Izaías Régis, prefeito de Garanhuns (localizada no Agreste pernambucano a 230 Km de Recife), informou que, no dia 26 de julho, não vai abrir as portas do Centro Cultural da cidade para a apresentação da peça teatral O Evangelho Segundo Jesus, Rainha do Céu, que integra a Terceira Mostra de Teatro Alternativo do Festival de Inverno de Garanhuns (FIG).
“Não temos nada contra os transexuais, mas isso é uma coisa que atinge o cristianismo, as pessoas, as religiões. Eu falei por telefone com Marcelino Granja [secretário de cultura do Governo do Estado] e disse que não permitiria que apresentassem a peça no Centro Cultural”, afirmou o prefeito, em entrevista à Rádio Jornal, enfatizando que sua colocação “é a mesma que nós estamos vendo nas redes sociais de Garanhuns e do Brasil todo” e que vai oficializar pedido à Fundarpe (Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco).
Ainda conforme Izaías, a prefeitura não participou de nenhuma discussão sobre a programação do FIG. “Quero ouvir a sociedade, ter o apoio da Igreja Católica e das igrejas evangélicas, porque o prefeito sozinho não pode ter autoridade para fazer isso. A única coisa que quero dizer é que não podemos ir de contra a maioria. Acho que merecemos respeito e vamos trabalhar para que a peça não aconteça no nosso Centro Cultural.”
Em contrapartida, Marcelino Granja, também em entrevista à Rádio Jornal, afirmou que a ação do prefeito vai contra a Constituição brasileira, que preza pela liberdade de expressão artística e de pensamento. “Não é nosso papel vetar a peça. Ela fala para o público adulto e será apresentada. Não vejo razão para essa polêmica. Se a prefeitura não permitir que ela seja apresentada nesse espaço, será realizada em outro lugar, provavelmente”, afirmou o secretário.
Marcelino acrescentou que O Evangelho Segundo Jesus, Rainha do Céu é uma obra como outra qualquer e que não vai contra o cristianismo. “Pelo que li sobre, a peça fala sobre tolerância, amor ao próximo e compaixão, mas pelo fato de ela ser representada por uma pessoa transexual, gera incômodo. O cidadão que não gosta de determinada obra, não assista.”
Polêmica
Em setembro de 2016, a controversa peça causou polêmica no estado do Paraná. Em nota, o Conselho de Pastores Evangélicos de Londrina e Região considerou que a peça seria uma afronta a identidade de Jesus Cristo. Somos “a favor da arte em todas as suas manifestações conhecidas, bem como ao acolhimento nas igrejas de todas as pessoas independentemente de sua identidade de gênero. A arte não precisa de justificativa, mas também não precisa afrontar valores sagrados”, afirma a nota.
Em setembro de 2017, a apresentação da peça no Sesc Jundiaí, foi cancelada por decisão judicial devido ao seu conteúdo.
O juiz entendeu que a peça “O Evangelho Segundo Jesus, Rainha do Céu” se encaixa em crimes tipificados no Artigo 208 do Código Penal que trata sobre preconceito contra religião (Ultraje a Culto).
Um advogado entrou na Justiça pedindo a proibição do espetáculo teatral dentro da programação do 24º Porto Alegre Em Cena, em setembro de 2017.
Na petição ajuizada contra o município de Porto Alegre, esfera que realiza o festival, e contra a Pinacoteca Ruben Berta, onde ocorreriam as apresentações antes de serem transferidas para o Teatro Bruno Kiefer, o advogado Pedro Lagomarcine define o espetáculo como “um verdadeiro escárnio, um deboche psicodélico de mau gosto, haja vista que subverte questões religiosas e macula o sentimento do cidadão comum, avesso a esse estado de coisa”.
No inicio deste mês de junho, a justiça cancelou a peça no Rio de Janeiro. O prefeito Marcelo Crivella publicou um vídeo em seu perfil no Facebook, afirmando que a peça não seria realizada no espaço cultural, fechado por ordem judicial. Além disso, ele afirmou que, na administração dele, “nenhum espetáculo, nenhuma exposição vai ofender a religião das pessoas”.
Fonte: JC online, O Globo, D24am