O primaz da Igreja Anglicana, Rowan Williams (foto), entrou no debate sobre símbolos religiosos na Grã-Bretanha e chamou a atenção dos políticos para a tentação de dizer aos cidadãos se devem ou não usar véus, turbantes e crucifixos.

Em carta aberta publicada na edição desta sexta-feira (27) no jornal “The Times”, Rowan Williams, arcebispo de Canterbury e chefe da Igreja Anglicana, nega ao governo o direito de decidir que símbolos religiosos são ou não aceitáveis.

“O ideal de uma sociedade sem nenhum sinal visível de religião, sem cruzes no pescoço nem longas tranças, turbantes ou véus, é politicamente perigoso”, opinou.

Segundo o arcebispo, que acaba de retornar de uma viagem à China, onde o Estado controla a religião, a proposta “parte do pressuposto de que a sociedade se baseia numa autoridade política que tem os recursos necessários para criar uma moralidade pública viável”.

O debate começou quando o ex-ministro de Relações Exteriores e atual líder da Câmara dos Comuns, Jack Straw, criticou o véu islâmico. Ele disse que a peça separa os interlocutores e não contribui para a integração das comunidades do Reino Unido.

A oposição de Straw ao véu foi imediatamente apoiada por outros políticos de seu partido. Os observadores consideraram a atitude um recuo do Governo trabalhista em relação ao ideal de sociedade multicultural que defendia antes.

O debate sobre os símbolos religiosos pegou fogo depois de a British Airways proibir uma de suas funcionárias de trabalhar no atendimento ao público com uma cruz no pescoço. A companhia recebeu acusações de dupla moral, pois permite que as muçulmanas cubram a cabeça e os siques usem turbante.

O arcebispo de Canterbury e outros bispos anglicanos entram no debate ao mesmo tempo que o Governo se vê obrigado a ceder em seu plano de impor às escolas confessionais uma cota de alunos de outra religião ou não religiosos.

O ministro da Educação, Alan Johnson, renunciou à intenção de obrigar os centros religiosos a admitir 25% de alunos de outra fé.

Johnson afirmou, no entanto, que tinha a Igreja Anglicana e a Igreja Católica haviam se comprometido a admitir voluntariamente nas suas escolas alunos de outras crenças, tornando desnecessárias as cotas obrigatórias.

No entanto, Johnson recebeu a visita de líderes religiosos, que denunciaram a tentativa do governo de legislar sobre o tema como “desnecessária” e “contraproducente”.

A Igreja Católica pretendia mobilizar os diretores de suas escolas para uma campanha aberta contra os planos do governo.

Em sua carta ao “The Times”, o arcebispo de Canterbury afirma que um visitante de Marte que chegasse de repente ao Reino Unido poderia imaginar que “a maior ameaça imediata à sociedade britânica é uma guerra religiosa”.

Alguns se perguntam se não seria melhor transformar o país numa “sociedade laica”, afirma Williams, para em seguida criticar a idéia. “Isso transformaria nossa cultura política muito mais radicalmente do que pensamos”, diz.

Os laicistas não estão de acordo. “Do jeito que vão as coisas neste país, com o avanço do Islã, as igrejas deveriam considerar o laicismo como seu melhor amigo. Caso contrário, vamos terminar como na Irlanda do Norte ou no Iraque”, afirma Terry Sanderson, da Sociedade Nacional Laica.

Fonte: G1

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