanto, não pode determinar a introdução de crucifixos em salas de aula. No entanto, essa decisão não foi colocada em prática, e somente em poucos casos o símbolo cristão foi retirado das escolas.
Na visão de Kolat, Aygül Özkan está resgatando uma importante discussão. “Numa democracia, as pessoas são livres para exprimir qualquer opinião. Agora devemos discutir as reações. Sabemos que é um tema controverso na CDU.”
Temor interno
Özkan gerou um certo receio em seu próprio partido. Não é de se esperar que, com suas reações, os democrata-cristãos se tornem especialmente atraentes aos eleitores muçulmanos. O futuro chefe de Özkan, Christian Wulff, governador da Baixa Saxônia, não hesitou em assegurar que seu governo vê com bons olhos a presença de crucifixos nas escolas.
Para Alexander Dobrindt, secretário-geral da União Social Cristã (CSU), Özkan – cuja proposta ele considera “absurda” – deveria pensar se está no partido certo. A premiê Angela Merkel e Maria Böhmer, encarregada federal de Integração, também rejeitam a sugestão.
Ao que tudo indica, Özkan está tendo um começo difícil. “É preciso também acumular experiência. Ela é deputada, já tem experiência, mas como secretária estadual as coisas são diferentes. Antes de se dizer algo, deve-se pensar duas, três, cinco vezes”, opinou Kolat. O líder acha bom que o assunto seja discutido e acredita que Özkan é uma militante na CDU para essa questão.
Do lado oposto
A reação da oposição foi sarcástica. O vice-presidente do Partido Social Democrata (SPD), Klaus Wowereit, prevê que Aygül Özkan terá que enfrentar um conflito duradouro com o seu partido. Afinal, a política também defende a dupla cidadania e o ingresso da Turquia na União Europeia, ideias que também geram animosidade da parte de seus correligionários.
Apesar de seu entusiasmo pelas visões políticas de Özkan, Kenan Kolat ressalvou que é preciso ter cautela e aguardar o que poderá ser posto em prática.
De qualquer maneira, a surpresa que os democrata-cristãos queriam provocar com a promoção de uma política de origem turca acabou, também, surpreendendo a eles próprios.
Fonte: DW World