Uma inglesa que fumou maconha todos os dias durante um mês, como parte de um documentário da BBC sobre os efeitos da droga, disse ter ficado paranóica, assustada e incapacitada de desempenhar tarefas usuais durante o experimento.

Nicky Taylor, da cidade de Kidderminster, disse que queria saber o que aconteceria com algum dos seus três filhos se eles usassem a droga.

Ela própria já havia experimentado maconha há mais de 20 anos, na faculdade, mas desde então nunca mais havia fumado.

Estima-se que algumas variedades mais modernas tenham cinco vezes mais da substância ativa THC do que a droga consumida na época em que Nicky estava na faculdade.

Nicky passou um mês em Amsterdã, onde a droga é legal. Ela trabalhou em um café que vendia canabis e experimentou diversos tipos da droga, com concentrações diferentes de THC, ao longo dos 30 dias.

Ela se mostrou especialmente impressionada com o skunk, uma variedade mais forte, que, segundo ela, teve efeitos “absolutamente horrendos”, embora não duradouros, na sua mente.

“Em algumas noites, eu não conseguia dormir nada, ficava andando pelo quarto, ficando mais e mais paranóica e pensando que todo mundo que eu tinha conhecido no café, assim como a equipe da BBC, estavam falando de mim”, disse Nicky.

Efeito na balança

A inglesa já havia participado de programas que investigavam os efeitos de beber em excesso e de se submeter a cirurgias plásticas.

Embora variedades mais fracas de canabis não tenham tido o mesmo efeito, ela disse que a sua capacidade geral ficou comprometida, e tarefas como montar um móvel ficaram mais difíceis do que o normal.

“A droga arruinou a minha cabeça”, disse Nicky. “Eu não repetiria isso em nenhuma hipótese. Nada mais fazia sentido para mim.”

A inglesa também sentiu o efeito da droga na balança. Por causa das vontades súbitas de comer doces e lanches, provocadas pela droga, ela engordou cerca de três quilos.

Depois de um mês, cientistas do Instituto de Psiquiatria de Londres injetaram em Nicky uma dose de THC e de THC com canabinóides, a combinação encontrada em variedades mais fracas da droga. Depois da injeção de THC puro, ela teve um “episódio psicótico”.

“Eu achava que os pesquisadores eram personagens de um filme de terror”, contou Nicky. “Eu estava pensando em pular da janela.”

Ao fim do experimento, ela deixou de sentir os efeitos do uso de canabis, mas disse que tentará manter os filhos afastados da droga.

Debate necessário

No entanto, Nicky defende um debate sóbrio na sociedade sobre o que fazer com a canabis, uma vez que há cada vez mais indícios de que a droga também pode ter importantes aplicações médicas.

“Esta planta é complexa, pode fazer muito mal, mas também pode fazer muito bem”, afirmou.

“De um lado você tem pessoas que pensam que (a maconha) é obra do diabo, de outro pessoas que acham que é uma coisa fantástica. Então ninguém senta para conversar de forma construtiva sobre o que deveria ser feito.”

O diretor-executivo da organização Drugscope, Martin Barnes, afirma que a maioria dos potenciais efeitos nocivos da canabis foi levantada em estudos com variedades mais fracas da droga.

Segundo Barnes, no caso da Grã-Bretanha, a potência média da canabis aumentou nos últimos anos. “Embora seja intuitivo que o potencial de danos à saúde aumenta com formas mais fortes de canabis, as pessoas não devem assumir que apenas os tipos mais fortes são nocivos”, afirmou.

“Outra questão importante são os problemas de longo prazo que podem surgir do uso de canabis”, acrescentou Barnes.

O experimento de Nicky Taylor fará parte do documentário “Should I Smoke Dope?” (Devo fumar maconha?, em tradução livre), que será exibido pela BBC nesta quinta-feira na Grã-Bretanha.

Fonte: BBC Brasil

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