Em programa de quase uma hora exibido na noite deste domingo, a Rede Record aumentou o tons das críticas contra a Rede Globo, vinculando a emissora da família Marinho à ditadura militar no país. Em entrevista, Edir Macedo disse que sentiu “alegria” ao ser qualificado como líder de uma quadrilha.

Sem intervalos comerciais, o programa “Repórter Record” exibiu a denúncia de que a Globo estaria tratando como terreno particular uma praça pública em São Paulo, além de acusar a emissora de falsificar documentos.

O programa retransmitiu entrevistas com políticos a respeito do “monopólio” da emissora, alegando que essa prática seria “prejudicial à democracia”.

Ainda nessa linha, utilizou trechos de um documentário britânico, “Muito Além do Cidadão Kane”, para acusar a Globo de ter sido conivente com as autoridades da ditadura militar brasileira.

Pedofilia e islamismo
Depois das críticas dirigidas à Globo, o Repórter Record mostrou uma entrevista exclusiva com o bispo Edir Macedo, que está no centro das acusações dirigidas contra a quadrilha.

Na entrevista, feita nos Estados Unidos, Macedo afirma que as acusações contra ele não são novas, e que as recebe com “alegria — por causa da fé”

O bispo afirmou que “claro que há bispos ruins na igreja”, mas disse que eles são expulsos da organização quando se descobrem irregularidades. Macedo citou como exemplo um suposto caso de pedofilia nos Estados Unidos: “A igreja colaborou com a polícia nesse caso”.

Edir Macedo se defendeu das acusações durante a reportagem. “Antes eles tinham medo que eu fosse candidato à Presidência da República e hoje eles têm medo que a Record se posicione em primeiro lugar”, disse o fundador da Universal e dono da Rede Record.

O bispo disse ainda “odiar” religião. “É a coisa mais podre que existe na face da Terra. O maior inimigo de Deus é a religião. As religiões que dividem as pessoas, brigarem entre si, lutarem. As maiores guerras foram feitas em nome da religião”.

Quando perguntado pela repórter qual sua ambição, ele disse que pretende “colocar a Record lá no topo”.

“E com a igreja?”, continuou ela. “Pretendo chegar aos países muçulmanos”, respondeu Edir Macedo. “Eu sei que é uma guerra danada lá, mas é nossa ambição”.

A entrevista anterior de Macedo à Record foi em 2007, quando as duas emissoras também trocavam acusações.

“Fantástico” atira de volta

A edição do programa “Fantástico” da noite deste domingo também deu prosseguimento à troca de acusações. Em reportagem mais curta que o concorrente, mostrou casos de fiéis que teriam sido coagidos a doar mais dinheiro do que poderiam.

Uma das entrevistadas dizia que após ter doado cerca de R$ 100 mil à Igreja Universal, não tinha mais dinheiro para comer e almoçava as amostras grátis distribuídas nos supermercados.

O “Fantástico” também citou o caso de Edson Luiz de Melo, ex-zelador, de 45 anos de idade, portador de um “diploma de dizimista” (veja imagem ao lado). Dulce Conceição de Melo, de 65 anos, mãe de Edson, entrou com a ação na Justiça contra a Igreja Universal do Reino de Deus por prejuízo de R$ 55 mil.

O mesmo programa mostrou uma mansão em Campos do Jordão que seria propriedade de Edir Macedo e que “virou ponto turístico” na cidade.

Guerra das TVs

A troca de acusações entre Globo e Record dominou o telejornal das duas emissoras na última semana, em uma escalada de acusações desencadeada pela abertura do processo no Ministério Público sobre lavagem de dinheiro e formação de quadrilha por parte dos líderes da Igreja Universal.

Na terça-feira, o “Jornal Nacional” veiculou reportagem de dez minutos sobre as acusações, ao lado de imagens de 1995 do bispo Edir Macedo ensinando pastores a convencer fiéis a doar dinheiro.

A resposta veio na noite seguinte. O “Jornal da Record”, durante 14 minutos, fez ataques à Globo e mostrou obras de caridade mantidas pela Universal. Para a Record, a cobertura da concorrente é um “ataque direto e desesperado” de quem tem medo de perder “o monopólio dos meios de comunicação no Brasil”. O texto afirmava “não ser novidade que a família Marinho usa a televisão para seu jogo de interesses” e que “o poder da família Marinho teve origem na ditadura militar”.

Ao mesmo tempo, a reportagem da Globo (9,5 minutos) detalhava as acusações do Ministério Público contra a Universal e destacava que “a Promotoria concluiu que empresas de comunicação estão entre os que receberam ilegalmente” dinheiro de fiéis. Mostrava imagens de um templo para ilustrar a acusação de que “a religião é apenas um pretexto para a arrecadação de dinheiro”.

Na quinta-feira, a Record ampliou a cobertura e, em 22 minutos, disse que, com os “ataques” da Globo, “a fé de todos esses fiéis foi ridicularizada”. Insistiu ainda no foco no lado empresarial da Globo. “A ligação com o submundo dos golpes financeiros está presente na Globo desde o seu nascimento.”

O “JN” do mesmo dia diminuiu o tempo destinado ao tema, para 6,5 minutos. Sempre citando o Ministério Público ou jornais, reforçou que “o dinheiro doado pelos fiéis para a caridade” acabou “usado em benefício do grupo de Edir Macedo”.

A Globo fez nova reportagem na sexta-feira, de seis minutos e 15 segundos. Reproduziu reportagens de jornais e foi atrás do destino de R$ 10 milhões apreendidos com um líder da Universal em 2005. Informou que a igreja já fez seis recursos para reaver o dinheiro, mas não conseguiu convencer a Justiça.

Fonte: UOL e Folha Online

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