O padre italiano Piero Gelmini, acusado de abusar sexualmente de jovens abrigados em uma comunidade de recuperação de dependentes de drogas fundada por ele, afirmou ter sido excluído do sacerdócio pelo Vaticano.
A decisão, anunciada pelo próprio Gelmini no domingo, ao voltar de uma viagem ao exterior, teria sido tomada pelo papa Bento 16.
Gelmini não informou quando recebeu a comunicação oficial da parte de seu superior, o bispo de Terni, Vincenzo Paglia.
Com a decisão, o sacerdote volta à condição leiga e está proibido de rezar missas e ministrar sacramentos como batismo, comunhão, confissão, crisma, casamento e unção dos enfermos.
No entanto, Gelmini poderá continuar dirigindo sua comunidade, que é uma instituição privada.
O clérigo, que se diz inocente, declarou aos jornais italianos que o papa acatou seu próprio pedido ao exclui-lo do sacerdócio.
De acordo com o porta-voz de Gelmini, Alessandro Meluzzi, a condição de leigo vai facilitar a defesa do padre, se ele for mesmo processado por abuso sexual.
Investigação
Gelmini começou a ser investigado no ano passado pelo tribunal de Terni, na região da Úmbria.
Ele é acusado pelo abuso sexual de nove jovens que estiveram hospedados em uma das 164 comunidades de recuperação Encontro, fundadas por Gelmini em 1979.
Os abusos teriam sido cometidos desde 1997 até o ano passado.
De acordo com os juízes que investigam o caso, o clérigo teria obrigado os jovens a “satisfazer seus pedidos sexuais em troca de favores que conseguiria com personalidades influentes”.
O caso teve uma grande repercussão na Itália, onde Gelmini é conhecido como “padre anti-droga”, e seu trabalho com os jovens dependentes é respeitado.
Gelmini também tem bom relacionamento com homens políticos e empresários. Um sendo dos principais contribuintes de suas comunidades seria o ex-primeiro-ministro Silvio Berlusconi.
Além de Gelmini, a magistratura de Terni investigou também alguns de seus colaboradores, como Giampaolo Nicolasi, que estaria sendo acusado de contatar alguns dos jovens que denunciaram os abusos para convencê-los a retirar as acusações, e a mãe de um deles, que teria colaborado para despistar os magistrados.
Vida privada
A fase de investigação do caso chegou ao fim em dezembro. Nos próximos dias, o tribunal de Terni deve comunicar se Gelmini será processado ou se o caso será arquivado. O Vaticano não se pronunciou sobre a investigação.
“Nao há porque duvidar do que disse d. Gelmini sobre seu retorno ao estado leigo”, disse à BBC Brasil o padre Ciro Benedettini, vice-diretor da Sala de Imprensa da Santa Sé.
“A Santa Sé não costuma dar informações oficiais sobre estas questões porque trata-se da vida privada de uma pessoa”, acrescentou.
Benedettini afirma que, segundo a teologia, Gelmini jamais deixará de ser sacerdote, mas não poderá exercitar as funções de padre.
Segundo observadores, a decisão do Vaticano de excluir Piero Gelmini do sacerdócio pode evitar que o Vaticano seja envolvido no processo, caso os juízes decidam que o padre será julgado por abuso sexual.
“É seguramente o caso de abuso sexual de maior repercussão na Itália, mas é preciso esperar a decisão do tribunal”, comenta o vaticanista Orazio La Rocca.
Instituição
La Rocca destaca a importância do trabalho da comunidade fundada pelo ex-padre na recuperação de jovens viciados. “É um trabalho que dura anos, sério e muito respeitado”, disse.
A instituição de Gelmini se dedica à recuperação de jovens dependentes de drogas e tem sedes em diversas cidades italianas. No exterior, são 74 entidades, inclusive na Bolívia e Costa Rica.
No Brasil, a comunidade tinha uma sede em Vitória Régia, a poucos quilômetros de Brasília. Mas, segundo um porta-voz, a instituição foi fechada há dois anos, depois de 14 anos de funcionamento, porque foi alvo de assaltos diversas vezes.
A instituição estaria procurando uma outra localidade para abrir uma nova sede no país.
Fonte: BBC Brasil