Analistas ouvidos pela BBC Brasil divergem sobre os resultados da visita do papa Bento 16 ao Brasil e se ela será capaz de influenciar o comportamento dos brasileiros daqui para a frente.

Paulo Daniel Farah, professor da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (USP), acha que um dos efeitos da visita será levar a Igreja para o centro dos debates sobre temas que interessam aos católicos atualmente – como a educação sexual, o aborto, o uso da camisinha, o casamento de homossexuais, as pesquisas com embriões e a eutanásia.

“O papa conseguiu envolver a sociedade em discussões polêmicas, como o aborto, e marcar a posição da Igreja nesta discussão”, afirmou.

Embora o presidente Luiz Inácio Lula da Silva tenha reafirmado o caráter laico do Estado brasileiro, Farah acha que a visita deixa claro que a Igreja quer ser ouvida nessas questões.

“Quando ela traz este debate à tona, tem um grande ganho. Deixa bem claro aos católicos qual é sua posição e como eles devem se posicionar quando forem chamados a participar das decisões”, disse. “A posição da Igreja passa a ser levada em conta.”

“Influência limitada”

O sociólogo Luiz Alberto Gomez, diretor do Programa de Estudos Avançados em Ciência e Religião da Universidade Cândido Mendes, no Rio de Janeiro, acha que a visita não provoca nenhuma mudança substancial na relação da Igreja com o Estado.

“O papa não veio aqui fazer política ou pressões políticas”, afirma Gomez. “A Igreja não faz política, a Igreja dá princípios éticos, que iluminam a discussão política”, diz ele.

Gomez vê uma influência muito limitada da Igreja nas decisões políticas do governo brasileiro. “Durante muito tempo, parecia que a Igreja iria impedir a aprovação do divórcio, e o divórcio passou”, exemplifica.

“Há uma defasagem entre a doutrina e a prática. A doutrina é rígida, e a prática é bem mais flexível. Por exemplo, o uso da camisinha é uma prática comum. A prática vai avançando e a própria doutrina vai avançando”, afirma.

“Erro tático”

Já o debate sobre o aborto foi levantado de maneira inoportuna pelo ministro da Saúde, José Ramos Temporão, na avaliação dele.

“Foi um erro tático dos que são favoráveis à descriminação lançar justo no momento da visita do papa. Deveriam ter esperado um momento mais tranqüilo”, afirmou.

A socióloga Lucia Ribeiro, pesquisadora do Iser-Assessoria – uma ONG que desenvolve atividades para Igrejas cristãs e outras organizações – acha que, apesar da laicidade do Estado brasileiro, a Igreja “tem um peso enorme e vai tentar influenciar as decisões”.

“A Igreja tem uma função importante no sentido de apontar valores éticos que são valores humanos e atingem não só seus fiéis, mas todos os seres humanos”, diz ela.

Ela acredita que o Estado e a Igreja no Brasil estão em sintonia, no momento, na prioridade aos pobres e na busca de justiça social.

Fonte: BBC Brasil

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