Depois da vitória do “sim” no referendo de 11 de fevereiro sobre a despenalização do aborto, a Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) não demorou para questionar o resultado da consulta popular e considerou que o resultado é sinal de uma acentuada mudança cultural.
Segundo a agência vaticana ZENIT, os bispos reuniram-se em assembléia extraordinária em Fátima, na quinta-feira, 15, para analisar os resultados da consulta popular. Depois do encontro, difundiram nota pastoral na qual afirmam que neste referendo “manifestou-se uma cultura que não se inspira nos valores éticos fundamentais, como é o caráter inviolável da vida humana, consagrados, por outra parte, em nossa constituição”.
Os religiosos atribuem múltiplas causas a essa mudança cultural, entre as quais arrolam “a midiatização globalizada da maneira de pensar e das correntes de opinião; as lacunas na formação da inteligência, dado que o sistema educativo não prepara para questionar sobre o sentido da vida e as questões primordiais do ser humano”. Também vão contra o individualismo no uso da liberdade e na busca da verdade, e a relativização dos valores, temas que Bento XVI tornou bandeiras de luta do seu papado.
Na mensagem, os prelados deixam claro que seus objetivos pastorais a partir de agora serão os mesmos de sempre: “ajudar as pessoas, iluminar as consciências, criar as condições para evitar o recurso ao aborto, legal ou clandestino”.
“A decisão de abortar toma-se, na maior parte dos casos, na solidão e sofrimento. Um filho, que no início parece ser um problema, converte-se com freqüência numa solução para sua vida”, afirmam.
A carta episcopal finaliza afirmando que “muitas mulheres que abortam sentem, mais tarde, que se pudessem voltar atrás evitariam este ato equivocado”.
Seguramente isso ocorre, mas com certeza o diálogo aberto e amoroso, a informação, a legalização de situações humilhantes e machistas e uma sociedade mais justa na qual as mulheres não sejam responsáveis por carregar a bolsa dos “pecados” próprios e dos homens (uma gravidez segue sendo responsabilidade de dois) fariam o resto.
Fonte: ALC