Uma espécie de guerra santa teria sido travada nesse período de campanha eleitoral? Qual o poder da igreja para eleger um candidato? Até que ponto as convicções religiosas vão determinar as pautas políticas e dar vitória a um dos candidatos, no próximo dia 30?
O cientista político, escritor e pastor Elmir Dell’Antonio, do Espírito Santo, afirmou que relembra algo que o faz acreditar que a religião pauta as eleições. “No final da década de 90, quando eu ainda estava graduando Ciências Sociais, meu professor disse: “Vocês vão ver que, dentro de algumas décadas, os evangélicos, os cristãos do Brasil, vão determinar os governos e as eleições. Aquele homem era ateu mas estava profetizando. Eu acredito sim que hoje os cristãos estão polarizados e essa eleição talvez seja a mais polarizada da história do mundo. Então, sem dúvida nessas eleições a gente vai ver mais do que nunca a participação evidente dos religiosos no Brasil.”
Em São Paulo, em entrevista à CNN, a cientista política Deysi Cioccari avaliou o impacto do debate sobre religião no desempenho dos candidatos à Presidência no segundo turno das eleições, que deve ocorrer no próximo dia 30 de outubro.
Guerra santa
Na visão da especialista, há uma espécie de “guerra santa” entre os dois candidatos.
“O PT e a esquerda surgiram das comunidades eclesiais de base, enquanto o bolsonarismo ganhou força entre os evangélicos. Tanto Lula quanto Bolsonaro reforçam uma luta de ‘bem contra o mal’ entre católicos e evangélicos que entrou com muita força no segundo turno e deve seguir assim até o final das eleições”, avaliou Deysi. “Até porque, as comunidades religiosas se tornaram redutos eleitorais de cada candidato”, completou.
Para a cientista política, a religião agrega um componente importante às eleições: o medo. “A religião trabalha com atalhos cognitivos muito mais facilmente do que números duros de educação, transportes ou quaisquer outros dados que se refiram a ministérios. Por isso acho que vai continuar a pautar as eleições até o final.”
Estimativa
O pastor Dell’ Antônio avalia que a direita apoia as pautas contra o aborto, contra a ideologia de gênero, contra a linguagem neutra e intervenção do Estado na economia, e é a favor do livre mercado.
“Enfim, as pautas da direita estão muito alinhadas com os princípios cristãos e hoje no Brasil mais de 80% da população é cristã, seja evangélica ou católica. Sem dúvida nenhuma essa polarização empurrou todos para um lado só, eu acredito que é um peso muito grande, uma representatividade muito grande”
Ele finaliza fazendo uma estimativa: “A gente está falando de uma grande parte. Embora não haja 100% de consenso porque nem todos os cristãos votam no Bolsonaro, mas a grande maioria vota. E arrisco dizer que dessa gama de mais de 80% de cristãos no Brasil, talvez, desse número, uns 80% ou 90% votam nas pautas de direita.”
Fonte: Comunhão (por Lilia Barros)