O porta-voz do Vaticano, padre Federico Lombardi, afirmou neste sábado que os escândalos de pedofilia que atingem duramente a Igreja Católica em diversos países devem ser tratados com rigor e sem hipocrisia.

Lombardi afirmou ainda que o Vaticano será capaz de superar a nova crise, que chegou a atingir até mesmo o papa Bento 16, acusado de acobertar padres acusados de abusos.

“Este é um tempo de verdade, de transparência e de credibilidade. O segredo e a reserva não são valores que vão para o melhor. É preciso estar em condições de não ter nada a esconder”, disse Lombardi.

Em um discurso no encontro “Testemunhas digitais. Rostos e linguagens na era da mídia”, promovido pela Conferência Episcopal Italiana (CEI), o porta-voz assegurou que “o preço que estamos pagando diz que nosso testemunho deve ir na linha do rigor e da recusa de qualquer hipocrisia”.

“Devemos levar alegria, lealdade e verdade. Devemos ser testemunhas críveis daquilo que dizemos e fazemos, para que se entenda que dentro de qualquer palavra há nossa mente e nosso coração”, acrescentou.

O porta-voz disse ainda que é necessário “tentar colocar-se no ponto de vista do outro, compreender suas perguntas e a mentalidade, para fazer um caminho juntos”.

Ele disse que o Vaticano pé capaz de identificar suas feridas sinceramente e obter a graça da cura.

Encontro

Mais cedo, em um texto publicado no site da Rádio Vaticana, Lombardi lembrara da reunião mantida entre o papa Bento 16 e oito vítimas de abuso sexual por religiosos católicos, durante sua viagem a Malta, no final de semana passado.

Ele comentou que o evento “encontrou seu significado de esperança no contexto do encontro do papa com uma Igreja viva e no caminho, capaz de reconhecer suas feridas com sinceridade, mas também de obter a graça do renascimento”.

“O modo com o qual alguns participantes falaram, tocou em profundidade inúmeras pessoas: um grande peso foi removido de seus corações, a cura estava sendo iniciada, a confiança e a esperança renasciam”, explicou.

Renúncias

Vários bispos renunciaram nas últimas semanas, a maioria sob o peso da acusação de que acobertaram padres acusados de abuso sexual de crianças.

Nesta sexta-feira, o bispo a mais tempo em serviço da Bélgica renunciou após assumir que abusou sexualmente de um garoto como padre e depois de se tornar bispo.

O ex-bispo de Bruges, Roger Vangheluwe, nasceu na cidade de Roeselare e foi ordenado padre em Bruges aos 26 anos. Ele foi indicado como bispo da cidade histórica em 1984, aos 48 anos, cargo que manteve por 25 anos até sua renúncia nesta sexta-feira. Ele deveria se aposentar no ano que vem.

O abuso ocorreu há mais de 20 anos, e não há detalhes sobre qual seria a idade do menino na época. O bispo belga renunciou após uma pessoa próxima à vítima ter reclamado à Igreja.

Nesta quinta-feira (22), o papa Bento 16 finalmente aceitou a renúncia do bispo irlandês James Moriarty, o terceiro bispo da Irlanda a deixar o cargo só nos últimos quatro meses.

Moriarty entregou sua renúncia em dezembro do ano passado, depois que um relatório oficial o incluiu numa lista de líderes da igreja na arquidiocese de Dublin que encobriram casos de abusos de crianças cometidos por padres por 30 anos. Ele foi bispo auxiliar de Dublin por 11 anos, antes de ser nomeado em 2002 bispo de Kildare e Leighlin.

Na Alemanha, o bispo de Augsburg (no sul do país), Walter Mixa, também apresentou pedido de renúncia a Bento 16 após acusações de violência física contra alunos de um orfanato nos anos 1970 e 1980.

O bispo provocou uma grande polêmica na Alemanha depois da recente publicação na imprensa dos depoimentos de ex-alunos do orfanato católico de Schrobenhausen, que o acusaram de violências físicas quando ele era padre na região.

Depois de ter negado em um primeiro momento as acusações, o bispo Mixa admitiu ter cometido os abusos aos alunos no período em que esteve à frente do orfanato, e pediu desculpas pelos seus atos.

Fonte: Folha Online

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