Mais de 30 teólogos e teólogas procedentes de diversos países da região andina, reunidos na consulta sobre Teologia e Violência, fizeram um chamado para que as igrejas lutem pela superação de toda forma de violência e que busquem maior eficácia no exercício da missão libertadora.
Reunidos no Seminário Bíblico Gamaliel, da Igreja de Deus em Lima, Peru, dias 2 a 4 de novembro, teólogos e teólogas membros da Fraternidade Teológica Latino-Americana (FTL) emitiram declaração na qual afirmam que “se pode considerar a aparição do Estado e a realidade dos impérios mundiais como modos imperfeitos de conter a violência mediante a retribuição, mas ao mesmo tempo como realidades constitutivamente orientadas para o domínio e tentadas continuamente de endeusamento. Como pano de fundo do problema da violência, tanto individual como social e estrutural, descobre-se a pretensão adâmica de auto-justificação humana”.
Com a participação do Dr. Antonio González, teólogo jesuíta da Espanha, teólogos da FTL assinalaram que a presença atual, e não só futura, do “reinado de Deus” torna possível viver “tornando já presentes as primícias da era messiânica mediante comunidades nas quais desaparece a pobreza, a injustiça, a desigualdade e a opressão, e nas quais, segundo o sonho dos profetas da antiguidade, ‘as espadas se converterão em arados e as lanças em ferramentas’”.
Recorrendo a tais imagens simbólicas, os teólogos condenaram as múltiplas formas de violência e convidaram a somar-se, como igrejas, às diversas iniciativas locais, regionais, continentais e mundiais para construir uma cultura de paz, como é o caso específico da Década para a Superação da Violência, do Conselho Mundial de Igrejas (CMI), e o chamado do UNICEF às religiões do mundo a trabalharem pela erradicação da violência contra as crianças.
Também indicaram que “a não-violência cristã não é uma ingenuidade frente a um mundo violento, mas uma maneira concreta e criativa de responder à opressão e à violência, tal como ensina o Sermão do Monte”. As respostas não-violentas, disseram, são precisamente as que tornam possível a transformação do opressor e a libertação do oprimido da tentação de mimetizar o opressor.
Após intensos debates sobre a formação de partidos políticos construídos por líderes de igrejas, como vem ocorrendo em diversos países da América Latina, os teólogos advertiram sobre o perigo de “constantinizar” a igreja, ou seja, sujeitá-la às ordens de um império ou de conduzi-la segundo os modelos do poder político, e não segundo o modelo do serviço como ensinou Jesus. Pelo contrario, “o lugar de influência das igrejas não é o trono no palácio de Caifás, mas as aldeias da Galiléia, onde estão os mais pobres dos pobres”, advertiram.
Fonte: ALC