A Associação Espírita Amigos dos Animais promove dois encontros semanais voltados aos “melhores amigos dos homens”. “Temos relatos de curas de pets em estado grave ou em que o veterinário havia dado o animal como desenganado”, afirma Silvia Nogueira, diretora da Asseama, instituição que se diz pioneira nesse tipo de atendimento.
Segundo a crença kardecista, todos os seres são espíritos em evolução que passam por todos os reinos -animal, vegetal e mineral. “Por isso, as sessões também servem para que eles compreendam melhor sua passagem pela Terra e se preparem para desencarnar”, explica Silvia.
Hoje, algumas denominações religiosas e seitas abrem suas portas para a busca do bem-estar físico e espiritual dos bichinhos. No templo de umbanda Caridade É Amor, há quatro meses acontecem reuniões mensais com o objetivo de dar passes espirituais nos pets.
A médium Juliana da Costa Venezi, 26, enfatiza que faz parte de uma linha da religião africana que não aceita o sacrifício de animais. “Há quem confunda, mas na umbanda pura e correta não há sacrifício de nenhum ser. Os animais são respeitados como espíritos de luz em evolução.”
Bem distante de outros rituais, nos quais o sangue derramado de animais é visto como uma forma de agradar aos seres superiores ou como um meio de obter graça, perdão e salvação.
Segundo Juliana, as doenças, muitas vezes, são fruto de cargas negativas absorvidas pelos bichos. A médium diz que cabe aos “tutores” -ninguém é dono dos animais, conforme a crença- identificar a necessidade de tratamento espiritual.
Para que a bênção seja efetiva, os donos dos pets devem obedecer a algumas regras. Assinam um termo de responsabilidade, declarando estar cientes de que o tratamento espiritual não substitui o veterinário. Todos se comprometem a não ingerir nenhum tipo de carne ou bebida alcoólica no dia do trabalho. O alimento carregaria energia negativa. Antes de iniciar o ritual, é realizada uma palestra de 15 minutos.
A cerimônia é rápida. Depois das orações iniciais, é feito um círculo com um ponto no centro. Os médiuns, então, incorporam as entidades. Um a um, os animais são levados ao centro da roda, onde recebem o passe.
Caso o quadro de saúde seja tão grave que não permita que o pet seja transportado ao local, os médiuns aceitam fotografias no ritual. “Não é oferecido nenhum remédio, esse é um tratamento alternativo aberto a qualquer um, inclusive a membros de outras religiões”, afirma Juliana.
Frequentadora do centro, a empresária Marilda Torres Antônio, 57, acredita que os animais absorvem as más energias. Assim que soube das sessões, levou o schnauzer Dick para o encontro. “Ele estava sem comer, meio estranho”, conta. “Depois do passe, melhorou imediatamente.”
A empresária também é “tutora” de Paulie, um cocker spaniel. A dupla, geralmente agitada, fica quietinha durante a sessão. “Parece que a energia emanada pelas médiuns entra direto neles.”
A exemplo do centro de umbanda, os médiuns espíritas são todos vegetarianos e procuram nos livros de Alan Kardec a base para a cerimônia com os bichos. Também pedem abstinência de carne e bebidas alcoólicas no dia do encontro. Os donos dos animais são entrevistados, assistem a uma palestra e depois seguem para a câmara de passe.
Laços fortes
Para o padre Edinez Paulo da Silva, 41, da paróquia Nossa Senhora Aparecida, em Taboão da Serra, ainda é cedo para afirmar que há mais espaço para os bichos nos rituais religiosos. No entanto, ele assinala que a procura por ajuda espiritual é mais uma prova de como os homens estão cada vez mais apegados aos pets.
“São muitos os lares onde um cachorro ou um gato é colocado mano lugar de uma pessoa”, afirma. “Não são poucos os que criam um laço afetivo forte, pensando neles como se fossem gente, com alma e sentimentos.”
O schnauzer Dick melhorou depois de ser levado a um centro de umbanda por sua dona, a empresária Marilda Torres Antônio, 57
A tese é confirmada pelo também padre Alessandro Carvalho de Faria, 34. O sacerdote realiza uma bênção para animais no dia de são Francisco de Assis, padroeiro dos animais, em 4 de outubro.
“A Bíblia nos diz que os animais foram criados para a convivência com o ser humano”, explica. “Por isso, as orações que fazemos são para que eles cumpram com o papel que lhes foi dado na criação, seja o de ajudar nas tarefas do dia a dia, seja o de fiel amigo.”
A cerimônia é realizada na porta da igreja. O religioso não tem nenhuma restrição quanto à entrada dos animais no recinto, mas prefere dar a bênção na entrada do templo. “Apesar de rápido, o ritual gera muita agitação. Recebemos cães, gatos, peixes, iguanas, coelhos e até cavalos”, afirma. É lido um trecho do livro de Gênesis, que fala sobre a criação e convivência harmoniosa entre as criaturas de Deus. Na sequência, são feitas as orações de bênção.
O segurança Carlos Augusto Coelho, 25, é devoto de são Francisco. Ele conta que herdou a prática do avô, que levava os cavalos para serem abençoados pelo padre. “São diversas as datas em que eu cuido da minha alma, buscando força para as dificuldades”, diz. “É justo que eu reserve um dia no ano para o meu melhor amigo.” O companheiro, em questão, é Nestor, um gato que encontrou na rua.
Independentemente do credo, a fé é o que une esses donos de animais. A dentista Maria Hermínia Alves Bittencourt, 50, pediu orações para a fox paulistinha Tininha na igreja evangélica Monte Hebron, onde é pastora.
Apesar de não realizarem nenhum culto específico para os pets, os membros da igreja intercederam quando a cadela sofreu um acidente. “Ela foi atropelada e ficou bastante debilitada”, relata a dona. “Na mesma noite havia uma vigília na igreja. Eu fiquei em casa cuidando da Tininha, mas a comunidade orou por ela e já no dia seguinte minha paulistinha estava melhor.”
Os ritos e crenças variam, mas uma ponderação é comum: o tratamento espiritual não substitui o veterinário.
Fonte: Olhar Direto