Um grupo de voluntárias brasileiras da entidade católica de auxílio a dependentes químicos Fazenda Esperança foi detido na quarta-feira no aeroporto de Madri e impedido de seguir viagem para Alemanha, onde visitaria representantes do projeto.

Elas dizem ter ficado detidas no aeroporto internacional de Barajas por mais de 26 horas, antes de serem mandadas de volta para o Brasil. Apenas um das integrantes do grupo de cinco pessoas foi autorizada a seguir viagem.

“A gente fica muito indignada pela falta de respeito com que nos trataram”, disse Elza Cortez, auxiliar de escritório da Fazenda Esperança de Guaratinguetá. Ela ia para Alemanha para visitar a filha, que trabalha há três anos em uma representação do projeto nos arredores de Berlim.

Ela e as colegas Eliana de Almeida, Aída da Silva e Maria da Conceição Rocha chegaram a Madri na quarta-feira, às 9h45, e embarcaram de volta para o Brasil por volta do meio-dia do dia seguinte.

De acordo com Elza, o grupo de brasileiros que embarcou de volta com elas contava com mais de 20 pessoas.

“Era muita gente junta no mesmo local. Sentimos uma pressão psicológica muito grande. Os policiais nos escoltaram até a porta do avião”, lembra.

Ela também reclamou do tratamento dado aos brasileiros.

“Os policiais ficaram com todos os nossos medicamentos e tinha gente passando mal, pessoas doentes, com problemas de coração, uma senhora com oito meses de gravidez”, lembra.

“Eu mesmo tenho problema de diabetes e tenho que comer de duas em duas horas”.

Motivo arbitrário

Segundo as brasileiras, os policiais espanhóis alegaram que elas não possuíam os documentos e recursos financeiros necessários para prosseguir viagem.

“Não entendo porque me deixaram passar e não as outras, embora estivéssemos com os mesmos papéis”, diz Rita Correa, a única que conseguiu pegar o vôo para Berlim.

Para ela, o motivo para o impedimento de suas amigas teria sido arbitrário.

“Apresentei meu passaporte, o papel da imigração preenchido e passei”, recorda. “Minhas amigas, que não tinham preenchido o formulário ainda, tiveram que retornar e, após mostrarem o passaporte, foram levadas para interrogatório”.

Mathias Laminski, o padre alemão que havia convidado as brasileiras para visitarem Berlim, também afirmou que o grupo estava com a documentação em ordem.

“Elas estavam com toda a documentação necessária, incluindo seguro de saúde e uma declaração nossa, em alemão, carimbada pela paróquia, assumindo todas as despesas da estada do grupo”, afirma.

Laminski se mostrou indignado com a atitude dos policiais espanhóis do aeroporto de Madri. Segundo o religioso, os guardas não quiseram se identificar ao telefone e usavam de sarcasmo ao responder a suas perguntas.

“Um deles chegou a dizer que o motivo para repatriar os passageiros dependia do ânimo do chefe ou se o oficial do dia tinha dor de estômago ou não”, afirma o padre. “Isso é uma atitude revoltante”.

Documentação

A polícia espanhola do controle de fronteiras do aeroporto de Barajas afirma que a maioria dos casos de brasileiros barrados acontece por falta da documentação necessária.

Sem citar este caso específico (as autoridades apenas confirmaram que um grupo de sul-americanos teve a entrada negada em Barajas), a polícia afirmou que o turista deve demonstrar com provas materiais que não permanecerá como imigrante ilegal no país.

Segundo um policial do aeroporto, “não há discriminação com brasileiros, nem com nenhuma nacionalidade” e as normas “são para todos”.

O oficial afirmou à BBC Brasil que os turistas sul-americanos que pretendem fazer escala na Espanha têm que viajar com o visto Schengen. O carimbo é uma prova de que o passageiro seguirá viagem para outro país da União Européia e tem livre circulação na região.

Na lista de documentos necessários estão ainda reservas de hospedagem, contatos de pessoas a quem visitará, cartão de crédito ou dinheiro (cota de 60 euros por dia de estadia) e o visto Schengen, apenas para quem faz escala na Espanha. Para desembarcar em Madri como turista, não é preciso visto.

Consulado

O cônsul brasileiro em Madri, Gelson Fonseca, explicou à BBC que o governo brasileiro “pouco ou nada pode fazer nesses casos”.

“É verdade que a polícia tem autoridade para escolher quem entra e quem não. O consulado tenta ajudar, demonstrar que o visitante está dizendo a verdade. Entramos em contato com o Ministério do Interior e colocamos uma queixa oficial, mas a polícia tem a última palavra. Não basta dizer que foram convidadas por alguém, que resolverão quando chegar lá… A polícia pede provas e quem não dá, não entra. Aconteceu de novo com esse grupo e eu lamento”, disse o cônsul.

No início deste ano, Brasil e Espanha enfrentaram uma crise diplomática pelo aumento de casos de brasileiros detidos em aeroportos espanhóis e deportados para o Brasil.

Fonte: BBC Brasil

Comentários