Partido saltou de 1 para 9 deputados federais, todos evangélicos, desde 2006; legenda terá candidatura própria em quatro capitais nas eleições de outubro e tenta se descolar da igreja.

Fundado em 2003 com outro nome, Partido Municipalista Renovador (PMR), e rebatizado em 2005 como Partido Republicano Brasileiro (PRB) pelo então presidente de honra da legenda e vice-presidente da República, José Alencar, que era católico, a sigla que para muitos se transformou em uma espécie de “braço político” da Igreja Universal do Reino de Deus (IURD) está em rota de crescimento. Contando atualmente com uma bancada de nove deputados federais em exercício e um senador no Congresso Nacional, a legenda elegeu 54 prefeitos, 30 vice-prefeitos e 780 vereadores em 2008 e, em 2012, disputará mais de 300 prefeituras, das quais 32 em municípios com mais de 100 mil habitantes.

Segundo dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), que ainda contabiliza o número total de registros em todo o País, o PRB havia protocolado 266 candidaturas a prefeito, 298 a vice-prefeito e 11.677 a vereador até as 13h desta sexta-feira (13). O partido deve superar seus próprios números de quatro anos atrás, quando teve 274 candidatos a prefeito, 304 a vice-prefeito 9.111 às vagas nas Câmaras Municipais. O TSE deve finalizar a totalização dos dados nos próximos dias.

Em 2006, na primeira eleição da qual o PRB participou, o partido elegeu um deputado federal – o pastor evangélico Léo Vivas (RJ), da IURD, com 83.127 votos – e três deputados estaduais, além de reeleger o vice-presidente José Alencar na chapa de Luiz Inácio Lula da Silva (PT). A legenda foi apenas a 22ª mais votada para a Câmara. Quatro anos depois, em 2010, o número de deputados federais eleitos saltou para oito, e o de deputados estaduais, para 17, além de um deputado distrital. Atualmente, a bancada do PRB na Câmara tem nove deputados, já que o pastor Zacarias Vilharba, o Deputado Vilalba (PE), assumiu em fevereiro de 2011 a cadeira do petista Maurício Rands, que deixou o mandato para ser secretário das Relações Institucionais do governo Eduardo Campos (PSB) em Pernambuco.

Em março de 2011, com a morte de José Alencar, o PRB perdeu seu presidente de honra e principal idealizador. A data marcou uma mudança na legenda que, embora tente descolar sua imagem da Igreja Universal, ampliou o espaço de pastores e ex-pastores em seus quadros. Um exemplo é o próprio presidente da legenda, o advogado Marcos Pereira, que assumiu em maio daquele ano. Pereira é membro da IURD e também trabalhou na TV Record, cujo dono é o bispo Edir Macedo, entre 1994 e 2010.

Hoje, sete dos nove deputados federais do partido são da IURD: Antonio Bulhões (SP), Vitor Paulo (RJ), Heleno Silva (SE), Márcio Marinho (BA), Otoniel Lima (SP), George Hilton (MG) e o próprio Vilalba. As exceções são Jonathan de Jesus (RR), que é da Igreja Batista, e o ex-pugilista Acelino Freitas, o Popó (BA), da Igreja Batista Caminho das Águas – da qual está ligeiramente “afastado” neste momento, segundo sua assessoria. Cleber Verde (MA), que se licenciou do mandato em maio deste ano, é da Assembleia de Deus. De todos eles, apenas Vilalba não aparece na lista de integrantes da Frente Parlamentar Evangélica (FPE), associação criada por parlamentares para defender os interesses dos evangélicos no Congresso.

No Senado, o único representante do PRB é Eduardo Lopes (RJ), bispo da IURD, que era suplente do senador Marcelo Crivella, sobrinho de Macedo. Lopes herdou a vaga do titular, que assumiu o Ministério da Pesca do governo Dilma Rousseff em março deste ano, e é vice-presidente nacional do PRB e também vice do diretório do partido no Rio. Ele ainda exerce a função de coordenador político da IURD no Rio, tendo sucedido no posto o deputado federal Vitor Paulo, que hoje exerce o mesmo papel em nível nacional. “Eu atuo no sentido de formação política, mas não só com quem é da igreja. É uma coordenação político-partidária, com palestras sobre o Legislativo, consciência política, formação política… E é totalmente aberto. Não tem conflito. A gente trabalha pelo crescimento político do partido”, diz o senador.

Nas eleições municipais deste ano, o partido terá candidaturas próprias em quatro capitais: São Paulo (Celso Russomanno), Salvador (o deputado federal e bispo Márcio Marinho), Maceió (Galba Novaes, vereador e presidente da Câmara Municipal) e Boa Vista (Mecias de Jesus, pai do deputado Jonathan de Jesus). Em 2008, o PRB teve candidato próprio em apenas uma capital, o Rio, com Marcelo Crivella. Além disso, em 2012, a legenda indicou o bispo Ivo de Assis como candidato a vice-prefeito na chapa de Pauderney Avelino (DEM) em Manaus. E tem nomes competitivos em cidades importantes como Nova Iguaçu (RJ), com o vereador Marcos Fernandes; em Caucaia (CE), com o prefeito e candidato à reeleição Washington Góes; em Jaboatão dos Guararapes (PE), com Paulo Bartolomeu Varejão; e em Contagem (MG), com o deputado federal George Hilton, o mesmo que em 2005 foi expulso do antigo PFL após ter sido flagrado no aeroporto de Belo Horizonte transportando dinheiro de doações de fiéis da IURD. Só no Estado do Rio, uma das bases eleitorais mais fortes do PRB, o partido terá 16 candidaturas a prefeito e 26 a vice-prefeito. Na capital fluminense, desta vez sem Crivella à disposição, a legenda decidiu integrar a coligação que apoia o prefeito Eduardo Paes (PMDB), candidato à reeleição.

“A gente quer crescer. O partido é jovem. E, obviamente, em 2014 gostaríamos de aumentar nossa bancada na Câmara e chegar a 15 deputados”, projeta Marcos Pereira, que rechaça qualquer relação entre a morte de Alencar, em 2011, e as novas diretrizes do partido. “Não tem nada a ver. Lamentamos muito a ausência dele, que sempre foi referência para todo o Brasil. Mas o ser humano é movido a desafios. E eu lancei um desafio para que nós dobrássemos nossa bancada de vereadores e o número de prefeitos em todo o País. Acho que nós vamos chegar a 100 prefeitos.” Já o senador Eduardo Lopes vê o pleito de 2012 um ponto de partida para que o PRB se consolide como uma força média do quadro partidário brasileiro. “Considero 2012 um ano-base de início de uma construção mais forte e mais ampla do partido. Eu projeto, a partir daí, o crescimento para 2014. Não podemos pensar mais em oito deputados, mas em dobrar esse número, principalmente se dobrarmos o número de vereadores. Depois, em 2016, já é uma eleição mais forte, porque vai criando um ciclo. Aumenta a base de apoio para a eleição municipal. É um ciclo virtuoso”, afirma.

Para Cristiano Noronha, analista político da Arko Advice, o PRB pode se beneficiar do crescimento de mais de 60% do segmento evangélico da população brasileira nos últimos dez anos, segundo dados do Censo Demográfico divulgados no fim de junho pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). “A expectativa da legenda é de crescimento. Isso pode ser um bom indicativo de que o partido pode continuar crescendo. Pode chegar a ter de 60 a 80 prefeitos. Se atingir esse número, é um resultado muito bom”, afirma.

[b]Partido da Universal?
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Apesar do forte predomínio de parlamentares ligados à IURD em suas bancadas no Congresso Nacional, o PRB vem tentando descolar sua imagem à da igreja comandada por Edir Macedo. Para Pereira, o fato de oito dos dez congressistas em exercício pelo PRB serem da IURD não passa de uma “coincidência”. “Esses deputados [evangélicos] em geral têm dificuldade em conseguir legendas porque têm uma votação mais fiel, mais consistente. Muitos partidos temem que esses parlamentares tirem a vaga de algum outro candidato deles”, explica. “No PRB, todos são bem-vindos e não há essa questão de religião. O próprio Celso Russomanno teve dificuldade em se lançar candidato pelo seu antigo partido [PP], veio para o PRB e é candidato a prefeito de São Paulo. Se tivesse ficado lá, não seria candidato. O PRB é o partido das oportunidades, independentemente de religião.”

O líder do PRB na Câmara, deputado Antonio Bulhões, admite que os candidatos oriundos da IURD se sentem mais confortáveis na legenda, mas garante que não há conflito de interesses. “O partido apresenta um perfil mais adequado para que esses deputados ligados à Universal se sintam mais confortáveis. Talvez pelo fato de nosso partido ser um tanto conservador e se adeque mais à questão religiosa em alguns temas como o aborto, por exemplo. Se fôssemos um partido mais liberal, talvez essa situação fosse mais delicada”, aponta. “Mas, como líder, tenho procurado fazer essa distinção. São dois entes distintos: a igreja tem a sua missão e o partido tem a missão dele. Nunca me vi numa encruzilhada ou tendo que atender à minha igreja. Não vejo conflito nenhum em estar ligado à corrente evangélica, como poderia ser a católica ou qualquer outra.”

Sucessor de Marcelo Crivella no Senado, Eduardo Lopes compara a força da bancada evangélica no PRB ao peso dos sindicalistas no PT. “É a origem, o nascimento, a gênesis. Seria errado dizer que o PT é dos sindicalistas, assim como é equivocado dizer que o PRB é dos evangélicos”, pondera. “Afirmar que o partido é da igreja é errado, mas o PRB nasceu de pessoas formadas na igreja. Tenho certeza de que o PT hoje é um partido aberto, como é o PRB.”

Segundo Cristiano Noronha, o PRB pode até se beneficiar da ligação com os evangélicos, mas ela por si só não é garantia de voto nas eleições. Ele diz que a agremiação precisa ampliar os horizontes para se consolidar. “Os evangélicos abrem uma possibilidade de crescimento para o partido, mas não vejo que seja a linha de chegada. Eles têm que conquistar outras parcelas da população demonstrando que também pensam em outras religiões. Se você se restringe ao seu segmento, impõe um limite que não te deixa passar disso. Não é porque o sujeito é evangélico que vai votar em um evangélico”, avalia.

Vice-líder na corrida pela Prefeitura de São Paulo de acordo com a última pesquisa Datafolha divulgada no fim de junho, com 24% das intenções de voto, Celso Russomanno parece também já ter encampado a tentativa de dissociar sua candidatura da IURD. “Creio que uns 80% dos membros do PRB são de todos os outros segmentos religiosos: cristãos católicos, evangélicos, protestantes… Não existe isso de imposição da religião A, B ou C”, disse em entrevista ao iG no mês passado. Dias depois, na oficialização da candidatura, Russomanno, que é católico, disse: “Não vou discutir temas religiosos”. Em entrevista à Record News na semana passada, o candidato do PRB afirmou que recebe com “muita gratidão” o apoio dos evangélicos, mas ao ser questionado se representava este segmento na eleição, respondeu: “Sou católico”.

[b]Fonte: Cenário MT[/b]

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