Sessenta anos depois, a Igreja Católica na Romênia revive o temor de que o Estado exproprie seus bens, como na época do comunismo, em caso de que se aprove um polêmico projeto de lei.

“Se este projeto de lei for aprovado se repetiria o que aconteceu em 1948, quando Stalin privou a Igreja na Romênia unida a Roma, greco-católica, do direito de existir, subtraindo-lhe os bens e prendendo seus bispos, afirma Dom Virgil Bercea, bispo da eparquia greco-católica de Oradea.

Com profunda dor, o prelado, que é também o encarregado da comissão para os leigos da Conferência de Bispos Católicos da Romênia, expressou à Zenit sua preocupação sobre o projeto de lei 368/2007, discutido entre os dias 27 e 29 de janeiro na comissão jurídica da Câmara dos Deputados romena, sobre o regime jurídico dos imóveis que pertencem aos cultos ortodoxos e greco-católicos na Romênia.

O projeto de lei dispõe, entre outras coisas, que “nas localidades rurais nas quais existem comunidades paroquiais de ambas as confissões, assim como mosteiros, constituídos em forma de pessoa jurídica, os bens sagrados – os lugares de culto, as casas paroquiais, o cemitério e os terrenos que lhes pertencem – sejam de propriedade do culto majoritário” (artigo 2).

“Inevitavelmente – sublinha Dom Bercea – esta norma nos prejudicará, pois a Igreja greco-católica sempre foi uma minoria, ainda que sumamente vital, na vida do país.”

O arcebispo maior da igreja romena unida a Roma, Dom Lucian Muresan, dirigiu uma carta ao presidente da Romênia e ao primeiro-ministro do governo para expressar “consternação” e solicitar a retirada de um projeto de lei que “causa prejuízo moral e material à nossa Igreja e atenta contra os direitos constitucionais dos fiéis greco-católicos”.

“O Estado romeno – diz na carta –, sucessor do estado comunista de 1948, tem a obrigação moral de restituir à Igreja tudo aquilo que lhe confiscou. Pedimos só o que nos pertence segundo o direito, em conformidade com a Constituição da Romênia e as leis internacionais.”

“Em Oradea – conta Dom Bercea – tínhamos 220 igrejas e nos restituíram 19. Com frequência, pedimos simplesmente poder celebrar no mesmo edifício de culto, em horários diferentes dos ortodoxos.”

Mas também há casos de algumas localidades nas quais há duas igrejas, originalmente uma ortodoxa e uma greco-católica. “Os ortodoxos celebram um domingo em uma igreja e outro domingo na outra, deixando alternativamente uma fechada, enquanto nós nos vemos obrigados a celebrar nas casas, nas escolas ou inclusive ao ar livre.”

“É uma verdadeira pena este fechamento por parte da hierarquia da Igreja Ortodoxa, que não é compartilhada por todos os bispos, pois há localidades onde se convive em harmonia e onde a Igreja Ortodoxa, ainda que não tenha restituído todos os bens que pertenciam às Igrejas greco-católicas, pelo menos o fez com aqueles que precisavam.”

Stalin confiscou os bens da Igreja greco-católica, que passaram a ser propriedade da Igreja Ortodoxa. Seus sacerdotes, religiosos e bispos ficaram fora da lei, e muitos sofreram a prisão ou inclusive o martírio.

Trata-se também de uma atitude que “não se difunde entre as pessoas, pois aqui as famílias são constituídas com frequência por ortodoxos e greco-católicos, assim como por romenos, alemães e húngaros”.

No dia 11 de fevereiro, por este motivo, a Igreja greco-católica viveu um dia de oração e jejum.

“Somos conscientes – conclui Dom Bercea – de ser pequenos demais para poder impedir que se aprove a lei. Unimos nossa força à de quem quiser apoiar-nos na oração.”

Fonte: Zenit

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