Candidatos ligados ao eleitorado evangélico vêm ganhando cada vez destaque no Brasil e na eleição deste ano não foi diferente. No Recife, os três postulantes mais bem votados para a Câmara de Vereadores – Michele Collins (PP), irmã Aimée (PSB) e Fred Ferreira (PSC) – são ligados a igrejas desse segmento. A força eleitoral dos evangélicos não se restringe à capital pernambucana e pode se consolidar ainda mais pelo Brasil assim que os votos terminarem de serem contabilizados nas cidades onde haverá segundo turno.

[img align=left width=300]http://gazeta.inf.br/wp-content/uploads/2015/11/a-32-938×535.jpg[/img]Na avaliação de pesquisadores, o fortalecimento da onda evangélica na política é resultado do enfraquecimento dos partidos políticos tradicionais, a exemplo do PT, PSDB e PMDB. “Há uma grande rejeição dos eleitores aos partidos na mesma medida em que ocorre a busca de novas formas de identificação. Os indivíduos se sentem desprotegidos politicamente e vão atrás de outros caminhos. Por outro lado, as igrejas são instituições organizadas e capazes de ajudar a financiar seus membros”, avalia Silvana Krause, professora do Departamento de Ciência Política da Universidade do Rio Grande do Sul (UFRGS).

O pós-doutor em Sociologia da Religião e professor da Universidade de São Paulo (USP) Ricardo Mariano faz análise semelhante. “A operação Lava Jato tem um papel importante, mas gerou um efeito deletério porque promoveu um descrédito quase geral dos partidos políticos, especialmente do PT. A derrocada do PT quase dizimou a esquerda no Brasil e essa fragilização da esquerda abriu uma avenida larga e comprida para a direita e grupos conservadores”, diz, colocando a maior parte dos políticos ligados às igrejas evangélicas nesse rol.

O conservadorismo é visto como um traço dos políticos ligados às igrejas evangélicas, mas Edin Sued Abumanssur, professor de sociologia da religião da PUC-SP, amplia o debate. “Esse aspecto mais conservador e reacionário faz parte do cidadão médio brasileiro e não é uma marca exclusiva dos evangélicos. A discussão é mais complexa. Há, inclusive, uma visão muitas vezes preconceituosa e racista em relação aos eleitores evangélicos”, aponta.

Ricardo Mariano enfatiza o caráter conservador das plataformas políticas ligadas à religião. “O conservadorismo é acentuado no Brasil, mas nos grupos religiosos é mais acentuado e vigora o moralismo de extração bíblica. Há, por exemplo, uma concepção restrita do que é família”, declara, para logo em seguida enfatizar que as propostas conservadoras não ficam a cargo de políticos evangélicos, mas de católicos também. “Há quem seja contra todas as modalidades de aborto, inlusive em casos de estupro”, afirma.

[b]NÚMEROS[/b]

Em Pernambuco, o debate sobre política e religião ganhou destaque em algumas cidades. Em Jaboatão, Cleiton Collins (PP), Anderson Ferreira (PR) e Neco (PDT) têm forte ligação com a igreja. Os dois últimos passaram para o segundo turno. Em Olinda, Lupércio (SD) precisou gravar um guia eleitoral para rebater as acusações de que acabaria com o tradicional carnaval da cidade por ser evangélico. Seu adversário, Antônio Campos (PSB), escolheu Ceça Silva (PHS), ligada à Assembleia de Deus, como candidata a vice.

Apesar da possibilidade do Rio de Janeiro ter um prefeito ligado à Igreja Universal – o bispo licenciado Marcelo Crivella (PRB) – e de grupos políticos unidos a igrejas pentecostais ou neopentescostais terem avançado nas urnas no Congresso, na eleição de 2014, e no pleito deste ano, os evangélicos nem de longe compõem a maioria da sociedade. De acordo com o último censo realizado pelo IBGE, em 2010 apenas 22% eram evangélicos, isto é, 42 milhões entre 190 milhões de brasileiros.

Edin Sued Abumanssur afirma que esses números mostram que a presença da religião na política não é uma ameaça tão grande como se pensa. “A separação entre Igreja e Estado não significa a separação entre religião e política. O Estado vai continuar laico. É, inclusive, uma vantagem para todos que o Estado seja laico. A laicidade garante espaço para todos os segmentos religiosos”, diz, pontuando que muitos eleitores de um determinado credo religioso costumam votar em políticos de outros segmentos.

[b]CLÃS FAMILIARES
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O enfraquecimento partidário não beneficiou apenas os políticos ligados igrejas. “A gente tem uma desconfiança generalizada com os partidos políticos. Isso incentiva que organizações informais como os clãs familiares sejam vistos como mais eficientes”, afirma o cientista político Vanuccio Pimentel, da Associação Caruaruense de Ensino Superior (ACES).

Estudioso da relação entre a família e a política, Vanuccio diz que a predominância de uma sobre a outra gera um ambiente anti-republicano. “As pessoas não fazem escolhas partidárias porque houve uma fragamento dos partidos. Eles servem para filtrar a preferência do eleitor, mas como isso não funciona no Brasil você tem a prevalência dos grupos religiosos e familiares sobre a escolha pública”, opina.

A eleição 2016 em Pernambuco traz diversos exemplos de ligação entre família e política. O caso mais emblemático ocorre na Mata Sul do Estado. Em três municípios da região, há um predomínio tota da família Hacker. Sérgio, Isabel e Fraz, todos com sobrenome Hacker e filiados ao PSB, governarão as cidades de Tamandaré, Rio Formoso e Sirinhaém respectivamente.

No interior do Estado, é comum que os eleitores se deixem levar mais pelos sobrenomes dos candidatos e menos pelas plataformas e partidos políticos. Essa situação tende a se repetir mais perto da capital este ano. A candidatura de Antônio Campos, em Olinda, patinava no início do primeiro turno e cresceu quando o candidato intensificou a ligação familiar com os ex-governadores Eduardo Campos, de quem é irmão, Miguel Arraes, seu avô.

[b]Fonte: Jornal do Commércio – Recife[/b]

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