Trabalhadores de Lafia, capital de Nasarawa, foram atacados por mais de 200 islâmicos ao tentarem reconstruir uma Igreja Reformada que havia sido queimada por muçulmanos há dois anos.
A reconstrução da igreja teve que ser paralisada e, posteriormente, o governo de Nasarawa proibiu que a reconstrução fosse continuada. A igreja havia sido construída há mais de um século pelos missionários da Igreja Reformada Holandesa da África do Sul com o aval da então Missão Unida do Sudão, dirigida pelo missionário alemão Karl Kunn.
O reverendo Jerry Modibo, presidente da Associação Cristão da Nigéria (CAN, sigla em inglês) e pastor da Igreja Evangélica Reformada de Cristo, afirmou ter sido testemunha do ataque aos operários na reconstrução do templo: “Os muçulmanos estavam cantando: ‘Morte aos cristãos! Morte aos infiéis. Essa cidade é para muçulmanos e não queremos cristãos aqui’.”.
A igreja era conhecida como NKST ou Nongo u Kristu u ken Sudan hen Tiv, Igreja de Cristo no Sudão entre os Tiv. Tiv é um grupo étnico localizado na área central da Nigéria. A congregação situada na região Angwan Tiv de Lafia perdeu sua igreja em um motim religioso.
O reverendo Jerry afirmou que Angwan Tiv é apenas uma das diversas áreas de Lafia onde o governo atualmente proíbe a construção de igrejas. Além disso, a administração de Nasarawa têm financiado a construção de mesquitas no Estado inteiro com verba pública. Algumas dessas mesquitas foram construídas em áreas do governo, inclusive na assembléia e no parlamento.
“Viajando de Lafia para Akwanga, de Keffi para Abuja, é possível ver mesquitas sendo construídas por toda região”, acrescentou o reverendo. “Essas mesquitas estão sendo construídas pelo governo estadual em cidades e vilarejos como Shabu, Nasarawa Eggon, Akwanga, Sabon Gida, Keffi, e Gora. Enquanto isso, nenhuma igreja ou capela foi construída para cristãos no Estado.”
Segundo o reverendo, recentemente, servidores públicos cristãos levantaram fundos para construir uma capela no escritório de um deputado cristão. “O governador ordenou que eles parassem de construir a capela, mas há duas mesquitas, construídas pelo governo, no mesmo perímetro. É com esse tipo de injustiça que temos que lidar nesse Estado”.
O governador Alhaji Abdullahi Adamu não quis comentar a situação e seu comissário, Suleiman Adokwe, se recusou a falar sobre o assunto: “Assuntos religiosos são delicados e, por isso, não posso falar nada a respeito”.
Líderes muçulmanos
Políticas em Nasarawa estão estrangulando a presença de cristãos na área central do Estado, afirmou o pastor Jerry. Ao mesmo tempo em que negam reuniões com instituições governamentais aos cristãos, eles promovem muçulmanos a cargos públicos superiores aos dos cristãos.
O Estado de Nasarawa tem 51 “líderes tradicionais” ou líderes de comunidades reconhecidos pelo governo. O reverendo afirma que apenas 10 são cristãos, os outros 41 são muçulmanos.
“O governador fez isso para criar comunidades em favor dos muçulmanos e, enquanto isso, ele sufoca os líderes das comunidades cristãs colocando-os em segundo plano no planejamento desse Estado”, denunciou o reverendo.
Ele seguiu dizendo que a discriminação no serviço público se tornou algo comum: dos 18 comissários do governo, somente seis são cristãos.
“No ano passado, o governador nomeou 18 comissários e 12 eram muçulmanos, isso apesar de os cristãos serem a maior parte da população do Estado. Se você visitar todas as 29 subdivisões do Estado e fazer um censo demográfico, você descobrirá que os cristãos constituem mais que dois terços da população de 1,2 milhões de pessoas.”
Além disso, o reverendo afirmou que nos últimos dez anos os ministros e embaixadores, baseados em recomendações do governador, favoreceram os muçulmanos. “Nos últimos dez anos, apenas um cristão foi apontado para o cargo de ministro e, ainda assim, não permitiram que ele cumprisse seu tempo de mandato. O mesmo acontece com os embaixadores: nos últimos dez anos, apenas um cristão desse Estado foi apontado para ser embaixador.”
Na área de maior concentração de cristãos, as eleições foram manipuladas para manter a liderança política muçulmana, ele adicionou.
O pastor Jerry alegou que os cristãos vêm tentando discutir esse assunto com o governador, mas sem sucesso.
“Nós fizemos várias tentativas de conversar com o governador para achar soluções para esses problemas, mas foram todas em vão. Além dos contatos pessoais com funcionários do departamento de protocolo, nós escrevemos diversas vezes para marcar uma audiência com o governador mas não obtivemos nenhum retorno.”
Peregrinação para a Justiça
O governo nigeriano se responsabilizou por ajudar a financiar a peregrinação de muçulmanos à Meca e de cristãos à Jerusalém. Os cristãos também se sentem discriminados em relação a isso. Em 2005, o Estado de Nasarawa disponibilizou uma verba de 200 milhões de nairas (1,6 milhões de dólares) para a peregrinação muçulmana e apenas 15 milhões de nairas (121.832 dólares) para os cristãos.
“Nem essa quantia para o patrocínio da peregrinação cristã foi liberada após sua aprovação” denunciou o reverendo. “De 2000 a 2005, 6.220 muçulmanos patrocinados pelo governo peregrinaram até Meca, enquanto o Estado apoiou apenas 355 cristãos e muitos desses tiveram dificuldade em conseguir o apoio.”
“Temos lidado com muitas tribulações, julgamentos e frustrações em Nasarawa. A Igreja aqui está enfrentando o período mais difícil de toda sua existência, desabafou o reverendo. Ele lembrou que o texto de Provérbios 31.8-9 diz que devemos falar por aqueles que não podem, defender os direitos do destituído e deixar a justiça fluir. “Então, estamos exigindo que haja justiça para todos. Todas as religiões desse Estado deveriam ser tratadas da mesma forma” finalizou o reverendo.
Fonte: Portas Abertas