Sem se preocupar com a multidão católica que lotará o Pacaembu para ver Bento XVI, dezenas de seguidores de uma seita internacional prometem fazer hoje, nos portões do estádio, um ruidoso protesto contra o papa. Eles gritarão palavras de adoração ao anticristo e mostrarão seus corpos tatuados com 666, o número bíblico da besta.
A seita se chama Creciendo en Gracia (Crescendo em Graça) e tem seguidores em 23 países, inclusive o Brasil. A sede fica em Miami, EUA.
Seu fundador é José Luís de Jesús Miranda, um porto-riquenho que diz ser a segunda encarnação de Cristo. Seus seguidores se referem a ele com diversas alcunhas, como apóstolo, Jesus Cristo homem, Deus vivo e – a mais polêmica – anticristo.
As referências ao satanismo parecem mais uma maneira de chamar a atenção, já que a Creciendo en Gracia não faz rituais macabros e suas bases estão em trechos da Bíblia estrategicamente selecionados. O porto-riquenho reconhece a importância de Cristo, mas garante que seu exemplo de sacrifício não precisa ser seguido – se ele morreu na cruz para tirar os pecados do mundo, todas as pessoas agora são automaticamente puras. “Faz 2 mil anos que pecado e diabo não existem”, costuma dizer. Agora o exemplo é o próprio Jesús Miranda – por isso que se autodefine como “o anticristo” (contrário ao modelo de Cristo).
Assassinato, estupro, roubo e adultério não são pecados? Não. “É para isso que existem as leis dos homens”, afirma. “Há Igrejas que proíbem fumo e bebida. Imagine se Deus deixará de nos salvar por causa de nicotina.”
O Estado conversou com três líderes da Creciendo en Gracia, e palavras como amor e caridade não foram mencionadas. Em suas pregações, o “anticristo” e seus pastores gostam de provocar, dizendo que os padres católicos são “pedófilos de saias”. O papa Bento XVI é o principal alvo dos ataques.
Jesús Miranda tem muita influência sobre seus seguidores. Bastou mostrar o braço tatuado com o 666 para que centenas de pessoas repetissem o gesto. Os ainda mais fanáticos levam na pele o rosto ovalado do “anticristo”.
O “Jesus Cristo homem” é persona non grata em vários países da América Central. Um encontro internacional da Creciendo foi realizado há duas semanas na Guatemala, sem a presença do líder. O país não permitiu sua entrada. Também não entrou em El Salvador nem em Honduras. “Não podemos aceitar um louco que diz ser o Messias. Estamos obrigados a proteger a fé cristã”, disse o presidente de El Salvador, Elías Saca.
A igreja não divulga estimativas do número de seguidores no mundo. No Brasil, a presença dos “anticristos” não é expressiva. Há 37 centros educativos, como são chamados os templos, e cerca de 5 mil seguidores. A presença proporcionalmente mais forte é na Colômbia, onde há 80 centros.
Jesús Miranda, de 61 anos, nasceu numa família pobre de Porto Rico. Na adolescência, teve problemas com drogas e foi preso. A conversão veio logo depois. “Ele teve a visão de um anjo, que disse: ‘Mude-se para Miami!’”, contou por telefone, da Guatemala, Carlos Cestero, seu braço direito. Obediente, o “anticristo” abriu sua primeira igreja no badalado balneário, com foco nos latinos da Flórida.
Dentre os líderes da igreja, o Estado só conseguiu ouvir “o bispo dos bispos”, como Cestero é conhecido. Entrevistar Jesús Miranda não foi possível. Segundo seus assessores, “falar com o anticristo é mais importante do que falar com o presidente dos Estados Unidos”.
Fonte: Estadão