O papa Bento 16 chega neste sábado à Espanha para uma visita de 32 horas que já vem sendo marcada por protestos e polêmicas.

O pontífice – que já esteve em 2006 na Espanha – irá no sábado visitar a cidade de Santiago de Compostela, no noroeste do país, e no domingo vai a Barcelona, onde consagrará o templo da Sagrada Família, que passará a ser uma basílica após 128 anos de construção.

Segundo artigo publicado no jornal El Mundo, na região de Castilla y León (norte do país), os bispos e arcebispos locais manifestaram sua “alegria” com a visita do pontífice, afirmando que ela reforçará a fé cristã no país.

O grupo católico conservador Ecclesia reuniu mais de mil assinaturas de personalidades que “agradecem a visita num momento de grave crise econômica e social que afunda o país em uma profunda crise moral”, disse à BBC Brasil Maria Pelayo, uma das promotoras do abaixo-assinado de boas-vindas.

Na Catalunha (região do nordeste da Espanha onde fica Barcelona), um grupo de 36 personalidades civis e eclesiásticas também veio a público com um manifesto de apoio e boas-vindas ao papa.

Mas pelo menos 147 instituições católicas condenam a visita e desde quinta-feira, mais de 70 organizações civis já vem realizando protestos.

A posição da igreja em relação a assuntos como o aborto, os gastos com a viagem do papa (que custará ao governo espanhol R$ 7 milhões) e a forma como vem sendo apuradas as suspeitas de abusos sexuais atribuídos a sacerdotes católicos são alguns dos motivos que mobilizam os manifestantes.

[b]Abusos[/b]

O teólogo e presidente da organização Redes Cristãs, Evaristo Villar, representante de 147 instituições católicas contrárias à visita, considera a viagem “uma tentativa do Vaticano de mostrar poder e desafiar o Estado perante leis como a do aborto, casamento gay e a futura lei de liberdade religiosa”.

Pelo menos cem das pessoas que se opõem à vinda do papa se declaram vítimas de pedofilia dentro da Igreja e pedem o afastamento de Bento 16, considerando-o último responsável pelos crimes.

“Não o único, mas sim o último. É preciso que os maiores dirigentes de uma organização claramente piramidal assumam suas responsabilidades”, disse à BBC Brasil o presidente da associação Igreja Sem Abusos, Carlos Sánchez Mato.

O país tem menos casos divulgados de pedofilia do que outros países, como os Estados Unidos, onde há mais de 4,5 mil sentenças a favor de vítimas.

O ex-professor de catecismo Sánchez Mato disse que as vítimas de abuso cometidos por religiosos na Espanha “não se atrevem (a reclamar na Espanha) por medo de pressões, por acreditar que não conseguirão nada e porque aqui a Igreja ainda manda muito”.

“O que pedimos é que haja investigação. Na Bélgica houve e apareceram 1,5 mil casos”, diz Mato.

Para a Igreja Católica espanhola nem há tantos casos nem tanta razão para reclamar. Essa foi a razão alegada para o papa não se encontrar com vítimas de abusos sexuais durante a viagem à Espanha.

“Não nos consta que existam tanto pedidos de encontros ou denúncias”, disse à BBC Brasil a assessoria de imprensa da Conferência Episcopal da Espanha.

[b]’Habemus party’
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As 70 organizações civis que já vem protestando contra a visita reúnem ativistas laicos, sindicatos e associações de defesa dos direitos dos homossexuais.

Na quinta-feira, eles iniciaram as manifestações do “Habemus Party” – um trocadilho misturando a frase usada no anúncio de um novo papa no Vaticano (Habemus Papa) com a palavra inglesa party, que significa festa.

Os organizadores convocaram a população para atos simbólicos polêmicos como um encontro de mulheres vestidas de prostitutas e um “beijaço” de homossexuais nas ruas próximas à catedral de Barcelona no momento em que o Papa estiver na Sagrada Família.

Quase sete mil pessoas pagaram os gastos de um ônibus anti-Papa que circula por Barcelona com dois cartazes. Um deles diz Deus provavelmente não existe. Desfrute a vida. O outro diz Eu não te espero!

Estão previstas também uma palestra com o título de Santa Máfia: o império econômico da igreja e a distribuição de mais de 30 mil objetos como adesivos, bandeiras e cartazes contra o papa Bento 16.

Preocupada com a segurança do pontífice, polícia espanhola está analisando um documento de 11 páginas encontrado numa rua de Barcelona que teria todo o plano de segurança da viagem do Papa.

O informe, com carimbo do Ministério do Interior, inclui nomes, telefones, emails e outros dados confidenciais mas, segundo o governo, a segurança está controlada.

[b]Fonte: Estadão[/b]

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