“Morrer não é o problema. O problema é a forma como ele morreu”, resumia um dos inúmeros amigos do pastor Helnir Cortez, ontem, durante o enterro do fundador da Igreja Presbiteriana da Aldeota. O pastor emérito foi vítima de um assalto.

Os jovens se amparavam nos abraços e mantinham o olhar longe, tentando alcançar a resposta. Igualmente os mais velhos, embora mais vividos, não sabiam o por quê. “Como amigo, fomos criados juntos, na Igreja Central. Muita fé juntos… Fica a certeza de que Deus tem propósitos que só Ele conhece”, fala o educador Ednilton Gomes de Soárez. Assim, gerações se uniram na mesma crença para enterrar, ontem, o pastor fundador e emérito da Igreja Presbiteriana da Aldeota, Helnir de Melo Cortez, 74.

Na última terça-feira, Helnir Cortez pegou dona Célia – um casamento de 48 anos, três filhos e quatro netos – no ensaio do coral. Desceu do carro para abrir o portão de casa, no bairro Edson Queiroz, e dois assaltantes, armados com revólver, mudaram o curso da noite. “Ele nem reagiu”, o assombro passava de boca em boca, no velório do pastor.

“O Helnir era paciente, incapaz de exasperar-se… O que fica para nós é, exatamente, a morte de um cordeiro, que só fez o bem”, sintetiza o presbítero Anfrísio Gomes da Rocha Neto, arquiteto que projetou a Igreja Presbiteriana de Fortaleza, nos anos 70. “Morrer não é o problema. O problema é a forma como ele morreu”, completa o advogado Gerson Fonteles, indignado com a violência “contra um homem de bem. A revolta que dá é você perder um amigo como perdeu. Nesse momento, a dor maior é essa”.

“Mas temos a paz que vem do Senhor e que nos ajuda a suportar essa dor. A fé não é insensível à dor, mas ela nos dá esperança para suportarmos”, dialoga o pastor Francisco Jonatan Soares. Ele conviveu com Helnir Cortez “desde dos dez anos de idade” e, ontem, despedia-se de um segundo pai: “Foi ele quem fez meu casamento, batizou meus filhos e me fez pastor dessa igreja. Agora, temos a herança dele: a bondade”. “Sua vida, suas obras são, para nós, motivos de seguir seus passos”, ratifica o pastor Francisco Paixão, presidente da Ordem dos Ministros Evangélicos do Estado do Ceará – entidade que tinha Helnir Cortez como vice-presidente. “Ele me inspirava… Realmente, é uma lacuna muito grande que foi deixada”, acrescenta.

Helnir Cortez pastoreou várias igrejas presbiterianas no interior do Ceará e em São Paulo. Era formado em História e Teologia. O pastor emérito inspirava também a juventude presbiteriana. O seminarista Samuel Ribeiro, 26, já tinha marcado uma entrevista com ele. Queria conversar sobre a igreja na pós-modernidade. “Ele era muito sábio, via além do que eu mesmo via”, justifica a escolha. O compromisso ficou pendente.

Assim como a visita que Cortez faria à filha de um grande amigo, semana próxima. O professor Manassés Fonteles guarda uma amizade de meio século: “Ele permeava comigo várias vocações”. Professor (aposentado, da Universidade Estadual do Ceará) e humanista, “que sabia sobre muitas coisas”, Helnir e Manassés também se entretinham no estudo do hebraico. “Ele foi semeador da Igreja Reformada pelo Ceará”, destaca. Talvez por isso, ontem, havia tantas rosas e monsenhores no caminho até o cemitério Parque da Paz, dizendo sobre “amor e saudades infinitas”.

Mais

> Os primeiros protestantes que aqui aportaram eram presbiterianos de Nova Iorque, Nashiville e Recife, de 1880 em diante. Vinham com a missão de propagar as Escrituras.

> O pastor De Lacy Wardlaw organizou a Igreja Presbiteriana de Fortaleza, em 1890. Ele desembarcou, em 1882, com a mulher e a bagagem de Recife. Começou pregando na Praça dos Mártires (atual Passeio Publico).

> Entre 1915 e 1952, o potiguar Natanael Cortez se torna o principal pastor da Igreja Presbiteriana de Fortaleza. O pai de Cortez se convertera em contato com De Lacy. Cortez é lembrado como conciliador, ao lado de D. Delgado (arcebispo de Fortaleza, nos anos 60), pregando o ecumenismo.

Fonte: O Povo

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