O vazamento e publicação de documentos secretos do Vaticano não assusta o papa Bento 16, afirmou neste domingo o porta-voz da Santa Sé, Federico Lombardi.
“O papa conhece os problemas da Igreja, que são muitos. Não se assusta com a situação gerada pelo vazamento e publicação de documentos reservados”, disse Lombardi em Milão à imprensa italiana, ao comentar a publicação de novos dados secretos pelo jornal romano “La Repubblica”.
O porta-voz destacou que não se surpreendeu com a publicação desses novos documentos, como também não se surpreenderia se outros forem publicados nos próximos dias. “Está claro que quem recebeu essa quantidade de documentos inicia sua estratégia para conseguir seus objetivos”.
O “La Repubblica” publicou neste domingo três novos documentos reservados do Vaticano, dois deles sobre o secretário de Estado, cardeal Tarcisio Bertone, e o secretário privado do papa, Georg Gaenswein, e um terceiro referente ao Camino Neocatecumenal, movimento fundado pelo artista espanhol Kiko Argüello.
O jornal indica que os documentos foram vazados por “Il Curvo”, codinome da pessoa (ou pessoas) que há meses tem divulgado à imprensa documentos secretos enviados a Bento 16 e a seu secretário particular.
Junto aos documentos, o “La Repubblica” publica uma carta escrita em um computador, intitulada “Expulsar os responsáveis do Vaticano”, na qual “Il Curvo” qualifica de “bode expiatório” o mordomo do papa, Paolo Gabriele, detido desde 24 de maio, acusado de ter roubado documentos secretos de Bento 16 e vazá-los à imprensa.
Segundo “Il Curvo”, deve-se buscar a “verdade” no poder central, “ou seja, no arquivo privado do monsenhor Georg Gaenswein, de quem saem continuamente documentos reservados em favor do cardeal Bertone”.
Gabriele, por enquanto segue preso em uma sala de máxima segurança do Vaticano. A expectativa é ele seja interrogado nesta segunda ou terça-feira pelo juiz Piero Bonet. Segundo seus advogados, ele estaria disposto a colaborar com a Justiça vaticana para que se busque a “verdade”.
Neste domingo, um grupo de amigos de Gabriele se reuniu na praça de São Pedro do Vaticano em uma prece por ele. Eles insistiram na inocência do amigo e que, se causou algum dano, foi “pensando no bem da Igreja”.
O escândalo do vazamento de documentos secretos começou no início deste ano, quando uma emissora de televisão italiana divulgou cartas enviadas a Bento 16 pelo núncio apostólico nos Estados Unidos e ex-secretário-geral do Governatorato da Cidade do Vaticano (governo que administra este Estado), arcebispo Carlo Maria Viganó.
O conteúdo delas deixava clara a insatisfação do arcebispo com a “corrupção, prevaricação e má gestão” na administração vaticana.
Em meados de abril, o papa criou a Comissão Cardinalícia, presidida pelo espanhol Julián Herranz, de 82 anos, para esclarecer os fatos.
No dia 19 de maio, publicou o livro “Sua Santità”, de Gian Luigi Nuzzi, com uma centena de novos documentos vazados do Vaticano que revelam tramas e intrigas no Estado.
Cinco dias mais tarde, foi detido o mordomo, em cuja casa, dentro do Vaticano, a Gendarmaria vaticana encontrou numerosos documentos secretos.
As suspeitas se centraram em Gabriele, segundo fontes vaticanas, ao comprovar que o livro de Nuzzi incluía um documento enviado ao papa e que ainda não tinha sido arquivado, o que dava a entender que teria sido furtado por pessoas muito próximas ao pontífice.
[b]Cardeal Bertone, número 2 do Vaticano, denuncia ‘ferozes’ ataques ao Papa[/b]
O cardeal Tarcisio Bertone, número dois do Vaticano, denunciou nesta segunda-feira (4) à noite os ataques “ferozes, mordazes e organizados” contra Bento 16, no caso dos vazamentos de documentos confidenciais no Vaticano, afirmando, contudo, que não assustam o Papa.
“Os ataques instrumentalizados sempre existiram, em todas as épocas (…), contudo, desta vez parece que esses ataques são mais precisos, algumas vezes também ferozes, mordazes e organizados”, declarou em uma entrevista ao canal de televisão público Rai 1.
Bento 16 “não se assusta, de maneira alguma, com os ataques, qualquer que seja seu gênero”, acrescentou.
“O que é mais triste, neste caso e nestes acontecimentos, é a violação da vida privada do santo padre e de seus colaboradores mais próximos”, observou o cardeal, que falou publicamente, pela primeira vez, sobre este caso que afeta o Vaticano há várias semanas.
[b]Fonte: EFE e AFP[/b]