A Polícia Civil de São Paulo solicitou à Justiça mais tempo para concluir o inquérito sobre o desabamento do teto da igreja Renascer, no centro de São Paulo. Hoje, quarta-feira (18), completa um mês que a tragédia ocorreu. Nove pessoas morreram e mais de cem ficaram feridas. (Foto: teto da sede que desabou).
De acordo com a SSP-SP (Secretaria de Segurança Pública de São Paulo), o pedido para que o prazo das investigações seja estendido foi feito nesta terça-feira pelo delegado Dejar Gomes Neto, titular da 1ª Delegacia Seccional (Sé), responsável pelo caso. Ainda de acordo com a secretaria, nenhum laudo sobre o caso foi concluído até hoje.
Desde o dia do acidente, mais de 80 pessoas foram ouvidas pela polícia –entre membros da igreja Renascer, testemunhas, sobreviventes e familiares de vítimas. Porém, ninguém ainda foi responsabilizado pelo caso.
As causas que provocaram o desabamento do teto do local também não foram esclarecidas. À polícia engenheiros do Contru (órgão da prefeitura que fiscaliza a segurança dos imóveis) disseram ter encontrado nos escombros do templo aparelhos de som e dutos fixados no teto que desabou e que não estavam lá na vistoria anterior. O sobrepeso é apontado como uma das possíveis causas do desabamento, porém, bispos da igreja negaram a versão.
Segundo a secretaria, novas testemunhas ainda devem ser ouvidas nos próximos dias.
Vítimas
Passado quase um mês da tragédia da Renascer, três pessoas que ficaram gravemente feridas no desabamento continuam internadas no Hospital São Paulo. De acordo com a Renascer, o estado das vítimas é estável, mas não há previsão de alta.
Mais de cem pessoas ficaram feridas no desabamento do templo em São Paulo, que deixou nove mortos.
Além das vítimas da tragédia, moradores de casas próximas à sede da igreja também foram afetados e tiveram de deixar suas casas –interditadas pela Defesa Civil Municipal. Segundo a Renascer, mesmo após um mês, ainda há moradores desalojados.
Nesta quarta-feira, a Associação de Preservação de Cambuci e Vila Deodoro pretende realizar um ato ecumênico em homenagem às vítimas da tragédia. De acordo com Gilberto Amatuzzi, presidente da associação, o ato deve ocorrer às 18h de amanhã, no Largo do Cambuci.
Rotina
Da igreja, restam os escombros, que estão sendo retirados aos poucos. Perto dela, oito casas e um estabelecimento comercial foram interditados, segundo a Defesa Civil, porque havia risco na estrutura.
O representante comercial Marassoré Roberto Moregola, de 67 anos, é um dos que ainda não conseguiram voltar para sua residência. Há um mês, está em um hotel pago pela Renascer. “Além da minha edícula, que foi totalmente atingida, caiu o reboco do teto em um dos quartos”, conta o morador. “A vida está voltando ao normal. Só estou magoado”.
Respostas
Por meio de nota, a Igreja Renascer se manifestou sobre os 30 dias do acidente. Informa que vê a “tragédia enorme” como uma “fatalidade, que pode acontecer com qualquer um”. A Igreja, comandada pelo apóstolo Estevam Hernandes e pela mulher dele, a bispa Sônia, diz que aguarda o fim das investigações, mas crê na sua “isenção no caso”. E “não admite conjecturas ou tentativas antecipadas de culpa”.
A Renascer se colocou à disposição das autoridades que investigam o acidente e garante que tem dado auxílio às vítimas, “incluindo apoio moral e religioso”. Na nota, a Igreja pede que se evitem “pré-julgamentos” e diz confiar no trabalho da Justiça e da polícia.
Hernandes e Sônia estão nos Estados Unidos desde janeiro de 2007, onde cumprem pena por terem tentado entrar no país com dinheiro não declarado. Parte dele, segundo a polícia, estava no fundo falso de uma Bíblia.
Cenário do caos
O tenente Miguel Jodas, de 35 anos, participou da operação de resgate das vítimas dentro da igreja. Ele lembra que no dia do desabamento era difícil atender a todos os fiéis. “A dificuldade era pela grande quantidade de pessoas e vítimas ao mesmo tempo. Tínhamos que separar todas de acordo com a gravidade dos ferimentos e, ao mesmo tempo, escorar as paredes para não cair. A primeira meia hora é a mais difícil”, disse ele nesta terça.
Com a experiência de quem está há 14 anos no Corpo de Bombeiros e participou de salvamentos em tragédias como a da cratera do Metrô (em janeiro de 2007) e do avião da TAM ( em julho de 2007), Jodas diz que o bombeiro, muitas vezes, deixa a emoção de lado durante o resgate.
“A gente acaba sendo meio frio, não se envolve emocionalmente. Enquanto você está ali, a questão é técnica”, afirma ele. Cães farejadores ajudaram as equipes de resgate a localizar vítimas sob os escombros. Foram os bombeiros que tiraram a secretária Cilene da igreja.
Para ela, que jura não guardar revolta pela sua situação atual, o tempo “de molho” serviu para pensar na vida. “Agora, é um momento de reflexão. A vida termina em um minuto”.
Fonte: Folha Online e G1