Novo prefeito do Rio de Janeiro, Marcelo Crivella (PRB) foi eleito porque conseguiu aliar ao voto dos evangélicos um conservadorismo que atravessa diferentes igrejas, segundo estudiosos sobre religião e política ouvidos pelo UOL. Bispo licenciado da Igreja Universal do Reino de Deus, ele conquistou apoios além dos evangélicos, que representam 23% da população da cidade, segundo dados do Censo de 2010 do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
[img align=left width=300]http://imguol.com/c/noticias/b5/2016/10/31/31out2016—marcelo-crivella-prb-participa-de-comemoracao-em-madureira-a-zona-norte-do-rio-de-janeiro-um-dia-apos-ser-eleito-prefeito-da-cidade-1477950195941_615x300.jpg[/img]”Há uma onda de conservadorismo no país que aglutina diferentes grupos religiosos”, diz Maria das Dores Campos Machado, coordenadora do Núcleo de Religião, Gênero, Ação Social e Política da Escola de Serviço Social da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro).
Segundo Maria, Crivella conseguiu, de forma inédita, fazer com que o voto evangélico fosse prioritariamente para ele. Além disso, conquistou parte do voto católico.
“Crivella teve desta vez, por exemplo, apoio de Silas Malafaia [pastor da Assembleia de Deus Vitória em Cristo]. Na última eleição Malafaia sugeriu que não votassem nele [em Crivella]. Ele conseguiu ampliar suas alianças dentro do próprio campo evangélico e conseguiu também fazer algumas pontes no meio católico mais conservador”, diz a professora.
Edilson Pereira, professor do programa de pós-graduação em ciências sociais da Uerj (Universidade do Estado do Rio de Janeiro), também cita o apoio de Malafaia como importante para a vitória, assim como o conservadorismo que ultrapassa as diversas denominações religiosas.
“No final das contas, vários agentes religiosos são representantes de um conservadorismo que não se restringe a igrejas específicas”, afirma. “A questão é que talvez as categorias que a gente tenha para entender o que é o evangélico já não estejam mais dando conta.”
[b]Confluência de fatores
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Para Pereira, Crivella adotou uma bem-sucedida estratégia política de ocultar ou exibir sua filiação religiosa de acordo com o momento.
“É uma dinâmica que, de acordo com o interesse e o momento específico, a pertença religiosa, evangélica ou não, é considerada como valiosa ou como um problema”, explica. “Uma parte disso sem dúvida tem a ver com o público-alvo, com a ideia de que você consiga, independente de qual a religião de uma pessoa específica, de um candidato, passar a ideia de que as crenças dele não vão afetar o trabalho dele na administração pública.”
Além das questões relativas à religião e ao conservadorismo, a professora Maria das Dores Campos Machado cita uma “confluência de fatores” que também empurraram Crivella para a vitória nas urnas. Ela cita a derrocada do PMDB do Rio, que governa um Estado em crise financeira e não conseguiu avançar ao segundo turno com Pedro Paulo; a divisão da centro-direita na cidade, que tinha as candidaturas de Pedro Paulo, Carlos Osorio (PSDB) e Indio da Costa (PSD); uma elite econômica “que temia muito o Freixo e a esquerda”; e os altos índices de abstenção e votos brancos e nulos.
Todos estes fatores ajudam a explicar a eleição de Crivella em uma cidade marcada por festas nada conservadoras como o Carnaval, o Réveillon e a Parada Gay –o prefeito eleito disse que o município continuará bancando as “festas profanas”.
“Essa cidade não é só Carnaval, essa cidade também tem conservadores, ela é outras coisas também. Nesse balanço, o lado que está pesando é o lado mais conservador. E não é só no Rio, essa onda conservadora é no Brasil todo”, diz Maria das Dores.
[b]Fonte: UOL[/b]