A síndrome de José Mayer

Alguns atores ficam marcados por papéis inesquecíveis, outros pelo carisma fora das telas e outros ainda por suas posições políticas. Mas no caso do ator brasileiro José Mayer, o que marca sua trajetória é nem tanto um papel específico mas a recorrência de um determinado perfil de personagem tem lhe conferido um lugar no imaginário popular.

O citado ator quase sempre acaba interpretando nas novelas da Globo o tipo garanhão, machão arrebatador que conquista todas as mulheres do pedaço. (Um detalhe sobre a globo; como a emissora se recusa a chamar as equipes de Formula 1, meu esporte favorito, pelo nome correto e insiste em só usar infames siglas por motivos financeiros e não jornalísticos, doravante não mais me referirei à Rede Globo de Televisão pelo seu nome completo, mas sim pela sigla RGT.)

Depois de ter encarnado entre outros, o bem dotado “Osni” em “Tieta” e o par romântico da ninfeta “Anita”, mesmo agora com seus mais de sessenta anos nas costas, Mayer foi mais uma vez escalado para viver um desses papeis machistas e maniqueístas, na novela da RGT “Viver a Vida”. E dessa vez está extrapolando, mesmo para o seu padrão; seu personagem atual é um desses ricaços que já casou varias vezes e trai todas as suas mulheres e namoradas sem a menor cerimônia. Aliás a novela em si já é um festival de traições por todos os lados; quase todos os personagens dão uma “pulada de cerca” em algum momento da trama. Parece que fidelidade e honestidade não dão muita audiência, mas dessa vez a RGT exagerou.

Tanto, que “Viver a Vida” está gerando muitos debates em programas de auditório, justamente sobre a temática da traição. E eu fico cada vez mais chocado com o liberalismo inconsequente da maioria das pessoas e dos apresentadores. Parece que para todos eles o adultério não é só normal e aceitável, mas praticamente inevitável. E aí sempre aparecem aquelas pesquisas científicas para corroborar esses argumentos, como aquela de um instituto sueco que afirmou ter encontrado o gene da infidelidade. Ou então mesmo uma cientista italiana que teve a cara-de-pau de afirmar que quanto mais traição houver, mais longo e feliz é o casamento. E a maioria das pessoas lê esses absurdos em uma revista qualquer e já vai achando que são fatos consumados e não apenas estudos preliminares. Uma verdade cientifica não é determinada por conta de um artigo apenas e leva muitos anos para ser comprovada. Mas, quando se procura argumentos vazios para se justificar alguma coisa…

Mas o fato mesmo é que a sociedade brasileira é tolerante demais com o adultério e alguns até acham bonito o tipo de personagem que José Mayer encarna. É como se a moral das pessoas tivesse uma sub-divisão para assuntos sexuais e não fosse afetada como um todo quando se comete um ato de adultério.

Quando um político como o Renan Calheiros, por exemplo, é pego em flagrante, sofre pouca ou quase nenhuma consequência, como se sua moral nem tivesse sido abalada pelo ocorrido. Alguns até chegam ao absurdo de elogiá-lo, como que dizendo “isso sim é que é macho!” Os Estados Unidos está muito longe de ser exemplo de moralidade, mas quando uma figura publica é pega no ato, as consequências são imediatas; basta ver o caso recente do golfista Tiger Woods, que perdeu milhões de dólares em contratos de publicidade depois que seus múltiplos casos foram revelados.

Nós cristãos deveríamos sempre nos manter fiéis às nossas doutrinas e princípios e não tolerar esse tipo de coisa, seja na política, nos esportes, nas piadas de salão ou mesmo nas novelas da RGT.

E o pobre do José Mayer, que me parece até ser gente boa e um cara “família”, casado desde 1975 com a mesma pessoa, vai ficar estigmatizado para sempre pelos seus personagens mesmo sem ter culpa no cartório.

Pois é, toda profissão tem seus ossos do ofício.

Um abraço,

Leon Neto

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