“Queremos contar ao Papa as dificuldades de ser cristão no Paquistão, a pressão à qual estamos submetidos e a necessidade de cultivar uma fé firme e de educar nosso povo.”
“Também lhe falaremos dos sinais positivos. Por exemplo, estamos celebrando o ‘ano da Bíblia’. Nós lhe pediremos ajuda. Também lhe diremos que a situação é difícil e que precisamos de suas orações.”
Assim falou Dom Lawrence John Saldanha, arcebispo de Lahore e presidente da Conferência Episcopal do Paquistão, em uma entrevista concedida ao “L’Osservatore Romano”. Os bispos desse país asiático se encontram neste momento em Roma para a visita “ad limina”.
O prelado, pastor da diocese mais antiga do Paquistão (data de 1886), explicou ao jornal vaticano a situação da comunidade católica em um país de 167 milhões de habitantes no qual 97% da população é muçulmana.
A situação é particularmente difícil no Norte, onde os cristãos foram vítimas da violência integrista. “Há dois anos se disse que se não queriam tornar-se muçulmanos, deviam abandonar a região. Os que ficaram sofrem ataques”, explicou.
A maior parte dos cristãos vive no centro e no sul do país. “As relações são boas. Convivemos com eles, ainda que sejamos vítimas de discriminações no que diz respeito ao trabalho e às classes sociais. Os cristãos pertencem majoritariamente às castas inferiores, e por isso desejam abandonar o país.”
A isso se une a difícil situação econômica, pelo encarecimento dos produtos básicos: “tudo é caro: o arroz, a gasolina, o gás. As pessoas não têm o suficiente para viver e educar seus filhos. Nós não podemos desenvolver nosso apostolado, também pela falta de dinheiro”.
“Podemos evangelizar, mas não diretamente, só indiretamente. O clima de intolerância chegou a tal ponto que as pessoas não querem tornar-se cristãs, a não ser que estejam seguras de que vão poder sair do país.”
“A Igreja no Paquistão está submetida a uma enorme pressão, mas conservamos a fé e a esperança, também vendo que as pessoas, sobretudo os jovens, freqüentam nossas igrejas”, acrescentou Dom Saldanha.
A Igreja está presente na educação e no campo assistencial, com hospitais, clínicas, leprosários e centros de acolhida para idosos, deficientes e portadores do HIV.
No Paquistão, onde os católicos são menos de 1% da população, há neste momento 270 sacerdotes em 7 dioceses, além de 735 religiosas e 169 religiosos. O problema está nos missionários estrangeiros, a quem o governo põe muitas dificuldades para obter vistos.
“Para que um missionário possa entrar, é preciso que outro que esteja lá volte para casa. Podemos substituir só quem morre ou sai do país. A presença de missionários estrangeiros deveria ser estável, mas seu número, no entanto, está diminuindo.”
Também Dom Evarist Pinto, arcebispo de Karachi, fez referência, em uma entrevista à “Rádio Vaticano”, às dificuldades que a comunidade católica enfrenta.
Segundo o prelado, a Igreja deve ter coragem de “anunciar a Boa Notícia”: “a Igreja não existe só para nós; vivemos entre cristãos e fiéis de outras confissões. Existe também o diálogo cotidiano entre as pessoas comuns”.
Por outro lado, explicou o arcebispo, a Igreja paquistanesa deve estar “do lado dos pobres. Devemos abrir um caminho para a educação e o desenvolvimento, para que os pobres possam sair da pobreza”.
“A família representa a unidade da Igreja: se a família é forte, a Igreja será forte. Sabemos que há uma influência cada vez maior do secularismo, especialmente nas grandes cidades. Devemos construir a fé e mostrar o rosto de Cristo, para poder edificar nossas comunidades, nossas famílias”, acrescentou.
Fonte: Zenit