O dr. Abdul Raheman Nakadar, um cardiologista aposentado e ativista político, disse que acha curioso um aspecto particular da campanha de 2008 para a presidência dos Estados Unidos.

Por que, pergunta Nakadar, as campanhas dos senadores Barack Obama e de John McCain não estão procurando os líderes muçulmanos na região metropolitana de Detroit, como as campanhas de eleições anteriores, para organizarem encontros públicos e aparições de campanha?

“Qualquer candidato deve abordar as questões da sociedade americana, não de uma religião em particular”, disse Nakadar, o editor do “The Muslim Observer”, que trabalhou para estimular os eleitores muçulmanos a votarem nas eleições anteriores. “Mas quando você pede apoio a um certo grupo, então você deve. Eu esperava um contato por parte de ambos os candidatos.”

Alguns na região metropolitana de Detroit, que possui uma das maiores populações muçulmanas do país, vê a eleição de 2008 como uma regressão. Diferente de 2000 e 2004, nenhum candidato dos grandes partidos está se encontrando publicamente com imãs. Nem procuram aparecer em mesquitas, apesar de visitas a igrejas e sinagogas.

Porta-vozes de McCain e Obama dizem que os candidatos estão tratando de questões de interesse para os eleitores muçulmanos. Mas muitos muçulmanos locais dizem que a falta de atenção e o modo negativo como o Islã é retratado na campanha os deixa, na melhor das hipóteses, ignorados em uma eleição na qual uma mulher e um afro-americano romperam barreiras históricas como candidatos.

Eles apontam para as estratégias específicas das campanhas para apelo aos evangélicos, católicos e judeus, e dizem: por que nós não?

Alguns dizem que podem apoiar um terceiro candidato ou permanecer em casa no dia da eleição.

Muitos vêem um preconceito contínuo. Rumores persistentes rotulam Obama, que é cristão, como sendo muçulmano. McCain repetiu a alegação de que um muçulmano não deve ser presidente.

Os líderes muçulmanos dizem que devem lutar para manter os avanços conquistados por gerações de muçulmanos que, como outras religiões, grupos étnicos e raciais, lutaram para conseguir um espaço na vida política americana.

“McCain e Obama não estão dizendo nada sobre os muçulmanos e árabe-americanos, e estes estão sendo diariamente discriminados”, disse Jana Musleh, 18 anos, de Westland, que está trabalhando com o Instituto Árabe-Americano para aumentar a participação do voto árabe. “Eles não estão dizendo nada a respeito de nossas questões.”

Musleh e outros muçulmanos que encorajam os eleitores dizem que estão se deparando com uma grande apatia e ultraje.

“Eu sinto que se estivesse em uma batalha perdida”, disse Eftikhar Saleh, uma professora da Star International Academy, em Dearborn Heights, e uma voluntária da campanha de Obama.

“Eles têm muito medo de falar sobre o Islã porque não sabem o que dizer. E não sabem o que o público americano vai pensar, porque há este medo geral de que o Islã é uma religião perigosa, de forma que não querem se aproximar dela.”

Estratégia de campanha

Observadores dizem que a estratégia eleitoral dita a abordagem em relação aos muçulmanos.

“Há muito tempo existe esse boato de campanha de que Barack Obama é secretamente um muçulmano”, disse Michael Fauntroy, um autor e professor de política pública da Universidade George Mason. “Em vez de abordar o assunto diretamente, ele prefere não chamar muita atenção para isso.”

“E por parte de McCain, ele está estreitamente ligado às políticas do governo Bush; ele dificilmente obterá o apoio deles.”

Mas é o fato de serem evitados que irrita os muçulmanos. Muitos deles avaliam os motivos para os candidatos se esquivarem deles.

“Um dos aspectos que contribuiu para tornar isto algo importante foi o debate infelizmente negativo que dominou a disputa do Partido Democrata pela indicação”, disse Imad Hamad, diretor regional do Comitê Antidiscriminação Árabe-Americano.

“Infelizmente, aqueles que se opunham ao senador Obama tentaram usar sua raça, sua origem nacional e tentaram promover que ele tem um nome árabe e fé muçulmana. Até hoje eles jogam isso na cara dele.”

A resposta dos candidatos

O pai de Obama foi muçulmano por algum tempo, antes de deixar a religião. Ele teve pouco envolvimento na vida de seu filho, que é cristão. Alguns muçulmanos dizem nutrir grande esperança por Obama com base em seu pedido por uma mudança dramática em relação às políticas do governo Bush, em vez de qualquer senso de que ele tenha alguma sensibilidade em relação aos muçulmanos.

A campanha de Obama, em Michigan, em breve incluirá “um contato agressivo” com as pessoas de todas as origens e religiões – incluindo os muçulmanos, disse um porta-voz, Dan Leistikow.

“Nós ainda estamos organizando nossa campanha em Michigan, mas o senador Obama está profundamente comprometido a contatar pessoas de todas as origens e religiões que compartilhem seu compromisso de mudar a América.”

A campanha de McCain emitiu uma declaração dizendo que seu candidato está “conversando com todos os eleitores”, especialmente nos encontros em prefeituras.

“A comunidade muçulmana americana em Michigan é de grande espírito empreendedor, composta por muitos donos de pequenos negócios”, disse a campanha. “O plano do senador McCain para fortalecer nossa economia inclui medidas para ajudar os donos de pequenos negócios a competirem nesta economia em dificuldades.”

Apesar do apoio muçulmano aos republicanos estar em forte declínio desde a eleição de 2000, quando as pesquisas mostraram que a maioria votou em Bush, até mesmo os partidários de Obama dizem que ele precisa fazer mais para atrair os eleitores muçulmanos.

“Nosso país está cheio de interesses especiais, e talvez não sejamos ainda um interesse especial”, disse Tarek Baydoun, de Dearborn, um estudante de direito da Universidade de Toledo.

“Além disso, um grande motivo para Obama não poder interagir com a comunidade de uma forma saudável são os ataques injustos contra ele – como se ele tivesse que dar satisfação por sua religião.”

Em geral as questões dos muçulmanos não diferem das questões da maioria dos demais eleitores. Segundo uma pesquisa realizada pelo Conselho de Relações Islâmico-Americanas neste ano, as principais questões envolvem educação, direitos civis, atendimento de saúde, empregos, a economia e as relações com o mundo muçulmano.

Estimulando o registro de eleitores

Os líderes muçulmanos e árabe-americanos dizem que as dificuldades da campanha estão fazendo com que lancem campanhas para encorajar a participação. O Comitê Antidiscriminação conseguiu a inscrição de 550 voluntários eleitorais há duas semanas no Festival Internacional de Cultura Árabe de Dearborn. O Instituto Árabe-Americano lançou uma campanha não partidária estimulando o comparecimento dos eleitores para votar.

“Isto torna meu trabalho três vezes mais difícil”, disse Hassan Abraham, 25 anos. Abraham, que trabalhou para o instituto ajudando a estimular o voto, aceitou um cargo no comitê de campanha local de Obama.

“Mas isso também me deixa três vezes mais comprometido. Eu percebo, no final do dia, que algumas destas questões nascem do medo, ansiedade e ódio, em grande parte por parte de pessoas que realmente não conhecem os muçulmanos. E sinto que esta eleição é muito importante.

Fonte: The New York Times

Comentários