O papa Bento 16 iniciou nesta quinta-feira uma visita histórica ao Reino Unido, em meio a protestos contra a postura da Igreja Católica em relação à homossexualidade e aos escândalos de abusos sexuais cometidos por padres.

Nesta quinta-feira, o papa se encontrará com a rainha Elizabeth 2ª em Edimburgo, na Escócia, e depois celebrará uma missa ao ar livre em Glasgow.

Esta é a primeira visita de Estado de um líder da Igreja Católica ao Reino Unido – em que 70% da população de pouco mais de 60 milhões de habitantes são cristãos, mas em que o número de católicos, de 10% da população, é menor que o de ateus (15%).

Na visita de quatro dias, o papa se encontrará com líderes religiosos e políticos, fará discursos e ainda celebrará missas em Birmingham e Londres, onde também ministrará uma vigília de orações.

[b]Polêmicas[/b]

Nos dias que antecederam a chegada de Bento 16, a mídia britânica deu grande destaque a polêmicas envolvendo a visita.

Um importante assessor do papa Bento 16, o cardeal Walter Kasper, cancelou sua viagem ao Reino Unido, após ter dito, em entrevista a uma revista alemã, que chegar ao aeroporto de Heathrow, em Londres, era como aterrissar em um “país de Terceiro Mundo”. Kasper criticou ainda a British Airways, dizendo que quem viaja com a companhia usando um crucifixo pode ser discriminado.

Uma pesquisa recente indicou que 79% dos britânicos “não têm interesse pessoal” na visita papal e que 77% acreditam que os custos da estada não deveriam ser bancados com dinheiro público.

Uma coalizão de grupos que se opõem à visita e à postura da Igreja Católica em relação a homossexualidade, uso de preservativos e ao acobertamento dos escândalos de abusos sexuais cometidos por padres, prometeu realizar vários protestos em diferentes cidades do país.

As mesmas questões são listadas em uma carta ao jornal The Guardian, publicada na quarta-feira, em que mais de 50 personalidades públicas do Reino Unido, entre acadêmicos, políticos e intelectuais, defendem a opinião de que “o papa Ratzinger não deveria ter recebido a honra de (fazer) uma visita de Estado ao país”.

Entre os signatários estão os escritores Terry Prattchett, Philip Pullman e Ken Follett, o cientista, autor e ativista do ateísmo Richard Dawkins e o ator Stephen Fry.

Em entrevista ao mesmo jornal, Terry Sanderson, presidente da organização secular National Secular Society e um dos líderes da coalizão Protest The Pope, disse que o papa tem de “responder pessoalmente” sobre os escândalos de abuso sexual.

No jornal TheIndependent, o colunista Johann Hari chegou a pedir que os católicos britânicos boicotassem a visita papal, argumentando que “pessoas decentes” não podem concordar com a posição da Igreja sobre homossexuais e o uso da camisinha, e com o acobertamento de casos de abuso sexual de crianças.

[b]Custo[/b]

O custo da visita é estimado em 10 milhões de libras (R$ 26 milhões). A Igreja Católica disse que contribuirá com cerca de 9 milhões de libras (R$ 23 milhões) – parte disso com vendas de souvernirs da visita.

O custo não inclui o gasto com policiamento, estimado em pelo menos 1 milhão de libras (R$ 2,6 milhões).

Entre as principais preocupações da polícia, além da segurança do papa, estará a segurança de fiéis e de manifestantes.

O maior protesto está sendo convocado para Londres, no fim da tarde de sábado, quando o papa percorrerá um trajeto pela cidade no papamóvel até o Hyde Park, para comandar uma vigília de orações.

A Protest The Pope, formada por ativistas de direitos humanos, secularistas, vítimas de abusos sexuais cometidos por padres e outros grupos, convocou uma passeata que partirá do Hyde Park e termina em frente a Downing Street, sede do governo, onde haverá um comício.

[b]Venda fraca
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A previsão é de que entre 60 mil e 80 mil pessoas compareçam aos eventos públicos, entre eles a beatificação do cardeal inglês John Henry Newman, um anglicano que se converteu ao catolicismo, em Birmingham.

A venda de ingressos para os eventos, entretanto, está bem abaixo do esperado, o que reforçou os sinais de que muita gente no país está pouco interessada na visita de Bento 16.

O quadro foi diferente na visita “pastoral” do papa João Paulo 2º ao país, em 1982. Quase dois milhões de fiéis foram ver o sumo pontífice, que celebrou missas em estádios como o de Wembley, em Londres.

A visita de João Paulo 2º, que, na ocasião, era duas décadas mais novo do que Bento 16 – que está com 83 anos -, foi tida como o maior evento católico no país desde a Emancipação Católica de 1820.

A maioria dos cristãos no país são anglicanos. Em 1534, a Igreja Anglicana se separou definitivamente da Igreja Católica de Roma.

O estopim para o racha foi a resposta negativa do papa ao pedido do rei Henrique 8º de anulação de seu casamento com a rainha católica espanhola Catarina de Aragão.

[b]Fonte: BBC Brasil[/b]

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