A fé cristã do candidato às primárias republicanas é questionada pelos evangélicos, próximos de seu rival Rick Perry.

O partido do governador do Texas, Rick Perry (foto abaixo), lançou, por intermédio de um pastor, um violento ataque contra o atual favorito, Mitt Romney.
Na linha de mira está não a reforma da saúde aprovada em Massachusetts quando Mitt Romney era seu governador, ou seu apoio, na mesma época, aos direitos dos homossexuais, mas sim sua religião. Mitt Romney é mórmon.

[img align=left width=300]http://n.i.uol.com.br/noticia/2011/08/11/rick-perry-governador-do-texas-que-deve-anuciar-sua-candidatura-a-presidencia-dos-eua-1313097587366_300x420.jpg[/img]A cena aconteceu na conferência que reúne todos os anos cerca de 3.000 evangélicos em Washington (o Values Voters Summit), por iniciativa do lobby integrista Family Research Council Action. Ao apresentar Rick Perry à tribuna, na sexta-feira (7), o pastor Robert Jeffress, que todos os domingos celebra a missa diante de 10 mil fiéis na igreja batista de Dallas, convidou os participantes a compartilharem de seu “entusiasmo” por um candidato que manifestou um “apego sincero aos valores bíblicos”.

O pastor lembrou que, entre as leis que foram promulgadas pelo governador do Texas, pouco antes que ele declarasse sua candidatura, em meados de agosto, figuram motivos de grande satisfação para a ala “pró-vida”: a obrigatoriedade para as mulheres que querem uma interrupção de gestação de fazer uma ultrassonografia logo antes da intervenção, para entenderem a dimensão de seu “crime”. E a suspensão de verba pública para “esse abatedouro de crianças não nascidas chamado de planejamento familiar”, disse ele, enfurecido. Como os evangélicos poderiam não escolher um candidato que é “um verdadeiro discípulo de Cristo” como Rick Perry? Nos bastidores, Jeffress lançou uma pequena bomba. “O mormonismo”, ele declarou, “não faz parte da cristandade”.

Em 2008, a hostilidade dos evangélicos havia provocado a derrota de Mitt Romney na Carolina do Sul, um de seus feudos. Mais uma vez, o Estado do Sul pode ser determinante. Depois de Iowa, onde Rick Perry está na liderança, e de New Hampshire, onde Mitt Romney tem a vantagem de suas redes na vizinha Massachusetts, a Carolina do Sul é o terceiro Estado a realizar suas primárias. Foi ali que Rick Perry decidiu anunciar sua candidatura no dia 13 de agosto.

“Não é politicamente correto dizer isso, mas o mormonismo é uma seita”, repetiu o pastor em todas as redes de TV. Ele se entrincheirou atrás da Southern Baptist Convention, a maior congregação protestante dos Estados Unidos (16 milhões de fiéis), que assumiu essa posição, ele garantiu. “Em 2008, 17 milhões de evangélicos não foram às urnas. E Barack Obama ganhou com 10 milhões de votos de vantagem”, alertou o pastor. Sob a presidência Bush, os evangélicos tinham uma alta posição na sociedade. Desde 2009, nitidamente perderam influência para o Tea Party. Com as primárias, estão tentando voltar ao primeiro plano.
A maioria dos dirigentes republicanos fica indignada com os “preconceitos” do pastor evangélico, mas Rick Perry reagiu sem grande convicção. “O governador não acredita que o mormonismo seja uma seita”, disseram seus aliados. Sua equipe garantiu não ter sido responsável pelo convite do pastor, mas os organizadores garantiram que ela aprovou a escolha. Já Mitt Romney preferiu não entrar na polêmica, e sobretudo não dizer a palavra “mórmon”. Ele se limitou a lamentar uma “linguagem envenenada” que “não permite que nossa causa progrida”.

Em dezembro de 2007, em circunstâncias similares, Romney foi obrigado a fazer um discurso sobre sua fé, em Houston, onde John Kennedy, ameaçado pela mesma suspeita, teve de se explicar sobre sua fé católica. Ele acredita que não é necessário falar novamente sobre isso. É verdade que, em quatro anos, as percepções mudaram. Do líder democrata no Senado, Harry Reid, até a autora da série “Crepúsculo”, Stephenie Meyer, ou o apresentador ultraconservador Glenn Beck, os mórmons (6 milhões de americanos) estão mais conhecidos. A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias está em expansão. Ela acaba de lançar uma campanha publicitária na televisão, “I’m a Mormon” [“sou mórmon”], e está anunciando a construção de novos templos nos Estados Unidos e no exterior, sendo que o primeiro será em Paris.

No momento em que o pastor estava na tribuna, Mitt Romney se encontrava na Carolina do Sul, justamente, não no norte do Estado, domínio dos integristas, mas na costa, em Charleston, diante da Academia Militar, uma vez que ele espera contar com a outra fração dos republicanos, os militares, que estão em grande número no Estado. Ele apresentou seu programa para uma política externa dura, uma maneira de se posicionar para além das primárias, como adversário de Barack Obama. Poderia o fator mórmon lhe custar a indicação? Ou a eleição? Segundo pesquisas de opinião, 18% dos republicanos dizem que não votariam em um mórmon. Como era de se esperar, Mitt Romney não foi bem na votação indicativa dos militantes do Values Voters Summit (4% dos 2 mil votos). Mas ele pode se consolar: Rick Perry tampouco convenceu, com 8% dos votos. O vencedor foi, como sempre, o médico libertário Ron Paul, com 37%. Aos 76 anos, o decano dos candidatos tem a vantagem de um incentivo dos jovens que estão se mobilizando em massa e compartilham de suas convicções contra o sistema.

[b]Fonte: Le Monde[/b]

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