Um levantamento parcial feito pelo Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap), divulgado nesta última semana, revelou que a bancada evangélica, no Congresso, ficará menor na próxima legislatura. Para o cientista político e bispo anglicano, Robinson Cavalcanti (foto), a redução da bancada federal confirma a tendência de queda de eleição de “políticos evangélicos”.

No Nordeste também houve redução na bancada, havendo casos de estados que sequer terão representantes evangélicos na Câmara Federal nos próximos quatro anos. Segundo o Diap, a imagem dos evangélicos sofreu desgaste por conta do envolvimento de parlamentares nos escândalos do mensalão e das sanguessugas.

Para alguns especialistas, essa redução confirma a tendência da transformação do voto dos protestantes, principalmente, dos pentecostais, que são a principal força evangélica no Nordeste, somando cerca de 3,2 milhões de fiéis, segundo o censo de 2000 realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Para o cientista político e bispo da Igreja Catedral Anglicana do Bom Samaritano, no Recife, Robinson Cavalcanti (foto), a redução da bancada federal em quase 50% confirma a tendência de queda de eleição de “políticos evangélicos”. “A questão do voto automático, do eleitor seguir a indicação feita pela igreja, está diminuindo. Isso significa que o voto do eleitor evangélico, principalmente dos pentecostais e neopentecostais, está ficando mais independente”, avaliou.

Já os “evangélicos políticos”, que, segundo Cavalcanti, desempenham um papel de liderança na sociedade, erguendo bandeiras que extrapolam os interesses da igreja, estão sendo preteridos pelo eleitorado. Ele cita dois exemplos dessas lideranças no Nordeste, o deputado federal reeleito, Walter Pinheiro (PT-BA), e o deputado estadual eleito, Ayrinho (PSB-PE). “Walter é um petista com convicções éticas protestantes, mas que não compartilha do bloco fisiológico que troca voto por favores. Já Ayrinho chega à Câmara com uma história de líder comunitário em Salgueiro (Sertão de Pernambuco)”, defendeu.

Na avaliação do cientista político e professor da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ), César Romero Jacob, os pastores, freqüentemente, exercem influência sobre os fiéis. A conclusão é resultado de uma pesquisa, com foco nas eleições presidenciais, mostrada em seu livro “Religião e Sociedade em capitais brasileiras”.

De acordo com Jacob, é nas periferias metropolitanas onde, freqüentemente, o Estado está ausente e a população, fragilizada, dando margem ao surgimento de políticos populistas e de evangélicos pentecostais. “É justamente no meio da população de baixa renda que os pentecostais entram e direcionam voto. Para se ganhar uma eleição de presidente, por exemplo, é preciso buscar apoio de pastores evangélicos na periferia, que constroem currais eleitorais, mas que o eleitor não se dá conta”, analisou.

Cruzando os dados do censo de 2000 do IBGE com a sua pesquisa, o cientista político constatou que os pentecostais nas periferias metropolitanas chegam a 27% no Recife, 16% em São Luís, 10% em Teresina, 15% em Fortaleza, 14% em Natal, 15% em Maceió e 18% em Salvador. “Um candidato que buscasse apoio dos pentecostais nas periferias conseguiria um percentual bastante expressivo desse voto”, concluiu.

Construindo suas bases eleitorais na Região Metropolitana do Recife, o deputado estadual reeleito Pastor Cleiton Collins (PSC-PE), membro da Assembléia de Deus, foi o candidato mais bem votado para a Câmara Estadual, com 89.585 votos. Atribuindo seu desempenho nas urnas a Deus e a seus trabalhos nas comissões de incentivo à humanização social, o deputado diz que obteve votos, também, no eleitorado não-evangélico e que o seu eleitor votou por “identificação natural” com o candidato, não por sugestão da igreja. “Não acredito em troca de votos por favores. A igreja não necessita de política, mas o ser humano precisa da representação. Isso pode existir por parte de algumas denominações, mas não podemos jogar todos no mesmo balaio. A maioria dos envolvidos nos escândalos (sanguessugas e mensalão) é da Universal. Eu nunca usei púlpito de igreja para pedir voto”, argumentou.

Fonte: Último Segundo

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