As primeiras informações diziam que, pelo menos 30 pessoas, a maioria crianças, foram queimadas vivas nesta terça-feira dentro de uma igreja na cidade de Eldoret, no oeste do Quênia.

Um funcionário da igreja disse à BBC que corpos de 25 crianças estariam no hospital local e que muitas outras foram socorridas com queimaduras graves.

Segundo fontes da polícia e da Cruz Vermelha, cerca de 200 pessoas haviam procurado refúgio na igreja depois que a violência eclodiu no país, em decorrência das eleições presidenciais da quinta-feira passada.

O incidente ocorreu depois que um grupo cercou e incendiou a igreja onde os refugiados estavam escondidos. As vítimas seriam da mesma etnia do presidente Mwai Kibaki, reeleito na eleições da semana passada.

Mais de 120 pessoas foram mortas nos distúrbios desde que a Comissão Eleitoral do Quênia anunciou os resultados no domingo. Segundo a oposição, o número de mortos já teria chegado a 200.

Milhares de policiais e soldados foram enviados a varias partes do Quênia para tentar conter a violência.

Ainda segundo a Cruz Vermelha, 70 mil pessoas já teriam deixado suas casas para tentar escapar da violência. Há relatos que muitos estejam cruzando a fronteira com o Uganda.

O presidente Mwai Kibaki e seu adversário Raila Odinga pediram que a população coloque um fim à violência.

União Européia

Ainda nesta terça-feira, observadores europeus colocaram em dúvida a lisura das eleições presidenciais.

Em um relatório preliminar sobre a missão de observação da votação, a União Européia diz que a eleição teve falhas e ficou aquém dos padrões internacionais.

Quatro dos membros da comissão eleitoral do Quênia disseram concordar com as afirmações dos observadores europeus, dizendo ter dúvidas sobre a veracidade dos números da contagem final de votos.

Os incidentes mais graves de violência ocorreram em Kisumu, a terceira maior cidade do país, onde mais de quarenta corpos com ferimentos a bala foram levados ao necrotério da cidade.

O candidato da oposição Raila Odinga disse à BBC que grande parte da população está enfurecida com uma possível fraude na contagem dos votos.

O presidente Kibaki pediu calma a população.

Cruz Vermelha afirma que 50 morreram queimados em Igreja no Quênia

A Cruz Vermelha elevou para 50 o número de mortos em dos mais violentos episódios dos quatro dias de turbulências que alastram pelo Quênia após as eleições. Homens, mulheres e muitas crianças morreram quando uma multidão enfurecida ateou fogo em um igreja onde centenas buscavam proteção.

O presidente reeleito Mwai Kibaki convocou um encontro com políticos de oposição para fazer um pedido público pela paz. Centenas de pessoas já morreram no país, uma das mais prósperas e estáveis democracias do continente. O candidato derrotado da oposição, Raila Odinga, afirmou que iria recusar o convite.

“Se ele anunciar que não foi eleito, então eu irei conversar com ele”, disse Odinga à agência Associated Press. Ele acusou o governo de contribuir para a violência e afirmou que a administração de Kibaki “é culpada, diretamente, pelo genocídio”.

A igreja queimada fica em Eldoret, a cerca de 300 km da capital. O voluntário da Cruz Vermelha que contou os corpos pediu anonimato e afirmou que as gangues locais estão checando as filiações tribais dos trabalhadores da organização humanitária.

A União Européia e os Estados Unidos se recusaram a congratular Kibaki. Representantes da UE pediram um inquérito independente sobre o resultado das eleições. Na Inglaterra, o primeiro-ministro Gordon Brown afirmou que Kibaki e Odinga deveriam se reunir. “A violência deve ter um fim”, disse ele, nesta terça-feira.

Cronologia da crise no Quênia

Cronologia da crise que tomou conta do Quênia depois das eleições gerais de 27 dezembro.

–DEZEMBRO 2007–

– QUINTA, 27: Os quenianos vão às urnas para escolher entre o atual presidente Mwai Kibaki, candidado à reeleição, e Raila Odinga, seu antigo aliado e agora principal adversário político.

– SÁBADO, 29: Um dirigente do Movimento Democrático Laranja (ODM), de Odinga, informa que ele venceu as eleições.

– Diante da lentidão do processo de apuração dos votos e da multiplicação das acusações de fraude, distúrbios explodem nos bairros pobres de Nairóbi e no oeste do país (reduto de Odinga).

– DOMINGO, 30: Odinga acusa o presidente de fraudar as eleições em 300.000 votos.

– A comissão eleitoral anuncia a vitória de Kibaki com um pouco mais de 200.000 votos de diferença.

– Minutos depois, distúrbios explodem em Kibera, a maior cidade de Nairóbi, e em várias cidades do oeste.

– Kibaki presta juramento.

– O ODM pede aos quenianos que rejeitem os resultados oficiais.

– SEGUNDA, 31: Pelo menos 104 pessoas são mortas durante a noite, segundo fontes do necrotério de Kisumu (oeste).

– Prossegue a violência em todo o país. Em Mombasa, 19 pessoas são mortas à machadada.

– O presidente Kibaki diz que vai agir com firmeza contra os distúrbios. E apela à reconciliação.

– Vários membros da comissão eleitoral queniana pede uma investigação independente sobre as operações de apuração da votação.

– Vários países desaconselham a viagem de seus cidadãos ao Quênia.

– A Comissão Européia apela às duas partes que cooperem.

– Os Estados Unidos retiram suas felicitações ao chefe de Estado e se declaram muito preocupados com a situação.

– O secretário-geral da ONU apela à calma.

–JANEIRO 2008–

– TERÇA, 1o.: Nova onda de violência interétnica, com novas centenas de mortes, chegando a 300 desde 27 de dezembro.

– Pelo menos 50 pessoas são queimadas vivas dentro de uma igreja de Eldoret (oeste), onde se refugiaram para escapar das violências.

– O primeiro-ministro britânico Gordon Brown pede a Kibaki e Odinga que negociem um governo de união.

– Kibaki pede aos dirigentes dos partidos políticos do país que se reúnam com ele para fazer um pedido público que ajude a restaurar a calma.

– Odinga diz que não aceita negociar com o presidente enquanto ele não reconhecer que perdeu as eleições.

– A missão de observação da União Européia pede uma investigação independenter sobre os resultados eleitorais.

– A Comissão da União Africana (UA), preocupada com a situação, convida as partes envolvidas a dialogar.

Fonte: BBC Brasil, Folha Online e AFP

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