O Vaticano lamentou nesta terça-feira a aprovação pela Igreja anglicana da ordenação de mulheres bispos e afirmou que essa decisão constitui “um novo obstáculo para a reconciliação” entre as duas igrejas.

Em um comunicado oficial, a Santa Sé admite que a decisão da Igreja da Inglaterra “terá conseqüências para o diálogo” entre anglicanos e católicos, “que estava começando a dar frutos”.

Os sacerdotes e bispos da Igreja católica são exclusivamente de sexo masculino e as mulheres não podem oficiar as missas.

A nota do Vaticano, assinada pelo Conselho Pontifício para a Unidade dos Cristãos, enfatiza que a decisão dos anglicanos constitui “uma desvinculação da tradição apostólica respeitada por todas as igrejas no primeiro milênio de existência”.

A Igreja Anglicana votou nesta segunda-feira a favor da ordenação de mulheres bispos, após um debate marcado pelas divergências entre conservadores e liberais, informou a rede britânica de televisão Sky News.

Mais de 1.300 sacerdotes ameaçavam deixar a Igreja Anglicana se o Sínodo Geral (corpo legislativo da igreja) aprovasse a polêmica iniciativa, provocando temores sobre uma potencial cisma.

O Sínodo Geral, por sua vez, se recusou a adotar medidas de compromisso para compensar os religiosos contrários à ordenação de mulheres bispos.

A votação aconteceu na cidade de York, no norte da Inglaterra, nas três câmaras do Sínodo. Os bispos se pronunciaram a favor por 28 votos a 12, o clero por 124 a 44 e os laicos por 111 a 68, segundo o jornal britânico Times.

Todo o processo durou oito horas e foi acompanhado por calorosos debates entre as duas correntes.

Além da decisão sobre a permissão para que mulheres sejam ordenadas bispo, o Sínodo decidiu contra a criação de três “superbispos” masculinos e de novas dioceses para as paróquias que não quiserem aceitar mulheres bispos.

O arcebispo de Canterbury, Rowan Williams, que será o anfitrião da próxima conferência de bispos anglicanos de todo o mundo, marcada para acontecer em Londres, em agosto, havia advertido sobre os “riscos” dessas divisões.

Mais de mil sacerdotes anglicanos escreveram ao arcebispo de Canterbury e primaz anglicano anunciando sua decisão de romper com a Igreja da Inglaterra, igreja mãe da comunidade anglicana, caso o bispado feminino não fosse vetado no Sínodo.

A Igreja Anglicana reúne cerca de 77 milhões de fiéis.

Para os conservadores, práticas como a ordenação de mulheres bispos e clérigos homossexuais – tema que também causou polêmica no seio da religião nos últimos anos – gera dúvidas quanto à interpretação dos textos sagrados da Bíblia.

Os liberais, no entanto, argumentam que chegou a hora de tentar uma abordagem mais abrangente.

As divisões na Igreja Anglicana começaram a se evidenciar em 2003, quando seu braço americano ordenou Gene Robinson, um clérigo abertamente homossexual, como bispo de New Hampshire (nordeste).

As tensões aumentaram no ano passado, com a escolha de uma mulher para representar a comunidade anglicana dos Estados Unidos, que conta com 2,5 milhões de fiéis, e com os casamentos homossexuais.

A maioria dos braços da Igreja Anglicana no Terceiro Mundo resiste a adotar medidas como a ordenação de mulheres como bispos e é contra a homossexualidade.

Quinze províncias episcopais votaram a favor do bispado feminino, entre elas as do México e da América Central. Quatro delas – Austrália, Canadá, Nova Zelândia e Estados Unidos – já ordenaram mulheres.

Em um conclave realizado há alguns dias em Jerusalém, anglicanos conservadores se comprometeram a permanecer na Comunhão Anglicana mundial, mas integrando um conselho de bispos próprio, o que equivale a ignorar a autoridade do Arcebispo de Canterbury.

Fonte: AFP

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