Bispo em Corumbá proibiu participação do grupo durante Santa Missa. Religiosos de matrizes africanas vão manter lavagem de escadaria.

Integrantes das religiões de matrizes africanas, em Corumbá, a 444 quilômetros de Campo Grande, tentaram acordo com bispo Dom Martinez Alvarez para que pudessem participar da Santa Missa da Igreja Matriz. Em reunião na noite de sexta-feira (23), os praticantes de umbanda e candomblé tentaram derrubar o veto, que interrompe um ritual feito há sete anos.

Sem acordo, o grupo irá manter, no dia 30 de novembro, a lavagem das escadarias do templo, que estará fechado para eles.

Desde 2004, os integrantes das religiões das matrizes africanas assistem a Santa Missa, vestidos com as roupas tradicionais, sentados nos primeiros bancos da igreja. Após a celebração, eles saíam e lavavam a escadaria da igreja. Agora, esta participação foi vetada pelo bispo.

De acordo com o presidente da Associação Corumbaense das Religiões de Matrizes Africanas do Pantanal e Região (Acorema) e delegado das religiões de matrizes sul-africanas do Centro Oeste, Clemílson Pereira Medina, a delegação escreveu uma carta com o pedido de mudança na decisão e foi até a casa do bispo na noite desta sexta-feira.

Na reunião, participaram integrantes de associações de capoeira, de mulheres negras e de gays e lésbicas. Os grupos, segundo Medina, deram apoio aos religiosos para que o ritual pudesse ser mantido.

“Nós conversamos, o bispo nos recebeu muito bem e afirmou que a decisão continua a mesma. Podemos lavar as escadas, mas a porta da igreja ficará fechada. Na missa, não poderemos entrar mesmo”, disse Medina.

O bispo da diocese disse ao G1 que, apesar da reunião com os líderes religiosos, a proibição continua. “Eu os orientei a marcar uma hora com o padre da igreja para eles conversarem. Quem define os horários e questões referente às missas são os párocos”, diz Alvarez.

Medina afirma que a comissão procurou o padre na igreja mas o pároco não quis receber os religiosos. A comissão decidiu que irá realizar a lavagem nas escadarias mesmo com as portas da igreja fechadas.

Em entrevista anterior, o padre Flávio Vieira, afirmou que a decisão não representa um preconceito. “É uma questão teológica e doutrinária, não se trata de exclusão; pelo contrário cada doutrina deve se fortalecer naquilo que ela é”, afirma o pároco. Procurado para comentar a nova tentativa de acordo, o pároco não foi localizado para comentar o assunto.

[b]Tradição[/b]

O sociólogo Paulo Cabral afirma que a Igreja Católica iniciou o diálogo entre as religiões no fim do século XX e que a tradição da lavagem das escadarias faz parte da cultura brasileira. “Essa postura da igreja católica é uma medida que revela um viés altamente conservador e que nega a dimensão do diálogo entre as religiões”.

[b]Fonte: G1[/b]

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