Todos os grandes jornais italianos desta quarta-feira condenaram firmemente os protestos de professores e estudantes que provocaram, nesta terça, o cancelamento de uma visita do pontífice à Universidade La Sapienza, de Roma.
O cancelamento da visita do papa, seria a vitória de “uma caricatura do laicismo (…), um laicismo radicalizante, sempre pronto a ser anticlerical, que quer unicamente ouvir suas próprias razões”, escreveu o “Corriere della Sera”, jornal de maior tiragem da Itália.
“Até ontem, a Itália era um país tolerante, onde a forte marca religiosa, cultural, social e a política do catolicismo coabitava com culturas e credos diferentes, garantidos pela autonomia do Estado republicano”, escreveu na primeira página Enzio Mauro, diretor do principal jornal de esquerda, o “La Repubblica”.
“Mas alguma coisa se rompeu, dramaticamente, sob os olhos do mundo (…) O papa, que é também o bispo de Roma, não pôde discursar na universidade de sua cidade, nesta Itália medíocre de 2008”, continuou Mauro, que fala de “um dia que ficará marcado na memória”.
“É uma dura prova para o laicismo na Itália”, escreveu o jornal “La Stampa”, que chama “as vozes do laicismo a se levantarem com clareza contra os contestadores” da universidade romana.
“Pobre igreja, pobre Itália”, afirmou o jornal de centro-direita “Il Giornale”, propriedade da família Berlusconi.
Ao protestarem contra a vinda do papa, os professores da universidade “cometeram um erro, demonstrando não crerem suficientemente no pluralismo”, disse, por sua vez, o jornal “Il Sole 24 Ore”.
O chefe da Igreja católica deveria tomar a palavra nesta quinta-feira diante de um auditório de professores e estudantes selecionados para a cerimônia de abertura do ano acadêmico.
Um grupo de professores e pesquisadores do departamento de física da universidade, assim como estudantes radicais protestaram durante dias contra a visita papal.
O medo de que pudesse haver distúrbios que constituíssem uma ameaça ao papa parece ter sido a origem do cancelamento da visita.
Papa teria dito em universidade que não queria “impor a fé”
O Vaticano divulgou ontem o discurso que o papa Bento XVI pretendia pronunciar durante sua visita à Universidade La Sapienza de Roma, que foi cancelada após os protestos de professores e alunos, e no qual afirmava que não buscava “impor a fé”.
No discurso, que o Vaticano enviou ao reitor da La Sapienza, o papa lembra que esta era a universidade dos pontífices e hoje “é uma instituição laica” com plena autonomia.
E conclui, lembrando que um papa que comparece a uma universidade “não vai tentar impor de forma autoritária a fé”, mas sua missão é “convidar sempre à razão, à busca da verdade, do bem, e de Deus”.
A visita foi cancelada após um total de 67 professores ter pedido sua anulação, por considerar o Papa um “obscurantista e porque em 1990 dizia que o processo da Igreja contra Galileu foi razoável e justo”.
No texto divulgado pelo Vaticano, Bento XVI explica que sua visita seria feita como “pastor da comunidade católica”, e que sua figura “se tornou cada vez mais uma voz da razão ética da humanidade”.
O pontífice explica em seu discurso que o papa “fala como representante de uma comunidade que guarda em si um tesouro de conhecimento e de experiência ética, que é importante para toda a humanidade”.
Em seu discurso, Bento XVI também admite que “várias coisas ditas pelos teólogos durante a história (…) se demonstraram falsas e agora confundem-nos”.
E acrescentava que “a mensagem cristã, segundo suas origens, tem que ser sempre um empurrão rumo à verdade e uma força contra a pressão do poder e dos interesses”.
No texto não existem referências ao tema da inauguração do ano acadêmico, que era os direitos humanos e a pena de morte, e Bento XVI prefere fazer um repasse sobre a missão do papa e o papel da universidade.
Ele também teria feito uma referência a que “o perigo do Ocidente” é que “se renda perante os assuntos da verdade” e “ceda perante a pressão dos interesses”.
Fonte: EFE