Depois de 24 horas de rebelião no pavilhão conhecido como “Fundão”, no Complexo Penitenciário de Pedrinhas, tudo terminou com um culto evangélico. Detentos entregam armas e libertam reféns após oração comandada pelos “irmãos” colegas de cela; um preso morreu espancado.

Os três reféns, funcionários da empresa F. Oliveira, que trabalhavam na cozinha do presídio, foram libertados às 13h e os rebelados deixaram o pavilhão com destino ao pátio, onde foi iniciada a revista pessoal. As armas artesanais, que estavam em poder dos rebelados, foram entregues aos detentos evangélicos, que comandaram o culto.

A rebelião começou por volta das 12h30 de domingo, quando detentos do “Fundão” resolveram fugir pelo portão da frente da penitenciária. O plano não deu certo, já que havia reforço da Polícia Militar do lado de fora do presídio. Drogados, cerca de 30 detentos planejaram a fuga para domingo por acreditarem que o contingente da guarda de plantão estaria reduzido, uma vez que os agentes penitenciários teriam que sair para votar.

Inicialmente, simularam dores de cabeça entre eles, para chamar a atenção dos agentes. Um dos detentos chegou a ser levado para a enfermaria. Com isso, aproveitou para observar a movimentação fora do prédio. Tudo estava calmo e vazio, como imaginavam.

Enquanto o preso retornava à cela, outro detento reclamou de dor e a enfermeira Maria da Paz foi chamada. Teve início a execução do plano de fuga. Ela e um agente foram rendidos.

Ao tentarem fugir, porém, os detentos foram surpreendidos por outros dois agentes. O preso Adalto Viana Guajajara, o Índio, terminou sendo baleado na mão. Ele foi socorrido e levado para o hospital Socorrão II, onde foi medicado.

Falha

Vendo que o plano de fuga havia falhado, os presos liberaram a enfermeira, que foi ferida na cabeça, e o agente e se voltaram para a cozinha, onde tomaram como reféns os funcionário da empresa F. Oliveira, Jefferson Barroso Teixeira, de 18 anos, Leandro de Jesus Barbosa, de 23 anos, e José Carlos da Silva, também de 23 anos.

Com os reféns sob a mira de chuços e facas artesanais, os rebelados atacaram outros dois detentos que estavam trabalhando no local. Joacir Pereira ficou com a cabeça ferida com chuçadas e Antônio José Lopes, o Boizinho, que foi morto, depois de ser brutalmente espancado. Os rebelados chegaram a jogar na sua cabeça uma tampa de fossa, já que entendiam que ele era um “cagüeta”. Socorrido, ele ainda deixou o presídio com vida, mas morreu antes de chegar ao hospital.

De volta ao “Fundão”, com os três reféns, foi iniciada oficialmente a rebelião. Sem ter de início o que reivindicar, já que o plano havia falhado, os detentos passaram a queimar colchões e fazer barulho, batendo nas grades. Eles aproveitaram, então, para reclamar da qualidade da comida servida, da mudança do pavilhão feminino, que mudou de presídio, e de maus-tratos, a eles e seus familiares, por parte de agentes penitenciários. “Eles estão fazendo flagrante forjado com a gente e com familiares”, denunciaram ontem de manhã.

As reivindicações foram se formando a partir destas reclamações e, até o fim da noite, quando estavam sem água e energia elétrica – estratégia da direção do presídio para encerrar o movimento -, não havia consenso sobre o que realmente queriam.

De manhã

Suspensas as negociações à noite, detentos evangélicos pediram para entrar no pavilhão e ali permanecerem com garantia à integridade física dos reféns, e ao mesmo tempo tentar acalmar os ânimos dos colegas. As negociações foram retomadas a partir das 9h.

Além do secretário adjunto para o sistema prisional, Sebastião Uchôa, participaram das negociações, o secretário de Justiça, Magno Morais; o promotor de Justiça Gladston Fernandes; o corregedor da secretaria de Justiça, José Herberto de Jesus, e o secretario de Administração dos Direitos Humanos da Secretaria de Justiça, Luís Mário Medeiros Carvalho.

Diante da imprensa, os rebelados entregaram finalmente a lista de reivindicações, que, além das reclamações de maus-tratos e flagrantes forjados, trazia solicitações de revisão de penas, porque, segundo eles, o mutirão que aconteceu no sistema prisional não foi a contento. Os detentos protestaram contra a retirada do pavilhão feminino de dentro do complexo penitenciário, pois, segundo eles, 22 deles têm relacionamento com detentas. A mudança deve acontecer logo que for concluída a obra de reforma do prédio, no Olho d’Água, onde funcionou a Delegacia de Homicídios.

Foram solicitadas as saídas de alguns agentes, considerados agressivos, e a do diretor da unidade, que, na opinião deles, não acreditava no que eles falavam.

Culto

Diante das reivindicações, foi preparado um documento assinado por todas as autoridades presentes. Mas os detentos resolveram que somente encerrariam o movimento após um culto evangélico presidido pelos colegas que os acompanharam toda a noite. Estes mesmos detentos, liderados pelos “irmãos” Isaías e Carlos Augusto, ficariam responsáveis por trancar as celas e recolher as armas.

Após a oração e glorificação a Deus, os detentos encerraram a rebelião às 13h. Todos foram para o pátio, ao lado do pavilhão, e lá libertaram os três reféns, entregando-os a Sebastião Uchôa. Eles foram encaminhados ao prédio da direção onde foram recebidos pela psicóloga da Secretaria de Justiça, Silma Veloso, que os acompanhará.

Parecendo tranqüilos, os funcionários da cozinha revelaram que os detentos não os agrediram e os mantiveram alimentados. “Eles disseram que não precisávamos nos preocupar porque nada de mau iria acontecer conosco”, disse Jefferson Barroso. Do lado de fora do presídio, familiares dos detentos que estão no “Fundão” e dos reféns aguardavam por notícias, ansiosos.

Fonte: O Estado do Maranhão

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