Em meio à polêmica sobre a peça “O evangelho segundo Jesus, rainha do céu” que estava na programação do Festival de Inverno de Garanhuns (FIG), o prefeito da cidade do Agreste pernambucano, Izaías Régis (PTB), fez duras críticas aos cantores Daniela Mercury e Johnny Hooker, que se apresentaram no festival.
Em uma nota divulgada para a imprensa, o prefeito afirma que os artistas “não merecem respeito e tão pouco admiração, mas desprezo”.
Leia a nota na íntegra
“Vimos a público manifestar nosso repúdio às apresentações ofensivas e desrespeitosas que aconteceram nesta cidade durante a realização do 28º Festival de Inverno de Garanhuns. Aceitar esse tipo de apresentação é compactuar com o desrespeito.
Todos os anos assistimos apresentações belíssimas durante o Festival de Inverno, verdadeiras manifestações culturais, e que atraem turistas do Brasil inteiro.
No entanto, determinados acontecimentos vivenciados durante o 28º Festival de Inverno de Garanhuns têm diminuído a grandeza do evento. Artistas sem postura, desrespeitando seus próprios fãs e os cidadãos de Garanhuns, proferindo todo tipo de palavrões e hostilidade.
Manifestações e importantes debates no que diz respeito aos direitos de liberdade de expressão e liberdade de crença foram enaltecidos em Garanhuns nos últimos dias. Para nossa tristeza, alguns artistas se utilizaram desses mesmos direitos para fazer apologia à violência e à segregação.
Ontem, testemunhamos, perplexos, manifestações nocivas do cantor Johnny Hooker que proferiu palavrões, insultos e provocações contra símbolos religiosos. Reconhecemos que não se trata de um acontecimento isolado, infelizmente, durante a mesma semana, tivemos Daniela Mercury com o mesmo discurso de senso comum, simplista e arrogante.
Cantores – pagos com dinheiro público – que se preocupam mais em ofender pessoas e a religião alheia do que com sua música (que é o que realmente importa), não merecem respeito e tão pouco admiração, mas desprezo.
Não podemos compactuar com práticas discriminatórias, nem com ofensas, seja em relação a gênero, orientação sexual, etnia, religião, ou qualquer outro tipo. Tentar impor uma perspectiva como sendo absoluta é epistemologicamente impossível.
Atentos a tal constatação, manifestamo-nos em completo repúdio a todo tipo de violência, seja direta, indireta, física, verbal, psicológica ou simbólica presenciadas durante o 28º Festival de Inverno de Garanhuns. Esperamos que esses episódios lamentáveis não caiam no esquecimento, mas que sirvam para lembrar que nós garanhuenses estamos aqui, merecemos respeito e um festival de qualidade.
Izaías Régis Neto – prefeito de Garanhuns – PE”
Liminar
A polêmica peça foi proibida de ser apresentada no FIG após o desembargador Roberto da Silva Maia conceder liminar suspendendo a encenação na noite desta sexta-feira (27), atendendo ao pedido feito pela Ordem dos Pastores Evangélicos de Garanhuns e Região.
“Entre o intuito da livre manifestação teatral, de fomentar discussão sobre o tema, de sabida sensibilidade, e suas prováveis consequências, isto é, surgimento (ou crescimento) de uma ideia de segregação, discriminação e de eventuais atos de violência – não necessariamente durante o próprio FIG 2018, mas futuramente, em eventos isolados -, aliada ao desvirtuamento de uma figura seguida por milhões de pessoas por todo o mundo, o que a meu ver fere a liberdade religiosa, entendo que não existe um contexto favorável à encenação da peça”, afirmou o magistrado na decisão.
Na decisão, o desembargador afirma que a representação poderia “causar ódio” de cristãos.
“Com efeito, Jesus Cristo é a materialização de um profeta sobre cuja vida e ensinamentos, narrados na Bíblia Sagrada, giram todos os dogmas das religiões cristãs. Ao retratá-lo na figura de um personagem de orientação transexual, a peça teatral ‘O Evangelho Segundo Jesus, Rainha do Céu’, os responsáveis por esta manifestação o desvirtuam de modo a causar veemente repúdio e, por que não, ódio da comunidade cristã, ao ponto de a discussão adentrar as portas do Poder Judiciário”, afirma o desembargador.
“Sob o prisma jurídico, a discussão contrapõe os valores constitucionalmente consagrados das liberdades religiosa e de manifestação de pensamento. Nesse cenário, fazendo um juízo de ponderação entre tais direitos fundamentais, entendo que a liberdade de manifestação do pensamento deve ser plenamente garantida e exercida quando não for passível de afrontar a paz social. O desvirtuamento de um profeta religioso, como dito, fomenta o ódio e a intolerância, máxime quando diz respeito a uma religião sabidamente conservadora e que valoriza sua historicidade e os escritos estanques da Bíblia Sagrada”, diz ainda Maia.
A peça chegou a ter a sua primeira apresentação realizada em uma casa de eventos, já perto do inicio da segunda apresentação, chegou a liminar com a suspensão da peça, o que causou alvoroço entre o público e seguranças que tentavam impedir a entrada das pessoas. A polícia foi chamada e retirou os equipamentos de som, cadeiras e toldos. Mesmo assim, parte do público acompanhou a peça debaixo de chuva
Entenda o caso
A secretaria estadual de Cultura incluiu na grade de eventos do Festival de Inverno a peça. Com o anúncio da programação, o prefeito de Garanhuns, Izaías Régis (PTB), se recusou a ceder o centro cultural do município para a encenação. No início de julho, o governo de Pernambuco confirmou a exclusão da peça porque ela provocaria “polêmica”.
Quatro dias depois da decisão, o Ministério Público estadual publicou no Diário Oficial, uma recomendação à gestão para reintegrar a peça na programação do Festival de Inverno, que, este ano, tem como tema “liberdade”.
Há dois dias, o desembargador do Tribunal de Justiça de Pernambuco (TJPE) Silvio Neves Baptista Filho determinou que o espetáculo voltasse à programação.
O deputado estadual Pastor Cleiton Collins (PP), hoje presidente da Assembleia Legislativa de Pernambuco (Alepe), repudiou com veemência a exibição da peça. Da base do governador, Collins também é representante da bancada evangélica na Casa.
Fonte: Blog do Jamildo – NE10