O All Souls Interfaith Gathering (Asig, Encontro Inter-religioso de Todas as Almas) tem uma reputação de ser inclusivo. Ninguém é rejeitado. E isto inclui a Mãe Terra.
O Asig se orgulha de ser uma das igrejas mais verdes de um dos Estados mais verdes, e nada prova isto mais do que seu novo santuário, inaugurado em outubro.
Ele é um modelo de correção ecológica: madeira colhida localmente, pisos de bambu, lâmpadas fluorescentes compactas e uma fornalha que aquecerá o prédio usando mato, milho ou pellets de madeira. A congregação espera usar entre 30 e 35 toneladas de pellets de madeira neste primeiro inverno no novo prédio.
Até mesmo o ar condicionado é gerado usando água de um poço artesiano.
“Eu gosto de pensar que estamos na vanguarda”, disse a reverenda Mary Abele, que comanda a congregação de 70 pessoas mas que está crescendo a cada semana. “Eu suspeito que alguns virão devido às nossas práticas ambientais.”
O Asig também tira proveito de sua localização privilegiada. As janelas com face oeste do novo santuário capturam talvez as vistas mais impressionantes que você verá -terras agrícolas, o Lago Champlain e as montanhas Adirondack cobertas de neve.
Mesmo quem antes não era um ambientalista -ou crente- sentiria dificuldade em não se tornar um após se deparar com uma vista destas. “Você senta aqui com o sol se pondo e oooh”, suspira Laurie Caswell Burke, a coordenadora ambiental do Asig.
Quando o prédio foi inaugurado, Abele disse para o “Burlington Free Press” que as vistas são “uma inspiração para nos ajudar a entender quem somos em ligação com o meio ambiente e o divino”.
É um tema presente em tudo o que o Asig faz. Mesmo os novos estacionamentos, abertos na floresta da propriedade, foram colocados onde preservariam o máximo possível das muitas árvores maduras.
“O prédio precisava se integrar ao ambiente em vez de se destacar. (Nós precisávamos) minimizar o prédio, torná-lo convidativo, tranqüilizador, explorar a beleza do local e dos arredores, permitir que o prédio fosse o abrigo a partir do qual uma pessoa poderia apreciar o todo”, disse Marty Sienkiewycz da SAS Architects, em Burlington, responsável pelo projeto juntamente com membros da congregação.
“Eles nos procuraram com um desejo e um sonho”, disse Sienkiewycz, que se reuniu com os membros da igreja mais de uma dúzia de vezes. “Se não tivessem tido uma influência tão grande, o resultado teria sido muito diferente, mas estamos bastante satisfeitos com ele.”
Tudo faz parte de uma tendência no mundo religioso na qual mais fiéis estão buscando salvar o meio ambiente como parte de sua jornada espiritual.
Dezenas de grupos ecumênicos estão lidando com tudo, do aquecimento global aos “eco-ramos” das missas de Domingo de Ramos. A Parceria Religiosa Nacional pelo Meio Ambiente, por exemplo, diz representar 100 milhões de americanos, uma aliança de grandes seitas combinando religião e ecologia.
“Eu vejo o meio ambiente como um portal de conexão com o divino”, disse Abele. Por que agora? “Eu acho que foi preciso chegar ao nível de crise, que é onde estamos agora.”
Abele e seu rebanho não deixa nenhuma pedra desvirada. Literalmente.
Um círculo de pedras ao ar livre, construído pelos membros da congregação em 2003, é “um lugar de conexão com a energia da Terra”. Os membros são encorajados a caminharem pela Roda Sagrada da Terra com freqüência. Perto dali se encontra um labirinto que os membros também percorrem.
Além disso, a igreja conta com Comunhões de Flores (os fiéis são encorajados a trazerem flores para compartilhar em um serviço religioso em maio) e a cerimônia do Encontro das Águas (águas de fontes, riachos e rios são misturadas em uma bacia comunal).
Don Stevens, da Nação Abenaki de Missisquoi, até mesmo usou penas de um falcão de cauda-vermelha para espalhar fumaça de sálvia e tabaco nos membros durante o serviço inaugural em outubro. A cerimônia de “defumação” é um ritual de purificação nativo-americano para expulsar os maus espíritos.
Neste inverno, os programas adulto e infantil da igreja se concentrarão em mensagens ambientais. O tema “verde” sempre foi ensinado desde cedo aqui. O programa infantil do Asig neste inverno se chama “O Meio Ambiente Sagrado -A Terra e Eu”.
Esperando que as crianças “se apaixonem pelo planeta em que vivem, nós ensinamos histórias da criação, de mitos antigos até a teoria do big bang”, disse Caswell Burke. “Eu acho que estamos à frente de nosso tempo. A Terra está presente em todos os serviços. Há uma conexão entre o meio ambiente e o espiritual.”
A cada mês um membro da comunidade é convidado pelo Asig para falar sobre sua paixão pelo planeta. Um apicultor falou para as crianças e Christopher Davis, que administra os 400 hectares ao redor do Asig, falou no fim de semana sobre o novo “prédio verde (da congregação), sobre como ele funciona diariamente”.
“Desde que demos início ao conceito, (o meio ambiente) guiou muitas partes do projeto”, disse Davis. “É uma filosofia. Sempre foi: ‘Vamos usar o que temos. Vamos reutilizar e incorporar’.”
Abele, na homilia no Dia dos Veteranos, também abordou o assunto.
Enquanto honrava os veteranos, ela perguntou para sua congregação se era demais “honrar aquilo pelo que lutaram para preservar. Não significa nada se permitirmos que nosso ar e nosso meio ambiente se deteriorem”.
Quanto ao santuário, Abele não consegue explicar o espírito do novo prédio. “Está além do que eu esperava”, ela disse. “Eu não sei ao certo o que está acontecendo, mas é ótimo.”
Fonte: USA Today