A África do Sul vive uma onda de violentos tumultos e saques desde o dia 9 de julho, inicialmente como protestos contra a prisão do ex-Presidente Jacob Zuma por desrespeito ao Tribunal Constitucional, ao recusar-se a testemunhar por corrupção.
As províncias mais afetadas pela violência são Gauteng e KwaZulu-Natal mas a violência alastra às províncias do Cabo do Norte e Mpumalanga, fronteira com Moçambique, e Essuatíni, antiga Suazilândia.
Os líderes das Igrejas de KwaZulu Natal, uma província costeira da África do Sul, apelaram à paz e ao fim da violência que afeta o país desde 9 de julho, quando o ex-presidente Jacob Zuma foi detido.
“Condenamos nos termos mais veementes possíveis os atos de incêndio de empresas, bem como a de assentamentos informais, a tensão racial típica onde africanos negros são atacados, as ameaças de ataque a estrangeiros ou ataques xenófobos e, com maior veemência as ameaças de lançamento de violência inter-racial”, pode ler-se num comunicado publicado no site da Conferência dos bispos católicos da África do Sul, após uma reunião virtual de emergência das Igrejas para avaliar a atual situação de violência e agitação em várias partes da província e do país.
Os líderes assinalaram “séria preocupação” sobre a violência, os saques e danos sobre a propriedade com um impacto “direto nos negócios, nos meios de subsistência e no acesso aos alimentos”.
“Condenamos, nos termos mais fortes possíveis, a violência que tem causado estragos em nossa província: destruindo propriedades, infraestrutura e negócios, intimidando pessoas inocentes e causando medo e ansiedade generalizados. Afirmamos que isso é totalmente inaceitável e não pode, em hipótese alguma, ser tolerado ”, disse o cardeal Wilfrid Napier, arcebispo de Durban.
Os responsáveis religiosos, reconhecendo “diferentes pontos de vista e opiniões sobre as questões sociopolíticas da época”, pedem o diálogo e “intervenções práticas” das partes envolvidas, em detrimento da violência.
A desigualdade “histórica” pede atitudes urgentes, para reduzir “o abismo gritante e imoral entre os ricos e as pessoas marginalizadas”.
“Instamos os nossos líderes políticos, sociais e comunitários a apelar e se posicionar pela paz e tranquilidade, para que as questões do dia possam ser abordadas com a participação de líderes de todos os setores da sociedade”, disse o cardeal Napier.
Em entrevista exclusiva ao site Guiame, o Pr. Brent Brading disse que muitos centros comerciais foram destruídos e roubados.
“Multidões de saqueadores furiosos estão roubando e queimando tudo. Não é seguro estar nas ruas e as pessoas estão com medo. Muitas perderão seus empregos e não terão acesso a alimentos e gasolina por semanas. É muito ruim”, disse.
O pastor da Outlook Church em Richard’s Bay diz que no início era apenas um protesto político, mas que acabou se tornando em “pilhagem e ilegalidade”.
Brent, que está em KwaZulu-Natal, uma das regiões do conflito, diz que “não sabemos por quanto tempo essa situação vai continuar. O presidente ordenou que o exército ajudasse a polícia, mas ainda não vemos nenhum sinal disso”.
Diante do atual cenário, o Pr. Brent iniciou um movimento de oração pela África do Sul e cita o Salmo 31:21 – “Louvado seja o Senhor, porque ele me mostrou as maravilhas do seu amor quando eu estava em uma cidade sitiada”.
Ele mostra os principais pontos que precisam de solução em seu país. “Estamos orando por nossa nação. Isso pode não ser politicamente correto, mas é o que fui levado a orar”, diz Brent.
Desafio da nação é desafio da igreja
Professora de teologia na Unisa – Universidade da África do Sul, em Pretória, Marilyn Naidoo diz que “há um distanciamento crescente entre ricos e pobres” o que gera uma desigualdade que deve ser resolvida. “A questão econômica deve ser atendida”, frisa a teóloga, dizendo quet ambém “está muito difícil para as igrejas, pois elas têm seus próprios desafios econômicos”.
Ela cita outras questões que culminaram na atual crise, como desigualdade entre classes sociais, raça e gênero.
Marilyn diz que as igrejas estão pedindo oração por meio das mídias sociais, já que agora não podem se reunir devido à pandemia de Covid. Ela diz que a igreja está ativamente envolvida na luta pela justiça, embora “alguns grupos fiquem apenas nas coisas espiritualizadas”.
Membro da Igreja Anglicana, ela lembra o papel do conhecido arcebispo Desmond Tutu, que dizia que “como igreja estamos sempre desafiando o governo sobre corrupção, justiça, etc.”.
A doutora em Teologia diz que “a igreja deve verdadeiramente representar os pobres entre nós e ser fiel ao seu chamado para ser igreja para todas as pessoas”.
Sobre a atual crise em seu país, Marilyn faz um apelo: “Por favor, ore por uma liderança piedosa, não por políticos famintos de poder na igreja; a igreja na África do Sul se tornou ‘preguiçosa’ e precisamos realmente viver nossa fé; por favor, ore por nós!”.
Folha Gospel com informações de Agência Ecclesia e Guia-me